O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) assina acordo que vai repassar R$1,1 milhão para promover sustentabilidade em Belo Horizonte. A cerimônia ocorre nesta sexta-feira (2/8) na sede da Associação dos Catadores de Papelão e Material Reaproveitável (Asmare), onde catadores manifestaram o desejo por melhorias na profissão.
"É o sonho de todos nós catadores que dependem disso aqui, uma reforma. Ter máquinas melhores porque a gente fazia tudo no braço. A gente puxava tudo na força, tanto homem quanto mulher. Só criança que a gente nunca permitiu [puxar peso]", conta Jadir Pereira dos Santos, catador desde os 6 anos.
Com 28 anos de profissão, Jadir sonha com mais equipamentos que possam otimizar o tempo e a função braçal de trabalhar com reciclagem. Segundo o catador, ele e os colegas de profissão fazem o trabalho feliz ao longo da semana.
"A gente recebe doações do país todo e se precisar de ir no caminhão, a gente vai. Se precisar de carrinho na peça ou precisar buscar na rua de carrinho, a gente vai também em toda cidade. Qualquer lugar de toda a cidade. Ligou para nós, a gente vai", conta.
No entanto, a desvalorização da atividade e o baixo valor do material tem sido a maior dificuldade para os catadores. Atualmente, em um mês, os profissionais que atuam na Asmare recebem cerca de R$800, valor mais baixo do que um salário mínimo. Fora da associação, o preço pelos materiais é ainda mais baixo, segundo Jadir.
"A dificuldade nossa aqui é o preço que está 'menos', que dá pouco pelo serviço que a gente faz para ajudar o estado porque se não é o catador, quem é que recicla esses materiais?", comenta Jadir.
Incêndio em 2020
Um incêndio de grandes proporções causado por um curto-circuito destruiu, em 2020, um dos galpões da Asmare, em Belo Horizonte, além de queimar mais de 5 toneladas de recicláveis. Desde então, os catadores lutam para reestruturar o local.
"Fizeram uma bagunça, quebraram muita coisa e nós estamos aqui tentando arrumar. É uma luta. Dificultou muito [nosso trabalho] porque queimou a área que a gente mais usava e hoje em dia nós não usamos mais porque não tem como passar para lá. Queimou o concreto, queimou a estrutura, então para ficar trabalhando lá, a gente corre risco até de desabafar em cima da gente", relata Jadir.
A catadora e uma das fundadoras da Asmare, Maria das Graças Marçal, conhecida como Dona Geralda, que começou a vida reciclando material aos 8 anos, ressalta a capacidade de resiliência dos catadores, mesmo diante de tantas dificuldades. "A gente está sempre ressurgindo das cinzas. Sempre!". Para ela, a reciclagem gera emprego, saúde e sustentabilidade.
"Estamos fechando essa parceria para vir equipamentos para nós, como caminhões, prensa, balança. A gente vai começar a vida nova na Asmare, que está sucateada. A expectativa é que até 2030 haja essa melhora e até antes", comemora a fundadora.
Investimento
O termo de fomento com o Instituto Nenuca de desenvolvimento Sustentável (Insea/MG), que prevê R$ 1,1 milhão, é assinado pelo ministro da pasta, Silvio Almeida e o secretário Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Bruno Renato Teixeira, nesta sexta (2).
O objetivo é fortalecer o trabalho de catadores de materiais recicláveis da capital mineira, além de promover a sustentabilidade dos processos produtivos e a geração de renda dos catadores de recicláveis. A destinação dos recursos foi celebrada na Asmare.
Em coletiva de imprensa, o ministro Silvio Almeida ressaltou a importância do investimento para a categoria, que ainda é desvalorizada no Brasil. Para ele, o fomento é um passo importante para melhor a situação da profissão e o trabalho digno no país.
"Os catadores fazem um trabalho excepcional, que é um trabalho que deve ser tratado com todo o respeito, que deve ser remunerado. A luta que eles fazem para ser considerados como trabalhadores com direitos, é fundamental", disse o ministro.
O responsável pela pasta reforça que a expectativa é que haja uma política integral para os catadores, pois é muito importante para o meio ambiente, já que contribui para diminuir os impactos das mudanças climáticas.
"Acho que esse é um passo para ajudar na atividade e fortalecimento deles, mas, agora, acho que o próximo passo é que eles sejam inseridos também numa dinâmica do trabalho decente, que eles tenham direito à previdência, que eles tenham todos os direitos que são processados os trabalhadores brasileiros. Esse dinheiro, por exemplo, é um edital que foi feito para que a gente possa ajudar, como eu falei, para que as atividades sejam potencializadas. Mas esse foi o primeiro passo", conclui Almeida.
A destinação dos recursos integra o “Plano Ruas Visíveis - Pelo direito ao futuro da população em situação de rua”, resultado de um edital de chamamento público, lançado no início de 2024. Participaram da seleção organizações da sociedade civil sem fins lucrativos que se dediquem a atividades de interesse público e cunho social.