Donos e funcionários do restaurante Farroupilha, localizado na Avenida Antônio Abrahão Caram, na Pampulha, em Belo Horizonte, acusam os fiscais de segurança do BH Stock Festival de procederem com truculência na manhã desta quinta-feira (15/8), primeiro dia de atividades na esplanada do Mineirão, onde acontece o evento. Um vídeo, feito no momento da confusão, mostra uma mulher, identificada como proprietária do restaurante Farroupilha Grill sendo segurada no chão por duas seguranças do evento. 

 

 

Geraldo Magela Batista, dono do Farroupilha e marido da vítima de agressão, afirma que, desde que soube que a avenida em frente ao estabelecimento seria fechada, pediu a organização da corrida para liberar a passagem pelo passeio. No entanto, nesta manhã, ele e alguns funcionários foram pegos de surpresa ao serem impedidos de acessar o local. 

 

 

Ao tentar conversar com os seguranças, a dona do restaurante foi imobilizada, jogada ao chão e atingida com spray de pimenta no rosto. “Eles impediram a gente de trabalhar, está tudo fechado. O restaurante está aberto com delivery. Nós pedimos para não fechar a calçada para ter algum tipo de acesso, mas não cumpriram com o combinado”, afirmou. 




 

Um funcionário do restaurante, que preferiu não se identificar, relatou que os fiscais já chegaram de forma agressiva. “Nós fomos perguntar [sobre o acesso] e eles já vieram gritando. Eu estava perto quando começaram as agressões e me puxaram pelo braço”, disse à reportagem.


A Polícia Militar foi acionada e um boletim de ocorrência foi registrado. A empresária agredida foi levada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com ferimentos na perna e pescoço. Além da truculência em que foram abordados, Geraldo Magela alega que agentes da Guarda Municipal que estava no momento da confusão não interviram na situação. 


“Eu tive que chamar a Polícia Militar porque os guardas municipais estavam praticamente fazendo a segurança do evento. Eles não tomaram providência nenhuma. Agora estou levando minha esposa para fazer o exame de corpo de delito”, disse. 


Polícia Militar foi acionada para registrar boletim de ocorrências depois de confusão entre empresários e seguranças do BH Stock Festival

Gladyston Rodrigues / EM / D.A Press


 

Providências 

Depois da confusão envolvendo a organização da Stock Car e empresários da região, uma diretora de fiscalização da Prefeitura de Belo Horizonte foi até o local e pediu aos seguranças que liberassem a passagem pelo passeio. À reportagem, os fiscais no local informaram que o acesso ao restaurante não estava impedido, apenas que deveria ser feito pela rua de trás.


 

No entanto, ainda conforme o dono do Farroupilha, mesmo com a liberação os seguranças têm abordado todos que passam e causado “constrangimento” em muitos clientes e prestadores de serviço. Enquanto conversava com o Estado de Minas, por telefone, o comerciante começou a discutir com uma pessoa da organização do evento afirmando que eles estariam restringindo o acesso que já havia sido liberado pela administração municipal. O mesmo foi constatado pela reportagem que, ao passar pelo local, encontrou um grupo de seguranças na porta do estabelecimento.


“Você está trazendo constrangimento para os meus clientes. Olha a barreira que vocês estão fazendo. Se a via é pública vocês não podem impedir a passagem de ninguém”, disse Geraldo à segurança. 


Mesmo após a liberação do acesso ao restaurante pela fiscalização da Prefeitura de BH, seguranças estão sendo acusados de abordar todos que passam e causado "constrangimento" em muitos clientes e prestadores de serviço

Gladyston Rodrigues / EM / D.A Press

 


Prejuízos

Desde terça-feira, a área próxima ao circuito da Stock Car está completamente bloqueada, com interdições nas pistas e restrições de estacionamento, gerando preocupações entre os comerciantes locais. O principal receio é que as medidas dificultem a chegada de clientes aos estabelecimentos da região e comprometam a renda durante esta quase semana de restrições.

 

Segundo Geraldo Magela Batista, dono do Farroupilha desde que as obras começaram ele e a esposa têm tido prejuízos. O restaurante foi inaugurado em 1984 e desde que mudou de endereço, saindo da Rua Gonçalves Dias, no Centro de BH, para a Região da Pampulha, tem atendido clientes que vão ao Mineirão durante eventos esportivos. 


 

“Isso que está acontecendo é um absurdo. Estou aqui há 40 anos gerando empregos e pagando impostos. Não teve nenhuma negociação com a prefeitura e com a organização. Quando soube do evento achei que seria bom para a gente e que traria público para o restaurante, mas eu não imaginava que eles fossem fechar o acesso”, disse o empresário à reportagem. 

 

Diogo Manfredini, proprietário do restaurante Bebedouro, na Otacílio Negrão de Lima, expressou sua frustração. "Os comércios próximos ao evento foram deixados de lado. Quando é dia de jogo e rola confusão não tem nada disso”, reclamando, inclusive, que a prefeitura e os organizadores do evento não deram nenhum suporte aos comerciantes da região.

 

O proprietário de um bar na Avenida dos Palmeiras, que optou por não se identificar após a confusão dos fiscais do evento com os donos do restaurante Farroupilha, também criticou a falta de apoio do poder público durante os dias em que os estabelecimentos ficarão praticamente fechados. "Deveríamos ter recebido prioridade em relação ao acesso para atividades de alimentação, uma vez que estamos sendo severamente prejudicados", afirma.

 

Contraponto

 

A reportagem procurou a administração da corrida para um posicionamento sobre os fatos. De acordo com Coronel Hércules, chefe da segurança do evento, os donos do estabelecimento teriam chegado ao local sem dialogar com os seguranças e “chutando” algumas estruturas metálicas que fazem parte do bloqueio de acesso.

 

Em determinado momento, ainda conforme relatado pelos responsáveis pela corrida, um dos empresários agrediu os seguranças. “A profissional que estava instalada no local tentou contê-los mas eles partiram para agressão física. E aí eles tiveram que ser contidos. A Guarda Municipal estava próxima do local veio para atuar mas, pelo que parece, eles insistiram nas agressões que estavam praticando até mesmo contra os agentes. Em momento algum eles tentaram dialogar, eles só queriam entrar”, disse Hércules.

 

Sérgio Sette Câmara, organizador do BH Stock Festival, lamentou o ocorrido e que a relação com os dois comerciantes tenha sido conflitante. Ele afirmou que desde o início do planejamento do evento tem dialogado com empresários do entorno do local da corrida e que teve sucesso com a maioria.

 

“Nós tivemos uma reunião com os donos do Farroupilha, junta com a nova associação de moradores que foi criada, e nessa oportunidade eu, inclusive, disse que após a corrida ele poderia se sentar com a gente que fariamos a análise do eventual prejuízo que ele tivesse tido dos dias de fechamento, para que a gente fizesse um ajuste e não o deixasse no prejuízo. Não entendi porque ele ficou alterado dessa forma, porque ele participou de todas as reuniões e ele me pareceu satisfeito”, afirmou Sette Câmara.

 

Já a PBH afirmou que as equipes de fiscalização já realizaram as adequações necessárias no local. “Agentes da BHTRANS e da Guarda Municipal estão desde a terça-feira (13/8) sinalizando e orientando os motoristas, pedestres, moradores e comerciantes na região das intervenções no entorno do Mineirão. As interdições estão previstas até às 22h de domingo (18). Faixas de panos nas vias e cartazes foram fixados nos pontos de ônibus informando das mudanças. Os motoristas podem utilizar o Waze e o Google Maps, que já estão informando as áreas interditadas e os desvios.”

compartilhe