Agnes Danrlei Santos Nascimento, apontado como um dos atiradores que matou duas crianças durante uma festa de aniversário no Bairro Areias de Baixo, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em 23 de maio deste ano, foi preso na tarde deste sábado (24/8). A detenção aconteceu na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, pela Polícia Militar de Minas Gerais, em parceria com a corporação do estado vizinho. Biscoito, como é conhecido, é um dos oito indiciados por homicídio qualificado.
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Na ocasião, Heitor Felipe Moreira de Oliveira, de 9 anos, e Laysa Emanuele, de 11, foram baleados por dois homens armados que invadiram o local onde acontecia a comemoração. Além das crianças, o pai do menino também morreu. Outras três pessoas ficaram feridas.
De acordo com a porta-voz da corporação, Major Layla Brunella, Agnes não resistiu à prisão. Layla também afirmou que havia um mandado de prisão em aberto contra ele. Até o momento, não há informações se o indiciado será transferido para uma unidade prisional de Minas Gerais. A decisão ficará a cargo da Justiça e do Ministério Público de Minas Gerais.
“O serviço de inteligência da Polícia Militar, juntamente com os militares das regiões onde aconteceu o fato e também de onde esses possíveis autores residiam, iniciou todo um trabalho de levantamento de informações levando essas informações à diretoria de inteligência e isso culminou em uma operação no estado do Espírito Santo”, explicou a major.
Os homens apontados como mandantes e executores do ataque são: Flávio Celso da Silva, vulgo “Alemão”; Leandro Roberto da Silva, o “Beirola”; Fabiano Alves Campos, o único que não tem apelido; Agnes Darnlei Santos Nascimento, o “Biscoito”, e Marcelo Alves Rodrigues, que tem duas alcunhas, “Tio Gordo” e “Bola Sete”. Entre os cinco, dois seriam mandantes e três, executores.
Dos apontados como responsáveis, além de Agnes, três estão presos. Dentre eles está um mandante, que já estava detido na Penitenciária Nelson Hungria, um atirador - detido em flagrante no dia dos fatos, e uma mulher que teria passado informações sobre a festa. Os demais estão foragidos.
A mulher foi identificada como Ivone Silva de Almeida, de 42 anos. Ela foi presa em Vespasiano, também na Grande BH, em 9 de julho deste ano, pela PMMG. Aos policiais, ela negou envolvimento no crime. No entanto, conforme o delegado Marcus Rios, as apurações indicam que ela tinha um atrito pessoal com o pai do pequeno Heitor, mas, mesmo assim, era amiga da esposa dele. “Essa mulher é uma pessoa de boa circulação na região do Morro Alto, tanto com as vítimas quanto com os mandantes. Ela foi ouvida e negou os fatos, mas as provas dos autos não deixam dúvidas”.
O crime
A chacina aconteceu no fim da festa de aniversário de Heitor Felipe e sua irmã. Izaltina Luciana Moreira, mãe e avó de duas vítimas, conta que dois homens aproveitaram que o portão do sítio estava aberto e entraram no local, já disparando as armas, “sem olhar em quem estava atirando”. O pai dos aniversariantes foi atingido pelo menos doze vezes por disparos e morreu no local.
Além de Felipe, Heitor e Laysa, outras três pessoas foram baleadas e encaminhadas a uma unidade de saúde, entre elas uma adolescente, de 13 anos, atingida na canela; uma jovem, de 19, ferida nas nádegas; e uma mulher, de 41, baleada nas costas e na cintura. Ontem, o delegado do caso informou que a mulher ainda está internada e que o estado de saúde dela é “delicado”.
Horas depois do ataque, o homem de 23 anos, reconhecido pelas testemunhas, deu entrada em uma Unidade de Pronto Atendimento, em Contagem, com ferimentos de disparos de arma de fogo no joelho, tórax e quadril. A polícia acredita que o suspeito foi atingido pelo próprio comparsa durante a luta corporal com as mulheres que tentaram impedir o ataque.
O suspeito foi transferido para o Hospital Municipal de Contagem, onde segue internado sob escolta policial. Na época, por meio de nota, a Polícia Civil informou que o suspeito detido foi autuado em flagrante por triplo homicídio qualificado, e recolhido no sistema prisional onde encontra-se à disposição da justiça.
Mortes encomendadas
Durante a conclusão do inquérito, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que a morte de Heitor Felipe e Laysa Emanuelle teria sido encomendada por um traficante de dentro da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. De acordo com o delegado Marcus Rios, a execução foi motivada pela disputa por um ponto de venda de drogas no Bairro Morro Alto.
Em coletiva de imprensa, o responsável pelas investigações explicou que o homem que participou da organização da emboscada, de dentro da cadeia, foi expulso do esquema criminoso de Vespasiano há alguns anos e que, desde então, tinha vontade de voltar para a região. Do outro lado, o alvo principal dos ataques, Felipe Moreira Lima, pai do aniversariante, liderava um ponto de venda de entorpecentes na Grande BH, tinha uma desavença com outros traficantes do bairro e, desde então, estava sendo ameaçado.
Conciliando os interesses dos desafetos e do traficante detido em Contagem, os homens decidiram matar Felipe. “Com a morte do alvo principal, esses indivíduos esperavam que essa pessoa que havia sido expulsa da região alguns anos atrás poderia retornar assumindo uma liderança do tráfico em um determinado ponto do Morro Alto”, afirma Marcus Rios.
Ainda segundo as investigações, a morte das crianças não foi um “acidente” e sim o objetivo dos atiradores e dos mandantes. No plano de execução, os homens decidiram fazer o maior número de vítimas para passar um “recado” e que, eventualmente, houve alguma resistência por parte dos demais criminosos. “Todas as informações apontam que o crime foi praticado visando não só matar o alvo, que era o pai do aniversariante, mas também outras pessoas que estavam na festa, incluindo as crianças”, disse o delegado.
A premeditação do ataque foi gravada pelos próprios suspeitos. Nas imagens, feitas dentro de um carro, quatro homens passam pela rua onde acontecia a comemoração e debatem se ali seria o local onde o alvo estaria. Ao se aproximar do sítio, o motorista do veículo aponta para a decoração do local: “Cheio de serpentina lá.” Em seguida, o carona, que está fazendo as imagens, afirma que aquele era o lugar da festa: “Fechou, cheio de menino.”
Os atiradores foram reconhecidos pelos participantes da festa e seriam próximo às famílias das vítimas. A informação foi confirmada pela mãe de Heitor Felipe Moreira de Oliveira na época do crime. Pelas redes sociais, Evelen Eduarda afirma que os homens eram amigos da família. Em uma das publicações, a viúva publicou uma foto de quem seria um dos atiradores abraçado com Heitor Felipe, ainda bebê.
“Quem matou o sonho do meu filho eram pessoas que abraçavam ele, o pai dele e o pai da minha sobrinha. Pessoas que falavam que podia-se sempre contar com eles. Que se passam de bom para todos, falam que ajudam em tudo”, escreveu Evelen.