Arte Soraia Piva -  (crédito: Arte Soraia Piva)

Arte Soraia Piva

crédito: Arte Soraia Piva

Além de destruir as matas, piorar a qualidade do ar e as condições de aquecimento que resultam em impactos climáticos extremos, os prejuízos trazidos pelos incêndios florestais em Minas Gerais são milionários e atingem uma considerável parcela da população. Nos últimos 10 anos (2014 a 2023), 25.090 mineiros foram afetados pelas chamas e a fumaça no estado, uma população maior do que a registrada individualmente em 713 municípios do estado, o correspondente a 83,5%. Desse totral, três pessoas ficaram desalojadas ou desabrigadas e 56 feridas ou enfermas. Os incêndios florestais levaram o setor privado a um prejuízo de R$ 171,6 milhões no período, sobretudo na agropecuária. Os dados são do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR).

 

A soma do prejuízo privado com os incêndios mostra como avanços (tecnologia) e atrasos (queimadas) ainda são incongruentes na agropecuária. Em 2023, a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) de Minas Gerais previu praticamente a mesma quantia, cerca de R$ 170 milhões, em convênios e fomentos para melhoria da infraestrutura rural e de mecanização do campo em 137 municípios.

 

Em termos de danos estruturais, o prejuízo registrado é de R$ 602.370 em estragos que precisaram ser reparados. Mas as repercussões são ainda maiores, uma vez que a falta dessas estruturas e sua substituição emergencial e posteriormente definitiva, levaram a R$ 1.130.000 em gastos públicos. Os dados do ministério não contemplam o esforço em vidas para a contenção e extinção dos incêndios florestais. Nesse mesmo período, pelo menos quatro combatentes morreram em meio ao fogo, sendo dois brigadistas em Carrancas (Sul de Minas), em 2019, um sargento do Corpo de Bombeiros em Arinos (Noroeste), em 2021, e um brigadista em Ipaba (Vale do Rio Doce), em 2023.

 

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Com o prejuízo mais volumoso, o setor privado tem as maiores perdas na agropecuária. Só na agricultura foram R$ 150 milhões, o correspondente a 87,6% dos danos, entre plantações, sementes, armazéns, maquinário, estruturas de irrigação, infraestrutura de cultivos e escoamento perdidas pelas chamas. Os pastos, criações, estruturas de abastecimento de água e ração da pecuária figuram em segundo, com R$ 18,7 milhões em prejuízos (10,9%). O comércio vem em seguida (0,7%), antes da indústria (0,69%) entre os mais representativos.

 

A maior parte dos danos materiais registrados em Minas Gerais ocorreram em estruturas comunitárias como escolas, hospitais, postos de saúde, prédios públicos, sistemas de abastecimento de água e esgoto, entre outros. Essa devastação cobre 73,15% do total, afetando assim equipamentos essenciais para a população.

 

Fogo e fumaça fizeram das infraestruturas a segunda maior vítima no estado, com 12,69% dos danos ocorrendo em estradas, rodovias, ferrovias, drenagens, contenções e pontes, dificultando ou interrompendo o transporte e a mobilidade; danos a redes de transmissão e distribuição de energia elétrica e subestações; sistemas de abastecimento de água, reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto, e redes de distribuição. Prejuízos a redes de comunicação, como torres de celular, redes de fibra ótica, estações de rádio e TV. Logo em seguida, o mais afetado foi o setor de serviços, com 11,51% da destruição.

 

Nessa década de prejuízos provocados pelo fogo e fumaça, os serviços públicos e patrimônios mais afetados foram o setor de atendimentos médicos e de emergência, com um total de R$ 428,6 mil (40%). O abastecimento de água (28,79%), com cerca de R$ 308 mil, vem depois. Em seguida, limpeza e reciclagem (11,7%), telecomunicações (9,2%), ensino (3,4%) e distribuição de energia (2,99%).

