Uma nova arte vai colorir o cenário urbano de Belo Horizonte a partir de 18 de setembro. Nesta terça-feira (10/9), a artista visual Kawany Tamoyos começa a pintar duas empenas localizadas na Rua Popular, 88, no Bairro São Cristóvão, Região Noroeste da capital mineira, voltadas para a Avenida Antônio Carlos.
A obra faz parte do Projeto Coragem, composta por 99% de mulheres e dissidentes de gênero, majoritariamente não brancas. Ao final da produção, os prédios contarão com a pintura de duas figuras femininas, uma indígena e outra negra, conectadas pelo terceiro olho, um símbolo de intuição e ancestralidade. Para a autora, o objetivo da obra é inspirar coragem e força, reforçando a presença poderosa das mulheres racializadas na sociedade.
“O projeto Coragem busca representar a conexão ancestral e espiritual entre mulheres que, historicamente, tiveram suas vozes silenciadas, mas que agora ocupam espaços públicos com força e dignidade”, explica Kawany. A pintura ainda contará com texturas e padrões criados por artistas indígenas convidados: Varusa, do Amapá, e Nilo Ybyra, de Belo Horizonte.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia
A escolha do local também tem um significado importante para Kawany, que morou grande parte da vida na Região Norte e BH. Como ela sempre trabalhou e estudou na região central da cidade, ela sempre passou pela avenida e, por isso, entendeu que aquele ponto da capital precisava de mais cor.
“É a cidade que eu nasci, então é uma felicidade poder entregar uma coisa minha e uma coisa para a cidade pela primeira vez. É de uma dimensão tão grande e com tanto significado. Para mim é muito importante, para minha história e para a história de BH. Eu sempre via esse prédio, essa ‘duplinha’ de prédios. Quando a gente é artista, a gente imagina que tudo é um caderno gigante”, diz.
Kawany já realizou outras pinturas que tinham o intuito de representar a força e a conexão entre mulheres. A penúltima obra com a temática reproduzida por ela foi na Avenida Pedro I, com três mulheres abraçadas.
“Já tem algum tempo que eu tô buscando retratar o encontro entre mulheres, o afeto entre mulheres para além dos relacionamentos amorosos e sexuais, para um encontro de mulheres que são amigas ou com outras mulheres, que são colegas, que são irmãs e da força desses encontros, desse afeto. Já tem uma série de murais que eu tenho feito nesse sentido, para representar a potência desse encontro, então quando eu fui pintar o prédio, eu quis imaginar essas duas mulheres juntas, essas duas grandes mulheres conectadas”, relata.
Quem é a artista
Kawany Tamoyos é uma artista visual e comunicadora latino-americana de origem indígena, que, desde 2014, ocupa as cidades com suas obras. Sua trajetória artística é marcada pela busca de subverter estereótipos sobre o feminino e os povos indígenas, utilizando o grafite como forma de resistência e afirmação de identidade. Ela coordena o Todas BR, uma rede latino-americana de mulheres e queers artistas urbanas, e já participou de exposições, festivais e editais, incluindo murais em diversas regiões do Brasil e outros países.
A artista possui outros murais conhecidos em BH, um deles intitulado "RAÍZES" (2018), de 120m², na Av. Antônio Carlos, no Viaduto República do Congo, com uma mulher vermelha deitada.
Em 2022, Kawany pintou em São Paulo sua primeira empena autoral "Atenta e Forte", que fez parte do projeto “YKAMIABAS: Mulheres que Tocam o Céu” iniciativa resultante do mapeamento “Graffiteiras Indígenas”.
A artista também assinou a cenografia do trio do bloco Truck Do Desejo, do Carnaval de 2024 de BH, que homenageou importantes personalidades de diferentes gerações da história da música brasileira. Ela acaba de voltar de eventos internacionais no Peru e na Colômbia.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice