Foi divulgado nesta quarta-feira (28/8) pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) que a família de Magna Laurinda Ferreira Pimentel, de 42 anos, armou uma emboscada para ela na sexta-feira (23/8), dia em que foi registrado seu desaparecimento. A motivação seria financeira, uma vez que a madrasta havia feito um empréstimo em nome do marido, no valor de R$ 40 mil, que foi gasto com jogos de aposta ilegais, celulares e outros bens.


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Magna foi encontrada morta em uma cisterna na casa de seu pai, no Bairro Candelária, Região de Venda Nova, em Belo Horizonte, nesta terça-feira (27/8). No mesmo dia, a madrasta e quatro de seus filhos (dois homens e duas mulheres) foram presos em flagrante: quatro por homicídio qualificado e ocultação de cadáver, e um por ocultação de cadáver. Os dois homens foram levados para o CERESP Gameleira e as mulheres para o Presídio Feminino de Vespasiano.

 




Briga por dinheiro


Em março deste ano, a madrasta de Magna, de 54 anos, levou o marido, de 74 anos, até uma agência bancária e pegou um empréstimo em nome dele no valor de cerca de R$ 40 mil. A mulher também fez uso da aposentadoria do idoso, totalizando um gasto de R$ 50 mil em pouco mais de três meses, deixando a conta negativada. R$ 5 mil teriam sido gastos com jogos de aposta e outros R$ 4 mil com celulares. Segundo a Polícia Civil, o valor da dívida foi parcelado em 84 parcelas de R$ 976,00, totalizando em torno de R$ 82 mil.

 

Em junho, Magna tomou conhecimento dos gastos e teria confrontado a madrasta e a irmã que têm acesso às contas do pai. Na mesma ocasião, teria descoberto uma união estável entre o pai e a madrasta. Outra irmã apaziguou a briga, e a vítima foi embora da residência. A polícia acredita que, desde então, a família planejava a morte da mulher.

 

A emboscada teria sido armada, inicialmente, para quinta-feira (22/8), quando uma das irmãs — a que apaziguou a situação — enviou uma mensagem a Magna dizendo que tinham o dinheiro para ressarcir o que foi gasto, pedindo que ela fosse buscar a quantia. Essa primeira tentativa de atrair a vítima não foi bem-sucedida.

 

Na sexta-feira (23/8), a mesma irmã que acalmou a briga ligou para Magna dizendo que o pai estava passando mal e com febre, pedindo que ela fosse até a casa para levá-lo ao hospital. Depois de deixar a filha de 3 anos na escola, a vítima foi até a casa do pai, de onde não saiu mais.

 

O marido de Magna, Tiago Arlei Alves, de 22 anos, estranhou que a esposa não buscou a filha na escola e tomou conhecimento do desaparecimento. “Eu estranhei porque ela era uma mãe muito atenciosa, zelosa e compromissada. Jamais deixaria a nossa filha. Aí eu pensei: ‘aconteceu alguma coisa’”, contou.

 

A filha do casal ainda não compreende o que aconteceu, mas sente falta da mãe. “Ela sente muita falta da mãe, era muito apegada a ela. Inclusive, tem chamado por ela e está mais agitada”, declara Tiago.

 

Além disso, Alexandre Oliveira da Fonseca, delegado da Divisão de Referência à Pessoa Desaparecida, declarou que, se o crime tivesse ocorrido na quinta-feira, possivelmente a menina estaria com a mãe.

 

“Conseguimos apurar que o terceiro filho, o executor, já estava na casa esperando Magna chegar para executá-la. Na quinta-feira, ela não foi. Se isso tivesse acontecido, nós teríamos duas vítimas, porque, se fosse na parte da manhã, possivelmente ela teria levado sua filha de 3 anos”, explicou Fonseca.

 

Ele ainda conta que ficou chocado ao descobrir os responsáveis pelo assassinato e que não havia nada de anormal na relação de Magna com a madrasta e os irmãos.

 

“Eu não achava que eles eram capazes de uma coisa dessas, porque a minha filhinha convivia com eles e sabia que minha filha depende demais da Magna”, conta. “Isso me deixou chocado, revoltado e com ódio”, completa.


Desaparecimento


Alertados sobre o desaparecimento de Magna, a Polícia Civil acompanhou seu rastro digital. O celular mostrava uma viagem de Uber para a residência do pai às 14h28 e um último acesso ao WhatsApp às 15h.

 

Às 17h27, foi registrada a última localização do aparelho. A PCMG acredita que um dos autores do crime desbloqueou o celular da vítima, que já estava morta, e o aplicativo da Uber já estava aberto. As câmeras de segurança da rua mostram que Magna não saiu da casa em nenhum momento.


 

“Recebemos a informação de que nesta casa existia uma cisterna e fomos até o imóvel ontem para verificar a situação. Conseguimos conversar com o dono da casa, que autorizou a entrada. Entramos na casa e entrevistamos todos os moradores enquanto a equipe realizava a perícia”, relatou o delegado.

 

Nos primeiros dias, a família se mostrava preocupada com o desaparecimento de Magna, tanto para a polícia quanto para o marido da vítima. Entretanto, realizaram um churrasco no domingo na parte da frente da casa, o que chamou a atenção dos vizinhos. Além da frieza de fazer um churrasco enquanto uma pessoa próxima está desaparecida, geralmente eles realizavam esse tipo de reunião na parte de trás do lote. A polícia acredita que estavam comemorando o crime.


Descoberta do corpo


Autorizados pelo pai da vítima, policiais foram até a residência para realizar buscas na terça-feira (27/8). Em determinado momento, a madrasta estava em uma ligação telefônica e disse: “A polícia está apurando a morte da Magna.” A fala levantou suspeitas, uma vez que a mulher ainda era considerada desaparecida.

 

A madrasta e as filhas mantiveram a narrativa de que Magna havia ido até a casa no dia do desaparecimento, mas que depois teria ido embora. Afirmavam que não tinham ideia do que poderia ter acontecido.

 

A PCMG analisou uma área com cimento fresco e coberta com ripas de madeira no fundo da propriedade. Ao abrir, descobriram uma cisterna de sete metros de profundidade e o corpo de Magna, já em estado de decomposição. O corpo foi içado por oficiais do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).

 

“Até então, eles alegavam que estávamos cometendo abuso de autoridade e que iam nos processar. Após a notícia de que encontramos o corpo, o silêncio foi absoluto. Depois, uma das filhas disse: ‘Tá vendo, mãe, eu defendendo a senhora e olha o que a senhora arrumou para mim’”, narrou Fonseca.

 


Segundo a Polícia Civil, acredita-se que Magna foi morta a facadas pelo irmão, que também aplicou golpes de machadinha na cabeça da vítima. Os sinais de violência no corpo indicam que o crime foi cometido com muita raiva por parte do autor, uma vez que a cabeça estava quase totalmente decepada.

 

Suspeita-se que o autor seja um dos filhos, que não estava presente no momento das buscas. A polícia foi até outra residência do homem, em Sabará, mas ele não foi encontrado. Foi então solicitado à mãe que atendesse as ligações do filho e dissesse que estava tudo normal, a fim de atraí-lo para casa.

 

Ainda desconfiado, ele desembarcou do Uber a cinco quarteirões da residência. Os policiais, à paisana, o prenderam assim que ele chegou ao local. O suspeito alegou ter agido em legítima defesa da mãe.

 

“O que mais espanta é a forma como a madrasta se portou durante toda a investigação no interior da residência. Ela é uma pessoa muito fria, não demonstrou nenhum tipo de nervosismo, relatou os fatos e ainda indicou a arma utilizada no crime”, declarou Alessandra Wilker, chefe do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

 

A arma do crime foi encontrada junto a outras facas no imóvel.


Relação de longa data


A PCMG relatou que a madrasta de Magna era cuidadora do idoso desde 2015 e que a relação teria evoluído para um romance. Entretanto, Tiago afirma que eles se conheceram à noite e namoram há anos. Segundo ele, há cerca de dois anos, o idoso, que bebia muito, começou a apresentar sinais de demência, e então ela passou a cuidar dele.

 

 

“Ele bebia todos os dias e começou a ficar debilitado. Um certo dia, ele passou mal e ficou internado alguns dias. Depois, ele se debilitou ainda mais. E parece que, ultimamente, ele estava mais grogue, como se estivesse dopado”, conta Tiago.

 

Recentemente, a madrasta teria forçado o marido a passar a escritura do lote para ela. Segundo a PCMG, a residência se encontra em total desleixo, com todos os cômodos totalmente “detonados”. O único bem em bom estado é um armário de cozinha.

 

Ao longo dos anos, os quatro filhos da madrasta foram morar no lote onde ocorreu o crime. A mulher ainda tem outros dois filhos que têm passagem pela polícia por tráfico de drogas.

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