a madre Ana Eliza (E) e as irmãs Marisa de fátima e Maria Imaculada (assentada), diante da pintura da padroeira, Nossa Senhora da Conceição -  (crédito:  Túlio Santos/EM/D.A Press)

a madre Ana Eliza (E) e as irmãs Marisa de fátima e Maria Imaculada (assentada), diante da pintura da padroeira, Nossa Senhora da Conceição

crédito: Túlio Santos/EM/D.A Press

Empreendedoras e sempre na luta pela preservação do Mosteiro de Macaúbas, em Santa Luzia, as religiosas da Ordem da Imaculada Conceição levam adiante, com ajuda de voluntários, a campanha “Abrace Macaúbas”. Assim, a comemoração dos 310 anos inclui, além de muitas orações e confraternização, a entrega de obras conquistadas com o apoio da sociedade e de instituições, como pôde comprovar o Estado de Minas. A mobilização, surgida em 2017 por iniciativa da Sexta Promotoria de Justiça de Santa Luzia (cujo titular era o promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda), vem angariando recursos para reparos e obras na estrutura tricentenária.

 

 

 

Satisfeita, a madre Ana Eliza mostrou à equipe do EM os serviços recém-concluídos: a substituição do piso da Tribuna do Comungatório e dos forros da Sala do Capítulo ou Capitular, do Salão Santa Beatriz e do Recreio (antigo “De Profundis”) – espaços tradicionais em uma instituição conventual. Outra intervenção importante ocorreu no forro da Casa de Retiro, criada em 1996 para colaborar nos recursos de preservação do prédio.

 

Nesse ambiente sagrado e por onde passaram nomes marcantes da história de Minas – da escravizada e alforriada Chica da Silva ao beato Padre Eustáquio, em processo de canonização –, os olhos atentos e muitas vezes emocionados admiraram o jardim de rosas do claustro, com uma imagem de São Francisco no ponto mais central.

 

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Já na Sala do Capítulo, espaço para reuniões, está uma gigantesca pintura de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do mosteiro. Ao lado da madre – que gosta de dizer que a única “madre” ali presente é Nossa Senhora –, e da irmã Marisa de Fátima, a irmã Maria Imaculada pede mais atenção às autoridades para Macaúbas. “Precisamos que seja aprovado o projeto do sistema elétrico para buscarmos os recursos”, afirma.

 

O projeto, custeado com recursos da campanha Abrace Macaúbas, se encontra no Iepha-MG, para aprovação. Em nota, a direção do instituto informa que recebeu o protocolo dos projetos de instalações elétricas, de iluminação, rede de dados e do sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) referentes ao Mosteiro de Macaúbas, e que, “após as adequações solicitadas, os projetos foram aprovados e estão em fase de finalização das tramitações neste instituto”. Na noite de terça-feira (27/8), o Iepha comunicou ao responsável pelo projeto, via e-mail, sobre a aprovação.

 

 

Na Sala do Recreio, as “entranhas” de Macaúbas se tornaram totalmente visíveis com as recentes obras. Atrás de vidraças, estão as paredes feitas de barro, mostrando o sistema construtivo do início do século 18. Contemplando a parede, a irmã Maria Imaculada ressalta que o mosteiro, de construção iniciada em 1714, tem não só história como força para seguir ao longo do tempo amparado pelo trabalho, pela fé, e, claro, determinação.

 


HISTÓRIA INICIADA PELA
DEVOÇÃO DE UM EREMITA

 

Mais antigo do que a Capitania de Minas, quando se deu a organização política e administrativa deste gigantesco território (1720), e anterior à chegada do primeiro bispo às Gerais (dom frei Manoel da Cruz, em 1748), o Mosteiro de Macaúbas, tem sua história iniciada em 1714, pelas mãos do eremita Félix da Costa. Procedente da cidade de Penedo (AL) e navegando pelo Rio São Francisco na companhia de irmãos e sobrinhos, ele demorou três anos para chegar a Santa Luzia, onde construiu uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, de quem era devoto.

 

Conta a tradição que antes, bem no encontro das águas do Velho Chico com o Rio das Velhas, na Barra do Guaicuí, em Várzea da Palma, Região Norte do estado, ele teve a visão de um monge com hábito branco, escapulário, manto azul e chapéu caído nas costas. “Ele se viu ali. Foi o ponto de partida para a fundação do Recolhimento de Macaúbas”, conta a irmã Maria Imaculada. No interior da construção, há um quadro e uma estátua de Félix da Costa, feitos no século passado por uma concepcionista. 

 


Nomes gravados na história e na fé

 

Em meio aos séculos de história de Macaúbas, um dos principais nomes é o da irmã Maria da Glória do Coração Eucarístico (1903-1986), que ficou mais de duas décadas doente sobre uma cama e morreu em 21 de janeiro de 1986. Muitos católicos atribuem à intercessão dessa religiosa diversas graças alcançadas. Outra personagem de destaque na constelação de fé de Macaúbas é a recolhida Germana Maria da Purificação (1782-1856), que teve sua vida pesquisada pelo promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda – a publicação sobre sua trajetória ganha, agora, uma nova edição.

