No domingo (15/9), o Corpo de Bombeiros combateu focos de incêndio em área rural não protegida em Bocaiuva, em Minas Gerais -  (crédito: CBMMG / Divulgação)

No domingo (15/9), o Corpo de Bombeiros combateu focos de incêndio em área rural não protegida em Bocaiuva, em Minas Gerais

crédito: CBMMG / Divulgação

Nas últimas 24 horas, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais (CBMMG) recebeu 399 acionamentos para ocorrências de incêndios em vegetação em todo o estado. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foram 124 ocorrências. Os dados apresentados pela corporação equivalem ao período das 14h de domingo (15/9) às 14h desta segunda-feira (16/9). Ao longo de todo o fim de semana, desde a sexta (13/9), houve 1.299 chamados.


 

Os militares atuam no combate às chamas em nove unidades de conservação do estado. No Parque Estadual Serra do Brigadeiro, na Zona da Mata mineira, os trabalhos entraram no 15º dia. Segundo a sala de imprensa dos Bombeiros, os focos estão concentrados no pico da serra, conhecido como Matipó Grande. 


As operações também seguem no Santuário do Caraça. Pelo sexto dia seguido, os militares combatem a queimada aos arredores da Reserva Particular do Patrimônio Natural, entre as cidades de Catas Altas e Santa Bárbara, na Região Central de Minas. O fogo começou na manhã da última terça-feira (10/9) e permanece queimando a vegetação de Mata Atlântica nativa da região. A área incendiada só poderá ser mensurada posteriormente, com auxílio de satélites.


 

No domingo, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 329 focos de incêndio ativos foram detectados pelo principal satélite da instituição. As ocorrências no estado superam as registradas em todos os estados brasileiros e colocam Minas no topo da lista de queimadas ativas, superando Amazonas, Pará e Mato Grosso - unidades da federação que, desde o início de agosto, vêm registrando incêndios de grande proporção.



De onde vem o fogo?


O ano de 2024 já computou 8.805 focos de incêndio em vegetação no país. Este é o maior índice desde 2011, quando foram 4.423, segundo dados apresentados pelo Inpe. O Brasil lidera a quantidade de registros entre os demais países da América do Sul. De 1º de janeiro até esse domingo (15/9), foram 184.363 focos. 


 

Ainda segundo o instituto, neste ano, até 15 de setembro, foram registrados 92.064 focos de incêndio na Amazônia. Desses, 2.284 aconteceram entre sábado e domingo. Já no Cerrado, presente em parte das regiões Centro-Oeste, Sudeste e parte do Nordeste, houve 60.056 queimadas, sendo 1.459 nas últimas 48h. 


No Cerrado, as adversidades mais comuns, enfrentadas pelas espécies de fauna e flora das regiões, são aquelas causadas pelo fogo. O professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Bernardo Gontijo explica que o bioma já é adaptado para resistir às queimadas, no entanto, não aquelas de grande proporção, normalmente provocadas pela ação humana.


“A questão dos incêndios em se tratando do bioma do Cerrado é algo já bem conhecido e esperado. Principalmente, no auge da estação seca, no auge da ausência de água do ecossistema. E é em função disso que o material combustível, ou seja, a vegetação seca, se torna extremamente propenso para a queima, desde que, claro, haja a existência de oxigênio e calor”, destaca. 


 

Mesmo com toda a propensão a queimadas, um dos principais gatilhos para os incêndios em grande proporção que acontecem, não só no Cerrado, é a ação humana. Gontijo explica que as áreas verdes se não são bem cuidadas estão mais vulneráveis. Os parques nacionais e estaduais que fazem limites com manchas urbanas estão cercados de mineração e loteamentos, isso é mais difícil de controlar.


Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

“A maioria dos incêndios é causada pela ação humana. Em raros casos, o que pode acontecer é a ocorrência de descargas elétricas por raios e relâmpagos na vegetação, e a maior probabilidade desses episódios é durante a chegada das chuvas no fim do ano”, ressaltou o professor. 


No entanto, esses tipos de ocorrências são facilmente diferenciadas. Para o professor da UFMG, uma das principais discrepâncias é em relação à proporção. “Quando ocorre o fogo por fatores naturais, ele tende a evoluir pouco e aí acaba sendo algo de pequena proporção. Qualquer incêndio em grande proporção, dependendo da época do ano, você pode ter certeza que mais de 90%, ou mais, são fruto de ação humana. Deliberada ou não. Aquela coisa do doloso ou culposo. Culposo sempre é. Agora, quando tem o dolo, a coisa complica; e às vezes isso acontece. De forma trágica, mas acontece."