Belo Horizonte recebeu quantidade insuficiente da vacina Varicela -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Pesquisa feita em 211 municípios mineiros apontou que 93% desses apresenta falta de vacina contra varicela, a catapora, há, pelo menos, quatro meses

crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press

Uma pesquisa feita em 211 municípios mineiros apontou que 93% deles apresenta falta de vacina contra varicela, a catapora, há, pelo menos, quatro meses. O levantamento foi feito pela Associação Mineira de Municípios (AMM) divulgado nesta sexta-feira (6/9). No início desta semana, o grupo enviou um pedido de explicação ao Ministério da Saúde depois de receber queixas de gestores de cidades mineiras sobre o desabastecimento de, ao menos, sete imunizantes. Os dados apresentados foram coletados com prefeitos e gestores entre os dias 3 e 5 de setembro.


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De acordo com a associação, entre os principais problemas identificados pelos gestores está a dificuldade nas aplicações devido ao desabastecimento crônico de imunizantes específicos. As vacinas que estão em falta, apontadas pelas administrações municipais, são: Varicela, Covid XBB, Meningocócica conjugada grupo C, Hepatite A, Tríplice (DTP), Raiva em cultura celular/vero, Febre Amarela e Meningocócica Conjugada ACWY.


"Estou recebendo de duas a três ligações por dia de prefeitos de várias regiões, informando a falta de vacinas e pedindo apoio. Nosso calendário vacinal está todo furado [...] Todas as crianças que nasceram nesse período estão com algum tipo de imunizante faltando no caderno de vacinação", afirma o prefeito de Coronel Fabriciano e presidente da AMM, Marcos Vinicius Bizarro.


 

No Brasil, o esquema de vacinação é responsabilidade do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde. O PNI, portanto, é responsável por elaborar um plano para a aquisição dos imunológicos até sua disponibilização nas salas de vacina, assim como o estabelecimento das normas e a definição do público que será imunizado.


Ofício


Na segunda-feira (2/9), a AMM protocolou um ofício cobrando explicações do Ministério. No documento, a associação ainda solicitou informações detalhadas sobre o cronograma de regularização da distribuição dos imunizantes. Quatro dias depois, a entidade explica que a pasta afirmou que a situação será normalizada em até 60 dias. No entanto, Bizarro não acredita que o prazo seja comprido.


“Não acredito que nesse tempo a situação se resolva. Não é apenas um imunizante que está faltando; se fosse, até daria para dizer que seria possível. Mas são sete tipos de vacinas diferentes que envolvem laboratórios e distribuidores distintas”, disse o presidente da AMM. 


 

Ao Estado de Minas, no dia em que o documento foi encaminhado, o Ministério da Saúde informou que, exceto a vacina Meningo C, não há desabastecimento de nenhuma das vacinas em questão, sendo as demais distribuídas conforme disponibilidade em estoque. A pasta detalha a situação de algumas das vacinas oferecidas (veja abaixo) e afirma que a indisponibilidade é ocasionada por fatores externos. A pasta foi procurada nesta sexta-feira para se pronunciar sobre a pesquisa, mas ainda não respondeu à demanda.


Em caso de indisponibilidade, o Governo Federal recomenda que, assim que possível, o resgate de não vacinados e daqueles com esquema incompleto seja realizado, para fins de continuidade ou início do esquema vacinal, conforme as indicações do Calendário Nacional de Vacinação, de modo a não comprometer a proteção imunológica da pessoa. Além disso, em alguns casos específicos e se houver disponibilidade, podem ser indicados outros imunobiológicos para substituição provisoriamente.

 

“As vacinas são algumas das moléculas mais complexas já inventadas e os sistemas que as implantam, monitoram e financiam são igualmente complexos. Os aspectos produtivos e logísticos de vacinas são compostos por diversos desafios que se tornam ainda maiores em um Programa de Imunização tão grande quanto o do Brasil”, conclui a pasta.


 

Situação em BH


A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que, no momento, o município está abastecido com doses da vacina Tríplice viral, DTP, Febre Amarela, Hepatite A, Raiva e ACWY. Quando à vacina contra a varicela, BH recebeu cerca de 18 mil doses, de janeiro a março deste ano. Em abril, maio e junho, não foram encaminhadas remessas da vacina para Belo Horizonte. Em julho e agosto, o município recebeu cerca de 5 mil doses, quantidade insuficiente para atender à demanda mensal, que é de 6,5 mil doses.


O órgão municipal afirmou já ter acionado a Secretaria de Estado da Saúde (SES) sobre a situação e não há, até o momento, previsão de recebimento de nova remessa de vacina para reabastecimento das unidades de saúde. Com relação à vacina Meningocócica C, a PBH informou que desde 2023 o município tem aplicado a vacina ACWY, que é mais completa, protegendo contra 4 sorotipos.

 

 

 

Confira qual a situação de cada vacina que está em falta segundo o Ministério da Saúde:

 

  • Meningo C e Meningo ACWY

 

Quanto à vacina Meningo C, o estoque está em situação de desabastecimento devido ao fornecedor – a Fundação Ezequiel Dias (Funed), vinculada à Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) – não estar cumprido com os cronogramas e alterar as entregas de 2024. Tal situação acarreta um aumento não previsto do consumo das vacinas Meningo ACWY, que tem que ser utilizadas para substituir a vacina Meningo C. A vacina ACWY foi distribuída ao estado de MG mensalmente em 2024, na medida que houve demanda.


  • Hepatite A e Febre Amarela

 

Por problemas de controle de qualidade, houve atraso no cumprimento do cronograma de entregas, levando à restrição da distribuição aos estados. Com relação à vacina contra febre amarela, o fornecedor adquiriu emergencialmente, via compra internacional, as doses que estão sendo entregues ao MS, a previsão de normalização do estoque é até dezembro de 2024, segundo a Fiocruz.


  • Raiva

 

O contrato já está assinado, e as entregas estão sendo executadas pelo fornecedor. Há o planejamento de distribuição imediata das doses ainda esta semana se houver liberação positiva pelo Instituto de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz).

 

  • Vacina Varicela

 

Frente aos obstáculos regulatórios e de fabricação enfrentados, uma compra emergencial de vacinas contra varicela foi realizada no fim de 2023, por meio do Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), com entregas previstas para os próximos meses. Simultaneamente, está em curso o processo de aquisição regular para o atendimento da demanda de 2024. A consulta aos laboratórios nacionais revelou que apenas um tem capacidade de fornecer a vacina no segundo semestre de 2024. A produção limitada desta vacina, tanto no mercado nacional quanto no internacional, impede a imediata regularização dos estoques e a plena disponibilidade para os usuários do SUS. O reestabelecimento está previsto para o primeiro semestre de 2025.

 

  • Tríplice Viral

 

Devido a algumas intercorrências na entrega e liberação do produto pelo laboratório produtor, a distribuição está contingenciada. O Ministério da Saúde realizou uma compra emergencial via OPAS para suprir a demanda dos estados. As doses estão sendo entregues ao MS e a previsão de normalização do estoque é para dezembro de 2024, ocorrendo o envio de doses acordado com o fornecedor.