A descoberta de um câncer marca o início de um momento delicado na vida de qualquer pessoa. A luta pode ser exaustiva, mas quando se tem apoio, a situação fica um pouco mais leve. Esse é o propósito do Lar Teresa de Jesus, que há 25 anos acolhe pacientes oncológicos, de diversas localidades e em situação de vulnerabilidade, para tratamento em Belo Horizonte.


Atualmente, o Lar conta com 70 leitos para acomodar pacientes e seus acompanhantes divididos em duas casas de apoio no Bairro Prado, Região Oeste da capital. São recebidas apenas pessoas encaminhadas pelas secretarias de saúde de suas cidades de origem. Desde sua fundação, já foram atendidas mais de 27 mil pessoas de 700 municípios. Somente no mês de junho, foram 190 acolhidos. Além da hospedagem, no local também são oferecidas refeições, transporte aos hospitais, oficinas de artesanato, atendimento psicológico e outras atividades. 

 




A casa de apoio se sustenta majoritariamente de doações, tanto de pessoas físicas quanto jurídicas, mas também conta com projetos contemplados por emendas parlamentares e da renda gerada pelos quatro bazares do Lar. Para além dos gastos com alimentação, manutenção dos espaços, e com a equipe, a maior parte da verba é gasta com o aluguel dos imóveis. 


“O nosso desejo é ter uma sede própria para que a gente não precise mais gastar esse dinheiro com os alugueis, porque esse valor poderia ser revertido para atender o nosso acolhido da melhor forma possível”, afirma Carla Araújo, gestora da casa e neta da fundadora.

 


Carla também aponta que as casas que ocupam hoje são antigas e, por isso, também necessitam de reparos constantes, como no sistema elétrico ou hidráulico. Caso não consigam uma nova sede, o plano é conseguir padrinhos que ajudem nas despesas dos alugueis. 


 

Uma história de fé


O Lar Teresa de Jesus surgiu da vontade de Magdalena de Araújo, à época com 70 anos, de ajudar as pessoas que moravam no interior e vinham a Belo Horizonte fazer tratamento de câncer, mas não tinham onde ficar. Em 1999, então, surgiu a casa de apoio com apenas 20 leitos. 


O nome é uma homenagem à Santa Terezinha do Menino Jesus, uma freira carmelita que viveu no fim do século XIX e que dedicou sua vida à santidade presente nos pequenos gestos. Ela faleceu precocemente aos 24 anos e se tornou uma das santas mais populares da Igreja Católica.

 


“Uma vez eu perguntei para minha avó a respeito do nome da casa. Ela explicou que Santa Terezinha chamava a atenção pela simplicidade, pelo zelo e pelo carinho com o qual ela tratava as pessoas e foi isso que minha avó falou que queria aqui dentro da instituição, tratar os pacientes com os mesmos valores”, relembra Carla.


A fundadora, que é muito religiosa, diz como a fé a ajudou em um momento de dificuldade. Logo no início do projeto, avisaram a ela que não havia mais leite e também não havia dinheiro para comprar mais. Ela disse à equipe: “Vamos trocar o medo pela fé!” e assim foi feito.


“Fui para a capela, e simplesmente disse a Ele: o Senhor me deu a coragem, a casa está aberta e eu estou aqui. O leite acabou. Providencie! Nesse mesmo dia, recebemos tantas doações de leite que até distribuímos para as creches! Isso me marcou demais!”, afirma.


Magdalena, hoje com 94 anos, segue à frente da instituição, acompanhando o dia a dia da casa, fazendo visitas periódicas e participando das reuniões. Hoje, o Lar Teresa de Jesus conta com duas casas de apoio, quatro bazares, seis automóveis e 42 funcionários.

 

 

“O importante, para mim, em primeiro lugar, é o Lar fornecer aos acolhidos a condição de fazer o tratamento na capital. Pacientes que vêm de tão longe e que são tão agradecidos pelo que fazemos por eles. Em segundo lugar, é ver o Lar dando empregos para tantas pessoas. Gerar empregos! Isso me deixa muito satisfeita, muito feliz!”, declara Magdalena.


Um lar fora de casa


Lar Teresa de Jesus, casa de apoio em Belo Horizonte a pessoas que vem do interior para tratamento de câncer na capital.

Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press

 

Para maior comodidade dos acolhidos, a casa disponibiliza roupas de cama, cobertores e travesseiros, assim como seis refeições por dia. Mas o principal é o apoio e acolhimento oferecidos para aqueles que passam por uma situação tão difícil.


Ali, os pacientes encontram uma rede de apoio composta não apenas pela equipe da casa, mas também pelo compartilhamento entre os próprios acolhidos, que compreendem o momento de vida uns dos outros. “Existe um fortalecimento mútuo muito grande, isso é muito perceptível”, afirma a gestora. 


“Às vezes são pessoas que nunca saíram de suas casas e muitos moram em área rural. Então sair de uma área rural e vir para Belo Horizonte, para uma cidade grande, já é impactante, e fazer esse movimento sozinho é uma jornada difícil para eles”, explica Carla.


A professora Maria Reinalda, natural de Almenara, no Vale do Jequitinhonha, está fazendo tratamento de um câncer na parótida esquerda. Há três meses, em períodos de tratamento, ela frequenta a casa. Na próxima segunda-feira (5/8), ela vai a uma consulta para apresentar exames ao médico e volta para sua cidade natal. Seu retorno para o Lar já está agendado para o dia 22 de agosto.


“Aqui é um lugar maravilhoso para ficar e muito acolhedor. Ficar aqui é praticamente ficar na casa da gente ou talvez seja até melhor, porque  no interior hoje, eu não tenho essa oportunidade de tratamento que tem aqui em BH e tem esse lugar que nos acolhe muito bem”, declara Maria.


Madalena Ribeiro da Cunha Cordeiro já frequenta a casa há um ano, chegando a ficar 96 dias consecutivos em acolhimento. Ela acabou de passar por uma mastectomia para retirada de um tumor na mama e se recupera sob os cuidados do Lar.


“Aqui é um lugar maravilhoso, melhor do que a casa da gente. Faz toda a diferença fazer o meu tratamento aqui, eu fiz a cirurgia e estou de repouso, realmente sem fazer nada. Todas as pessoas aqui são maravilhosas”, relata Madalena.

 

As doações para o Lar Teresa de Jesus podem ser feitas pelo link: larteresadejesus.org

 

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