Proprietários de reboques protestam em frente ao 3º Tribunal do Júri, no Fórum Raja Gabaglia, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, onde acontece o julgamento do delegado Rafael de Souza Horácio, nesta terça-feira (27/8). O servidor público é acusado de matar Anderson Cândido de Melo durante uma discussão de trânsito em 26 de junho de 2022, na Avenida do Contorno, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
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Com dezenas de caminhões estacionados na porta do fórum e ocupando uma pista da Avenida Raja Gabaglia, amigos e familiares de Anderson pedem por justiça. O ato contou com cerca de 10 caminhões-reboque. Mais cedo, antes da audiência começar, Denise Mello, viúva da vítima, e as duas filhas do casal vestiam camisas com os dizeres: “eterno Saracura”, em alusão ao apelido que tinha, e “legítima defesa não é crime”, em alusão à tese apresentada pela defesa do acusado.
Denise considera que é bom estar no Fórum, pois está lutando por justiça, “mas, ao mesmo tempo, é relembrar um momento muito doído e que não termina nunca, mas estou aqui para lutar e fico feliz por isso”.
Ela fala que o marido estava trabalhando para garantir o sustento da família. Lembra que mora de aluguel e que somente conseguiu sobreviver até agora com a ajuda de amigos, por meio de uma vaquinha, o que permitiu pagar as contas e comer.
“Agora, recebo uma ajuda da justiça, que muito tem nos ajudado e espero que continue assim, condenando o autor da morte do meu marido”, diz Denise. “Dinheiro não traz felicidade, mas traz solução”.
A viúva ressalta que nesse um ano e pouco da morte do marido é como se a sua vida tivesse parado. “Não tem muito mais sentido, mas estou aqui em busca de justiça. Ninguém tem o direito de tirar a vida de outra pessoa, pois quem controla a vida, é Deus”. O tempo todo, a viúva esteve amparada pelo advogado da família, Raphael Nobre, que atua como assistente de acusação.
Defesa
O advogado Fernando Magalhães, que defende o delegado, alega que seu cliente matou em legítima defesa pois estava ameaçado, e que o tiro foi disparado quando o seu carro levou um tranco, dado pelo caminhão.
“Foi o avanço do caminhão que acabou provocando o disparo. Somente depois desse tranco houve o disparo”, diz ele.
O advogado falou também sobre um caso do passado do delegado, quando ele estava no interior e tentou contra a vida de uma outra pessoa. “Não é um caso semelhante, tanto que ele foi absolvido. Foi um disparo a esmo e não houve vítima”.
Relembre o caso
No dia do crime, o delegado Rafael de Souza Horácio, que estava em uma viatura descaracterizada juntamente com outro policial, alegou que Anderson o “fechou” com seu caminhão por duas vezes causando perigo para quem trafegava na via e que, posteriormente, teria jogado o veículo na direção do delegado, que havia descido do carro, e da viatura.
Rafael disse, então, que ele e o outro policial presente exigiram que Anderson Melo descesse do veículo, mas que o motorista não acatou a ordem e acelerou na direção deles. O delegado então sacou a arma e atirou contra o pára-brisa do caminhão, acertando Anderson no pescoço.
O motorista foi socorrido e passou por cirurgia, mas morreu no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII.
Apesar da alegação do delegado, a juíza sumária do 1º Tribunal do Júri de BH, Bárbara Heliodora Quaresma Bomfim, destacou a “irracionalidade e violência do crime apurado” e do autor ser uma “autoridade pública”.
Além disso, Rafael de Souza Horácio conta com 16 registros por infrações penais e administrativas na Corregedoria-Geral da Polícia Civil.
A Polícia Civil de Minas Gerais informou que durante o tempo em que estiver respondendo ao processo, o delegado está afastado de suas atividades, mas permanece como servidor do estado.