 


Os cinco municípios que mais somaram pessoas afetadas pela devastação dos incêndios florestais em Minas Gerais na última década foram Brasilândia de Minas (Noroeste), com 8.300 atingidos, Itambacuri (Vale do Rio Doce), com 6.000, Água Boa (Rio Doce), com 3.500, Candeias (Centro-Oeste), com 3.000 e Franciscópolis (Vale do Mucuri), com 1.000. Destes, os dois piores já figuram na lista de municípios em estado de emergência ou de calamidade pública, segundo a Cedec-MG. Itambacuri, por exemplo, já recebeu várias doações que ajudam a aplacar essa situação, como 320 cestas básicas, 20 volumes com roupas, seis de lonas, 48 kits dormitórios, 10 colchões, 40 baldes, 148 kits higiene e 10 sabões líquidos, segundo a Cedec-MG.

 

CENÁRIO AGRAVADO PELA SECA

 

As situações de emergência ou calamidade devido à seca em Minas Gerais são agravante ainda maior para os incêndios florestais e queimadas fora de controle. No ano de 2023, esse cenário devido à seca e estiagem perdurou até 3 de outubro, fechando o ano com 135 registros de municípios em emergência, segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais (Cedec-MG). Neste ano, já são 137 cidades enfrentando calamidades ou emergências devido à seca, estiagem, incêndios florestais, ondas de calor e baixa umidade até 28 de agosto. O que pode ser um indicativo de ainda mais prejuízos. Uma vez que o estado já se encontra no mesmo patamar de 2023, ano em que foram 10.540 pessoas afetadas em Minas, quase metade do total da década inteira.

 


Os municípios mais afetados naquele ano foram Brasilândia de Minas, no Norte do estado, com 8.300 pessoas atingidas, Catuji (Vale do Mucuri), com 800 pessoas, Três Corações (Sul), com 600, Guaranésia (Sul), com 500 e São Francisco (Norte), com 300 afetados. Brasilândia e São Francisco já se encontram novamente na lista dos municípios em estado de emergência ou de calamidade pública, segundo a Cedec-MG. O agravante é que em Brasilândia, o grande número de pessoas afetadas em 2023 é também o maior de um município mineiro na última década e responde por 55% de seus 15 mil habitantes.

 

De acordo com o secretário de agricultura e pecuária de Brasilândia de Minas, Renato Alves, a maior parte dos incêndios ocorre em áreas distantes de 40 a 50 quilômetros da sede do município, mas que trazem enormes prejuízos, uma vez que praticamente destroem as pastagens, são fonte de renda e emprego para os criadores de gado municipais, entre as principais atividades locais. “Temos uma equipe de caminhão-pipa que dá apoio e combate nessas situações, mas um dos problemas é a dificuldade de acesso pelas condições das estradas ou mesmo falta de estradas. Estamos até preparando uma outra viatura para ser capaz de trafegar nesse tipo de estrada e assim dar o apoio ou combate mais rápido e próximo ao fogo”, afirma.
Segundo o secretário, há dois meses a seca está tão grave que outros dois caminhões-pipa já estão rodando 24 horas por dia para abastecer as comunidades onde as fontes de água secaram e que também sofrem com as chamas. “Os incêndios ajudam a secar essas fontes de água, destroem as captações. Já temos quatro comunidades que dependem 100% da prefeitura para receber o abastecimento de água dos caminhões-pipa”, afirma o secretário de Agricultura da cidade norte-mineira. 

 

Combate intenso

 

O Corpo de Bombeiros de Minas Gerais combateu 948 incêndios florestais em todo o estado somente entre segunda-feira e terça-feira. Como nos demais dias, Belo Horizonte e região metropolitana amanheceram ontem com o céu encoberto por fumaça e poeira. Em Nova Lima (fotos), brigadistas e moradores de condomínios próximos à MG-030 se uniram para enfrentar o fogo desde o fim de semana, quando chamas atingiram parte do muro do Ville de Montagne. Os empreendimentos ficam próximo ao Monumento Natural da Serra da Calçada (Monasc) que, segundo o Plano de Manejo, abrange uma área de 585 hectares. Fábio Britto, coordenador da Brigada Florestal Rota MG-30 conta que neste ano as queimadas têm sido mais intensas. Ele atua na região há 15 anos e afirma que nunca tinha visto incêndios tão grandes. De acordo com o brigadista, de 18 de junho até a tarde de ontem, os profissionais enfrentaram 24 focos. Desde segunda-feira (2/9), quando uma grande queimada atingiu o Monasc, 30 brigadistas trabalham no combate. Além disso, 180 mil litros de água, de caminhões-pipa, foram necessários para diminuir o fogo.