Na igreja Padre Eustáquio, no bairro que leva o mesmo nome, em Belo Horizonte, há dezenas de imagens, livros e publicações que integram o acervo do beato no Brasil

 -  (crédito: Túlio Santos/em/d.a press)

Na igreja Padre Eustáquio, no bairro que leva o mesmo nome, em Belo Horizonte, há dezenas de imagens, livros e publicações que integram o acervo do beato no Brasil

crédito: Túlio Santos/em/d.a press

 

Um filme de meados da década de 1930, recém-descoberto na Holanda, contém cenas inéditas – e possivelmente as únicas existentes – de momentos na vida do beato Padre Eustáquio (1889-1943) em Minas Gerais, com destaque para Romaria, na Região do Alto Paranaíba, e São Paulo (Itaquera, na capital, Poá e São Miguel Paulista). Neste mês em que o religioso em processo de canonização é festejado, com o ponto alto no próximo dia 30, o Estado de Minas apresenta, com exclusividade, algumas das imagens descobertas no Institute for Image & Sound (um museu audiovisual), da cidade de Hilversum, solo holandês.

 


Na manhã da próxima terça-feira (27), o filme será disponibilizado nas redes sociais da Causa de Canonização do Beato Padre Eustáquio e no Portal UAI. O material com duração de 10 minutos e sem som, cujos quadros (“frames”, em inglês), são publicados nesta edição, integra a monumental documentação que dá sustentação à causa de canonização – para que ele seja declarado santo, falta apenas a comprovação, pela Santa Sé, de um milagre alcançado por sua intercessão. O missionário aparece em 3 minutos da película. A festa do próximo dia 30, na capital mineira, tem, desta vez, um significado especial: será dada a largada para a comemoração, em 12 de maio de 2025, do centenário de chegada de Padre Eustáquio ao Brasil, onde ficou por 18 anos.

 

 


Para quem só viu até hoje as imagens do funeral em BH, as cenas do missionário em movimento despertam curiosidade e emoção, numa fascinante viagem pelo tempo. Em Romaria (antiga Água Suja), na Região do Alto Paranaíba, onde viveu por quase uma década, ele está parado ao lado de um carro atolado na lama da estrada. Enquanto os passageiros aguardam socorro para seguir adiante, um sacerdote da Congregação dos Sagrados Corações (SSCC), a mesma de Padre Eustáquio, parece encontrar na oração a melhor saída.

 


Em Itaquera, na capital paulista, Padre Eustáquio aparece acompanhado de crianças, na escadaria da Igreja Nossa Senhora do Carmo. Na época, a localidade pertencia à Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, de Poá, onde Padre Eustáquio era o pároco. Já em Poá, na Região Metropolitana de SP, o beato nascido Hubbertus van Lieshout, em Aarle-Rixtel, no Sul da Holanda, se mostra em dois momentos. No primeiro, acompanha um enterro e dá a bênção, enquanto no outro surge ao lado de colegas diante da casa paroquial da Igreja Nossa Senhora de Lourdes. Já em São Miguel Paulista, conversa, sentado, com um padre e um paroquiano, perto de uma criança, durante visita à igreja local.

 

 

HISTÓRIA E EMOÇÃO

 

Para o vice-postulador da Causa de Canonização do Beato Padre Eustáquio, padre Vinícius Maciel, da Congregação dos Sagrados Corações (a mesma do religioso holandês), trata-se grande descoberta nos aspectos histórico, investigativo, devocional e afetivo. “Até hoje, não tínhamos um vídeo no qual Padre Eustáquio estivesse atuando, onde pudéssemos ver seus gestos, sua forma de estar com as pessoas, manifestando a piedade e demonstrando o cuidado com os pobres”, observa o vice-postulador.

 


Também em Poá, o holandês está entre “amigos de hábito” e junto de meninos e meninas, no jardim da casa paroquial. “Sou filho de uma família que era vizinha de Padre Eustáquio, e todos sempre falavam do carinho e da proximidade deles com as crianças”, afirma o padre, lembrando ainda a questão afetiva. “Cada imagem toca nosso coração, pois sentimos o padre atuando, o que nos causa profunda emoção. Continuamos a investigação para ver se encontramos um filme com a voz do Padre Eustáquio, o que ainda não temos”.

