Clima em Belo Horizonte ao completar 149 dias sem chuvas -  (crédito: Marcos Vieira /EM/DA. Press)

Clima em Belo Horizonte ao completar 149 dias sem chuvas

crédito: Marcos Vieira /EM/DA. Press

Em meio à maior seca do país, Belo Horizonte está praticamente cinco meses sem uma gota sequer cair do céu. A capital mineira atinge nesta segunda-feira (16/9) a marca de 150 dias sem chuva, a mais longa estiagem dos últimos cinco anos. Desde abril, o céu permanece limpo, e a projeção do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é de que esse cenário persista até a segunda quinzena de outubro. Assim, a cidade se aproxima do recorde histórico de 198 dias sem chuvas, registrado na década de 1960.

 

 

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Setembro é marcado normalmente pelo início das pancadas de chuva, com média histórica de 49,2 mm acumulados na capital mineira. No entanto, contrariando o histórico, não existe previsão de precipitação para o mês neste ano. A chuva só deve retornar de forma significativa a Minas Gerais a partir da segunda quinzena de outubro, quando a massa de ar quente que atua na atmosfera perderá força.

 

 

O meteorologista Ruibran dos Reis aponta uma anomalia no padrão de chuvas deste ano, com uma seca mais intensa e prolongada do que o habitual. "Diferentemente dos anos anteriores, este ano não tivemos chuva em maio e agosto, meses que geralmente registram precipitações isoladas. Em junho e julho, a probabilidade de chuva já é historicamente muito baixa”, ressalta.

 



Com isso, Belo Horizonte está à beira de quebrar um novo recorde histórico. Se a previsão de ausência de chuvas se confirmar até meados de outubro, a capital mineira se aproxima do maior período sem chuvas registrado na cidade, que ocorreu em 1963, com 198 dias de estiagem. Até este ano, o maior período sem chuvas registrado em Belo Horizonte havia ocorrido entre junho e setembro de 2019, quando a cidade ficou 113 dias sem precipitações.

 



A ausência de chuva foi intensificada desde 2023 pela atuação do El Niño, fenômeno que aquece as águas do Oceano Pacífico e provoca alterações nos padrões globais de precipitação e temperatura. O El Niño deu seu último “suspiro” em junho deste ano, após um ano de influência nas águas do Pacífico, mas, segundo o meteorologista Ruibran, ainda continua tendo influências no clima.

 

 

“De meados de junho para cá nós entramos em uma situação neutra, mas ainda estamos sofrendo o efeito um pouco retardado do El Niño. A massa de ar quente continua atuando. E esse ar quente dificulta a formação de nuvens que possam causar chuva e também causa o bloqueio da chegada de frentes frias”, explica o especialista, ressaltando as altas temperaturas vistas no outono e inverno.

 

 


Clima de deserto

 

Sem previsão de chuva para aliviar a seca, Belo Horizonte e outras 407 cidades mineiras estão sob alerta do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para baixa umidade do ar, com índices em torno de 20 e 30%. O aviso, publicado neste domingo (15/9), começa a valer na segunda às 9h e é válido até às 22h. Cidades da Grande BH, como Contagem e Betim, também serão afetadas. Também devem ficar atentos moradores de municípios do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba, Central, Vale do Rio Doce, Campo das Vertentes, Oeste de Minas, Sul de Minas, Jequitinhonha, Noroeste, Zona da Mata e Norte de Minas Gerais.

 
O ideal é que a umidade relativa do ar esteja na faixa dos 50% a 80%. Abaixo desse percentual, a umidade pode oferecer riscos à saúde, como desidratação, irritações respiratórias e agravação de doenças, como asma e bronquite. Enquanto o céu permanece limpo, os índices de umidade relativa do ar dos últimos dias se assemelham a de desertos como o Saara, no Norte da África, e o Atacama, no Chile, segundo o Inmet. Ontem, às 14h, as regionais Oeste e Pampulha registraram umidade de 21%, bem abaixo dos 60% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

 
A longa estiagem é acompanhada por uma série de fenômenos climáticos típicos, como a névoa seca, que há semanas ofusca o horizonte da capital mineira. A condição, semelhante a uma fumaça, resulta da combinação de fatores como o acúmulo de poeira, a baixa umidade relativa do ar e a fumaça de queimadas que ocorrem na região e em áreas vizinhas, segundo o Inmet.
 
 
Com a massa de ar quente estacionada sobre BH e o estado, as temperaturas elevadas contribuem para o surgimento desse fenômeno, que geralmente ocorre nas tardes, mas tem sido observado também durante as manhãs.
 


A previsão é que a névoa seca persista até que haja chuvas significativas, mas, vale lembrar que, segundo o Inmet, Minas Gerais não deve registrar chuva até o dia 15 de outubro. À exceção das regiões mais ao sul de Minas, próximas a São Paulo e ao Rio de Janeiro, que devem ter chuva fraca e isolada nesta segunda (16/9).
 
 
Mesmo assim, o meteorologista Ruibran dos Reis afirma que o fenômeno não terá força para alcançar Minas em sua totalidade e perderá intensidade no Rio de Janeiro nesta terça-feira (17/9). “A partir do dia 20 deste mês, começa a aumentar a probabilidade de chuvas isoladas devido aos reflexos da pressão atmosférica que deverá cair no litoral de São Paulo. Isso causará a convergência da umidade e pode desencadear as primeiras chuvas isoladas em Minas”, disse o meteorologista.
 
 
 

Longa estiagem em Minas

 

Enquanto Belo Horizonte aguarda a chegada de chuvas, outras cidades de Minas Gerais também olham com expectativa para o céu e enfrentam cenários ainda mais críticos. Pompéu, na Região Central, completa hoje 166 dias sem chuvas. Municípios como Montalvânia, Montes Claros, Januária e São Romão, todos no Norte de Minas, também enfrentam uma estiagem prolongada que ultrapassa os 150 dias.
 
 
O padrão de chuva zero por meses consecutivos agrava o que já era um cenário complicado em diversas partes do estado. Até o momento, 138 municípios mineiros decretaram situação de emergência devido à estiagem prolongada, especialmente nas regiões do Norte de Minas e nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri. Em muitas dessas localidades, a seca prolongada está provocando o secamento de rios e córregos.
 
 
De acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), mais de 300 cursos d'água já secaram no Norte do estado, afetando diretamente mais de 20 mil famílias que dependem dessas fontes para abastecimento de água potável e produção de alimentos, conforme adiantou reportagem exclusiva do Estado de Minas publicada neste domingo.
 
 
Um período muito seco como o atual pode causar impactos longos na vegetação e nos recursos hídricos. O racionamento de água é uma das consequências da estiagem que atinge Minas. Nesta sexta, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) adotou o sistema de rodízio de abastecimento em três municípios: Prata, no Triângulo Mineiro, e Lavras e São Gonçalo do Sapucaí, no Sul do estado.
 
 
O estado de alerta se estende também para os principais rios e reservatórios de Minas Gerais. Segundo o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), cinco porções hídricas estão oficialmente em situação de escassez. Isso inclui trechos de bacias importantes, como as dos rios das Velhas e da Prata, bem como as regiões ao redor da estação Velho do Taipa, no Rio Pará, e da estação Barra do Xopotó, no Rio Xopotó. Com isso, a captação de água será reduzida em diversas categorias de uso, com cortes que variam de 20% a 50%, dependendo da finalidade.