Os motoristas de Belo Horizonte gastam o mesmo tempo para percorrer um congestionamento do que os moradores de São Paulo, a maior cidade da América Latina. Este dado faz parte de uma pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), divulgada nesta quarta-feira (7/8), que traça um perfil da mobilidade urbana em todo o país.
O levantamento, feito com dados da empresa de mapeamento de tráfego Tomtom, aponta que para percorrer um percurso de 10 quilômetros com o trânsito congestionado em BH gasta-se 57 minutos - o mesmo tempo que na capital paulista. À frente das duas cidades fica Recife (PE), onde se gasta um minuto a mais.
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No cenário de viagem ótima, quando o trânsito é menos intenso, os motoristas de Belo Horizonte levam 28 minutos para percorrer a mesma distância. Neste recorte, a capital mineira também figura nas piores colocações do ranking, à frente apenas de Curitiba (PR) e São Paulo (SP) e empatada com Fortaleza (CE).
O trânsito sobrecarregado da capital mineira torna as viagens dos passageiros de ônibus ainda mais exaustivas e demoradas do que a dos carros. Dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), apurados em 2022, indicam que para percorrer estes mesmos 10 quilômetros no horário de pico da tarde, os ônibus levam em média 40 minutos - em 2015, a mesma distância era percorrida em 37 minutos.
Uma das hipóteses para explicar este péssimo indicativo do trânsito nas capitais pode ser a queda de demanda do transporte público somada à priorização do transporte individual, seja por automóveis próprios ou por aplicativo.
Transporte público
O anuário da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), divulgado esta semana, mostrou que houve uma queda de 44% no número de passageiros do transporte público urbano nos últimos dez anos. Essa diminuição também foi significativa em Belo Horizonte, onde os passageiros transportados pelos ônibus por mês passaram de 37,3 milhões em 2014 para 22,9 milhões em 2023 - uma redução de 38%.
A substituição do transporte coletivo pelo transporte individual se acentuou nos últimos anos. Uma pesquisa amostral da CNT feita em 2017 revelou que 56% dos entrevistados não haviam substituído os ônibus por outros meios de transporte. Este ano, apenas 32% dos entrevistados responderam que não diminuíram o uso dos ônibus. Entre os principais meios de locomoção daqueles que trocaram os ônibus estão o carro próprio (38%), viagens a pé (19%) e transporte por aplicativo (18%).
Os principais causadores da debandada dos passageiros do transporte coletivo foram o pouco conforto (28%), a falta de flexibilidade de horários e rotas (20%) e o elevado tempo de viagem (20%). Entre as mudanças apontadas pelos entrevistados que os fariam voltar a usar os ônibus estão a diminuição da tarifa (21%), o aumento do conforto (19%) e maior rapidez nas viagens (19%) - contudo, 26% disseram que nada os faria voltar a usar o meio de transporte. Apesar da diminuição da demanda, os ônibus continuam sendo a única alternativa de locomoção disponível a 52,7% dos usuários de transporte.
Panorama
A edição deste ano da pesquisa amostral da CNT entrevistou 3.117 pessoas em 319 municípios, entre os dias 18 de abril e 11 de maio de 2014. O grau de confiança é de 95% e a margem de erro é de 1,8%. O objetivo do levantamento é traçar um panorama dos meios de locomoção e seus usuários em cidades com mais de 100 mil habitantes.
A diretora adjunta da Confederação Nacional do Transporte, Fernanda Rezende, explica que a pesquisa ajudou a quebrar um senso comum do setor que era de que os deslocamentos diminuíram com a pandemia. “A população continua se deslocando, mas os motivos mudaram. As pessoas saem menos para trabalhar e estudar e mais para tratamento de saúde e para fazer compras”.
De acordo com a diretora, é pouco provável que a demanda do transporte público volte para os patamares pré-pandemia no curto prazo. Contudo, medidas como a redução do valor das tarifas pela metade já seria suficiente para o retorno de 25% das pessoas que substituíram os ônibus por outros meios de locomoção.
Uma parcela dos passageiros, inclusive, estariam dispostos a pagar mais caro na passagem para viajarem somente sentados (57%), em ônibus de outras tecnologias menos poluentes (52%), em veículos com ar-condicionado (38%).
“A gente consegue perceber uma parcela significativa de pessoas que podem voltar para o transporte público se alguns pontos forem melhorados”, explica Fernanda.