 

 

MUITO TRABALHO
E OFÍCIOS DE FÉ

 

Conhecer o Mosteiro de Macaúbas, que muitos chamam de Convento de Macaúbas, faz bem a todos os sentidos – e em todos os sentidos. As freiras cuidam da plantação, fazem vinho, participam de muitos ofícios religiosos durante todo o dia e trabalham duro.

 

Uma volta ao tempo leva a muitas descobertas. No século 18, quando estava proibida a instalação de ordens religiosas nas regiões de mineração, por ordem da Coroa Portuguesa, para que o ouro e os diamantes não fossem desviados para a Igreja, havia apenas dois recolhimentos femininos em Minas: um em Macaúbas, outro em Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha.

 

 

Conforme registros históricos, tais espaços recebiam mulheres de várias origens, que podiam solicitar reclusão definitiva ou passageira. Havia uma complexidade e diversidade de tipos de reclusas, devido à falta de estabelecimentos específicos para suprir as necessidades delas.

 

Assim, os locais abrigavam meninas e mulheres adultas, órfãs, pensionistas, devotas, algumas que se estabeleciam temporariamente, para “guardar a honra”, enquanto maridos e pais estavam ausentes da colônia, ou ainda como refúgio para aquelas consideradas “desonradas” pela sociedade de então.


Chica da Silva e as
filhas do contratador

 

Na época do recolhimento, Macaúbas recebeu figuras ilustres, como as filhas da escrava alforriada Chica da Silva, que vivia com o contratador de diamantes João Fernandes. A casa na qual Chica se hospedava fica ao lado do convento. Como parte do pagamento do dote das filhas, Fernandes mandou construir, entre 1767 e 1768, a chamada Ala do Serro, com mirante e 10 celas (quartos para as religiosas).

 

Em 1770, o mestre de campo Ignácio Correa Pamplona assinou contrato para construir a ala da direita da sacristia (Retiro), igualmente dividida em celas. A construção tem ainda as alas da Imaculada Conceição, Félix da Costa (a mais antiga) e a de Santa Beatriz, onde se encontra o noviciado do mosteiro.

 

Em 1847, o recolhimento passou a funcionar também como colégio, tornando-se um dos mais tradicionais de Minas. Essa situação durou até as primeiras décadas do século 20, quando a escola entrou em decadência, devido à chegada de congregações religiosas europeias com grande experiência na educação de meninas. O tempo passou até que, em 1933, a construção passou a abrigar o mosteiro da Ordem da Imaculada Conceição.

 


Em exposição, peças
com mais de 3 séculos

Na portaria, painéis contam um pouco da história do mosteiro, distante 12 quilômetros do Centro Histórico de Santa Luzia. Há também partes da primitiva capelinha erguida por Félix da Costa em 1714, início de toda a trajetória. A estrutura já não existe, embora algumas peças originais estejam guardadas.

 

Há, por exemplo, o cofre que Félix da Costa usava para pedir esmolas a fim de erguer o templo. De acordo com pesquisas históricas, o eremita seguiu, em 1712, para o Rio de Janeiro, onde obteve do bispo dom frei Francisco de São Jerônimo – na época, ainda não havia a diocese de Mariana, a primeira de Minas – licença para usar hábito e pedir esmolas. Mais tarde, recebeu autorização para abrir o recolhimento feminino, no qual ficaram suas irmãs.

 


Por dentro da clausura


Em 17 de setembro de 2011, as irmãs do Mosteiro de Macaúbas participaram de uma missa festiva para reentronizar (levar de volta ao altar da capela-mor) a imagem de Nossa Senhora de Lourdes. Durante quatro meses, a peça francesa – 1,65m de altura e integrante do acervo desde 1892 – foi restaurada numa das celas, então transformada em ateliê. À frente do serviço, a restauradora Carla Castro Silva (foto). O trabalho se deu graças à parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Associação Cultural Comunitária de Santa Luzia e o mosteiro, com recursos do ICMS Cultural. Na oportunidade, foram também comemorados os 500 anos da aprovação da Regra da Ordem da Imaculada Conceição – “Ad Statum Prosperum”, fundada por Santa Beatriz da Silva Menezes. O EM documentou o restauro, sendo o primeiro veículo de comunicação autorizado a entrar na clausura.

 

 

 

SERVIÇO

 

1) Campanha Abrace Macaúbas


Para participar e fazer doações de qualquer quantia:
Caixa Econômica Federal - Mosteiro Nossa Senhora da Conceição de Macaúbas – Agência 1066 – Operação 013 – Conta poupança: 75.403/4 – CNPJ: 19.538.388/0001-07. Informações no site abracemacaubas.com.br

 

2) Localização


O Mosteiro de Macaúbas fica em Santa Luzia, na
Região Metropolitana de Belo Horizonte, a 12
quilômetros do Centro Histórico da cidade.

 

3) Missas


Há missas de segunda a sábado, às 7h, e aos
domingos, às 10h30

 

4) Hospedagem


O interessado em ficar na hospedaria pode ligar
para (031) 3684-2096