 


Do ponto de vista investigativo e histórico, acrescenta, o material descoberto representa muito para as pesquisas visando a canonização. “É um registro não só da vida do Padre Eustáquio, mas também do contexto, das circunstâncias, das condições e situação socioeconômica das pessoas da periferia de Poá, onde ele trabalhava. Um registro histórico de hábitos e costumes. Tudo isso nos comove diante do ‘Bondoso Padre Eustáquio’, como diziam os mais velhos’”. Os filmes em 16 milímetros foram encontrados pelo sobrinho do beato, Will van den Boomen, residente na Holanda e presente em BH, todo mês de agosto, ao lado de familiares, para as solenidades em homenagem ao beato, no Santuário Arquidiocesano da Saúde e da Paz (conhecida por Igreja Padre Eustáquio), no Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste da capital. Uma das hipóteses para os vídeos estarem na Holanda é que podem ter sido enviados, pela congregação, aos parentes dos religiosos, pois todos vieram desse país europeu.

 

O sobrinho de Padre Eustáquio, Will van den Boomen, diante da casa onde o beato nasceu. No detalhe, uma vela, os tamanquinhos holandeses e a figura dele ao fundo

O sobrinho de Padre Eustáquio, Will van den Boomen, diante da casa onde o beato nasceu. No detalhe, uma vela, os tamanquinhos holandeses e a figura dele ao fundo

Reprodução

 


Junto a padre Vinícius, que faz pesquisas no Brasil e na Holanda, e do sobrinho Will, que encarregou, no seu país, da digitalização dos filmes da década de 1930, há uma equipe a postos na busca por documentos, cartas, vídeos e objetos referentes ao candidato à canonização. Estão nesse grupo Leandro Castro, formado em ciências da religião, e Marcelo Silveira, assessor de comunicação da Causa de Canonização.

 


Conforme a Causa de Canonização, os vídeos estão, agora, junto aos demais materiais separados e catalogados, que estão sendo disponibilizados, aos poucos, para pesquisas e apreciação popular no Museu Padre Eustáquio, anexo ao santuário (Rua Padre Eustáquio, 2405, em BH.

 

Cenas inéditas, possivelmente as únicas, mostram o religioso no Alto Paranaíba, em Minas e São Paulo. Na foto, ele abençoa a comunidade e acompanha um enterro

Cenas inéditas, possivelmente as únicas, mostram o religioso no Alto Paranaíba, em Minas e São Paulo. Na foto, ele abençoa a comunidade e acompanha um enterro

Reprodução

 

Na foto, o padre abençoa a comunidade e acompanha um enterro

Na foto, o padre abençoa a comunidade e acompanha um enterro

Reprodução

 

AMBIENTE SAGRADO

 

A equipe do EM assistiu aos filmes na sala ocupada, pela Causa de Canonização, no Santuário Arquidiocesano da Saúde e da Paz. O “clima” ficou mais completo, pois há, no espaço, objetos litúrgicos e paramentos com o toque de Padre Eustáquio.

 

 


Nas prateleiras de uma estante, podem ser vistos cálices, patenas, imagens, sapatos, quadros e até uma pintura, a Sagrada Face, feita, numa fronha, pelas mãos do próprio Padre Eustáquio, para uma cerimônia de Semana Santa.

 


Na reserva técnica, os olhos atentos admiram os paramentos do religioso, a exemplo de casula (veste litúrgica tradicionalmente confeccionada em seda ou damasco), estola romana, capa e o barrete (chapéu preto).

 


Sobre uma mesa, há várias caixas contendo documentos e registro de graças alcançadas por intercessão de Padre Eustáquio.

 


Já no Memorial de Padre Eustáquio, na parte externa do Santuário Arquidiocesano da Saúde e da Paz, os devotos rezam e deixam mensagens pedindo graças ou agradecendo pelas alcançadas. Natural de Araxá, na Região do Alto Paranaíba, a aposentada Dilza Maria da Paixão, moradora do Bairro Padre Eustáquio, conta que seus pais conheceram o beato, nas idas a Romaria, para a festa de Nossa Senhora da Abadia.

