Os casos de mpox em Belo Horizonte já superam os registros de todo o ano passado. Segundo dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) obtidos pelo Estado de Minas, a capital mineira confirmou 44 diagnósticos entre 1º de janeiro e 19 de agosto, contra 39 nos 12 meses de 2023. A predominância é do sexo masculino, com a faixa etária entre 18 e 39 anos.

 

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Já Minas Gerais está a um caso de igualar, em 2024, os diagnósticos confirmados com os de todo o ano passado. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), foram notificados neste ano 121 casos, 49 dos quais já estão confirmados. Porém, não houve registro de óbito por mpox, conhecida popularmente como varíola dos macacos. Em 2023, somaram-se 485 casos suspeitos no estado, sendo 50 confirmados, com um óbito.


No último dia 14 a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o cenário da doença no continente africano constitui emergência em saúde pública de importância internacional em razão do risco de disseminação global e de uma potencial nova pandemia. Esse é o mais alto nível de alerta da entidade.

 

 



 

O Brasil já registrou 709 casos e 16 mortes por mpox este ano. Apesar de uma variante mais perigosa estar circulando na África, o Ministério da Saúde avalia que o risco é baixo para o país.

 

Outra variante

Segundo o infectologista Leandro Curi, a emergência da OMS ainda não chegou por aqui. Isso porque, desde 2022, quando foi registrada a primeira infecção pelo vírus no estado, o único grupo viral presente é o 2, chamado pelos especialistas de “clado 2”. O vírus com as características desse sistema se apresenta na pessoa contaminada de forma branda e é pouco letal.

 

“A OMS se preocupa com o vírus do clado 1B, que é altamente letal e está se espalhando pelo continente africano. Essa doença existe há décadas na República do Congo e é endêmica na região, mas pode chegar ao Brasil assim como aconteceu com a outra variante em 2022”, explica Curi.

 

Para o infectologista, o aumento de casos do Clado 2 em Belo Horizonte pode estar relacionado à baixa cobertura vacinal ou a uma subnotificação no ano passado. “É um número preocupante e merece a atenção do poder público. É necessário ampliar a vacinação e preparar os aeroportos com testes e outras medidas de segurança”, aponta.

 

Segundo ele, o público contaminado segue o mesmo padrão verificado em 2022, com predominância de homens que fazem sexo com outros homens. Entretanto, explica, “ao contrário do que o senso comum diz, mpox não é uma infecção sexualmente transmissível. Não é um vírus sexual, é um vírus de contato. Um beijo na bochecha pode transmitir”, esclarece o infectologista.

 

Apesar da baixa taxa de mortalidade, a doença pode ser grave para quem tem imunodeficiência. “Mpox é mais complicado que a COVID-19 porque não é transmitida por gotículas, então a prevenção não é simples como usar a máscara. Ela pode ser transmitida pelo contato pele com pele e fluídos corporais, por exemplo. Se a pele contaminada com lesão encosta na pele saudável, ela contamina”, detalha Curi.

 

O especialista afirma que a vacina utilizada para varíola até os anos 1970 atua como imunizante contra a mpox. “Quem já se vacinou, quem já teve a doença e quem tomou a vacina da varíola nos anos 1970 pode estar imune, no último caso por uma imunização cruzada”, pontua.

 

Vacina mineira

A boa notícia é que em breve o Brasil terá uma vacina nacional feita em Minas Gerais, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O coordenador do CT Vacinas, professor Ricardo Gazzinelli, estima que o imunizante contra a doença deve ficar pronto até 2026. “Eu acredito que ela tem tudo para ser produzida no Brasil de forma independente. É uma vacina nossa”, afirma.

 

Gazzinelli explica o processo de produção da vacina. “Evoluímos no processo de produção, auditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Estamos trabalhando agora para a estabilidade e controle de qualidade rigoroso da vacina. A vacina é viral, crescida em cultura, mas utiliza células embrionárias de ovo de galinha. Estamos bem próximos de avançar para o ensaio clínico humano”.

 

“Nós já fizemos estudos pré-clínicos e a vacina funciona muito bem no modelo experimental. Ela se mostrou segura até em animais imunodeficientes e não apresenta nenhum dano para quem não tem linfócito B e T”, esclarece Gazzinelli.

 

“O vírus estimula o sistema, imune mas não replica. Então existe uma segurança muito grande para esse público. A vacina da febre amarela, por exemplo, não pode ser aplicada em imunodeficientes. A eficácia é garantida e pode variar mais ou menos de acordo com o nível de imunodeficiência”, detalha o coordenador do CT Vacinas.

 

Existem três imunizantes disponíveis, mas apenas as pessoas em risco ou que tiveram contato próximo com um indivíduo infectado podem tomá-los. Isso inclui pessoas vivendo com HIV/Aids e profissionais de laboratório que trabalham com a análise do vírus. A OMS não recomenda a vacinação massiva, ou seja, de populações inteiras de um país.

 

Cenário internacional

Em coletiva de imprensa em Genebra, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, destacou que surtos de Mpox vêm sendo reportados na República Democrática do Congo há mais de uma década e que as infecções têm aumentado ao longo dos últimos anos. Em 2024, os casos também superam o total registrado e 2023 e somam mais de 14 mil, com 524 mortes.

 

“Está claro que uma resposta internacional de forma coordenada é essencial para interromper esses surtos e salvar vidas. Uma emergência em saúde pública de importância internacional é o mais alto nível de alarme na legislação sanitária”, concluiu.

 

Sintomas

A mpox é uma doença zoonótica viral. A transmissão para humanos pode ocorrer por meio do contato com animais silvestres infectados, pessoas infectadas pelo vírus e materiais contaminados. Os sintomas, em geral, incluem erupções cutâneas ou lesões de pele, linfonodos inchados (ínguas), febre, dores no corpo, dor de cabeça, calafrio e fraqueza.

 

As lesões podem ser planas ou levemente elevadas, preenchidas com líquido claro ou amarelado, podendo formar crostas que secam e caem. O número de lesões pode variar de algumas a milhares. As erupções tendem a se concentrar no rosto, na palma das mãos e na planta dos pés, mas podem ocorrer em qualquer parte do corpo, inclusive na boca, nos olhos, nos órgãos genitais e no ânus.

 

A infecção pelo vírus geralmente evolui para quadros leves a moderados e pode durar de duas a quatro semanas. A pessoa é capaz de transmitir o vírus desde o início dos sintomas até que todas as lesões na pele cicatrizem completamente. 

 


O que diz a PBH?

Procurada pelo Estado de Minas, a PBH afirmou que o município não foi oficialmente comunicado pelo Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para mpox, instituído pelo Ministério da Saúde, sobre o alerta da OMS ou medidas relacionadas a ele.

 

Com relação à vacinação, desde 2023, cerca de 1.360 doses foram aplicadas, considerando primeiras e segundas injeções. Segundo o Executivo municipal, os públicos prioritários definidos pelo Ministério da Saúde são pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA); transexuais com idade igual ou superior a 18 anos, independentemente do status imunológico identificado pela contagem de linfócitos TCD4, e pessoas assintomáticas que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pessoas com casos suspeitos, prováveis ou confirmados para mpox, após avaliação da Vigilância Epidemiológica.

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice

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