 

 


Também em preces, Maria do Carmo Magalhães Otoni, moradora do Bairro Colégio Batista, na Região Leste, disse que sua mãe, Laura Peixoto Magalhães, conheceu o beato em BH. “Meu casamento foi feito pelo padre Gonçalo Belém”, orgulhou-se Maria do Carmo, em referência ao padre que foi curado de um câncer na garganta. Esse primeiro milagre, reconhecido pelo Vaticano, garantiu a beatificação, realizada em cerimônia em 15 de junho de 2006, no estádio do Mineirão, em BH. Padre Gonçalo Belém morreu um ano depois, aos 83 anos. “Também assisti a muitas missas celebradas por ele”, acrescentou Laurita Jesus Godinho Alves, aposentada, moradora do Bairro Colégio Batista. 

 

 

PROGRAMAÇÃO

 

l FESTA DE PADRE EUSTÁQUIO
l No Santuário Arquidiocesano da Saúde e da Paz (Igreja Padre Eustáquio), na Rua Padre Eustáquio, 2.405, na Região Noroeste de BH
l Até dia 29/8 – a partir das 18h15, Terço pela canonização, missa (19h) e novena
l Dia 30/8 – Dia do Beato Padre Eustáquio
l Missas às 5h, 6h, 7h, 9h, 11h, 13h, 15h e 17h.
l Às 8h e 18h, Terço pela canonização
l Às19h, missa solene seguida de procissão

 

LINHA DO TEMPO

 

A SERVIÇO DE DEUS E DOS BRASILEIROS

 

l 1890 – Em 3 de novembro, Hubbertus nasce em Aarle- Rixtel, na Holanda. Para a vida religiosa, na Congregação dos Sagrados Corações, recebe o nome de Eustáquio.
l 1913 – Entra para o noviciado da congregação dos Sagrados Corações (SS.CC)
l 1919 – Em 10 de agosto, recebe ordenação sacerdotal, e, cinco dias depois, celebra sua primeira missa.
l 1925 – Parte para o Brasil como missionário, sendo acolhido inicialmente no Rio de Janeiro. Em 15 de junho, com outros padres da SS.CC, chega a Água Suja, atual Romaria, na Região do Alto Paranaíba), onde fica por quase 10 anos.
l 1935 – Em de fevereiro, Padre Eustáquio se torna pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, em Poá (SP).
l 1936 – Depois de uma viagem à Europa, retorna a Poá trazendo consigo a água, considerada milagrosa, da gruta de Nossa Senhora de Lourdes, na França.
l 1941 – Deixa Poá para viver um exílio. Passa por São Paulo (SP) e interior do estado; retorna a Minas (Araguari, Monte Carmelo, Coromandel e Araxá); retorna a SP e vai para o Rio de Janeiro.
l 1942 – Em 2 de abril, Padre Eustáquio chega a Belo Horizonte, onde fica por pouco mais de um ano e quatro meses. Em 8 de abril, toma posse como vigário da Paróquia São Domingos, onde hoje é o Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste. O então prefeito de BH, Juscelino Kubitschek (1902-1976), doa terreno para construção da nova matriz, mais conhecida como Igreja Padre Eustáquio.
l 1943 – Em 25 de agosto Padre Eustáquio é internado, após ser picado por um carrapato. Em 30 de agosto, morre no Sanatório Minas Gerais (atual Hospital Alberto Cavalcanti), na capital. Em 31 de agosto, os restos mortais são conduzidos para o Cemitério do Bonfim. Seu túmulo se torna lugar de preces e devoção.
l 1949 – Em 31 de janeiro, ocorrem a exumação e o traslado dos restos mortais para a capela mortuária, na entrada da Matriz dos Sagrados Corações, hoje Igreja de Padre Eustáquio.
l 1956 – Em 5 de fevereiro, com a fama de santidade se propagando, há o início dos trabalhos preliminares para instauração do processo de canonização de Padre Eustáquio.
l 2003 – Em 12 de abril, o papa João Paulo II aprova e publica oficialmente o decreto sobre a heroicidade das virtudes de Padre Eustáquio. O Servo de Deus se torna Venerável Padre Eustáquio.
l 2005 – Em 19 de dezembro, o papa Bento XVI autoriza a publicação do decreto reconhecendo um milagre atribuído por intercessão de Padre Eustáquio. Padre Gonçalo Belém é curado de um câncer na garganta.
l 2006 – Em 15 de junho, Padre Eustáquio é beatificado, em cerimônia no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte.
l 2007 – Em 26 de agosto, há o traslado dos restos mortais do beato para o novo memorial do santuário.