Uma de cada quatro pessoas que vivem sob seca extrema no Brasil está em Minas Gerais neste mês de setembro. Essa é praticamente a proporção mostrada pelo ranqueamento da situação da estiagem no Brasil formulado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Quase 2 milhões de pessoas (1.906.314) no país estão em municípios afetados pelas condições mais críticas de calor, baixa umidade e falta de água, sendo 435.065 em território mineiro (22,8%).
A área atingida no estado é de 37.599,05 quilômetros quadrados (km²). Em comparação, seria maior que a soma das regiões metropolitanas do Sudeste, agregando as áreas metropolitanas de Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, que juntas chegam a 33.582km², segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No Brasil, são 116 municípios sob a seca extrema, sendo 26 deles mineiros. A área afetada pela estiagem mais crítica é de 448.427,029km². Para se ter uma ideia, uma extensão de terreno maior que a soma das áreas de Itália, da Holanda e de Portugal, que chega a 431,6 mil km².
Além dos 26 municípios mineiros sob seca extrema, quatro terras indígenas sofrem com a baixa umidade, segundo os dados do Cemaden, além de ondas de calor e restrições hídricas advindas da estiagem, sendo três nas terras Xacriabá e uma na Xacriabá Rancharia, nos municípios de São João das Missões, Cônego Marinho e Itacarambi, todos no Norte de Minas.
Segundo o Cemaden, a seca extrema é uma condição em que a falta de chuvas, a umidade do solo e a secura da vegetação atingem níveis críticos, muito abaixo dos índices considerados normais para a região. Para classificar a severidade da seca é utilizado o Índice Integrado de Secas do Cemaden/MCTI, que incorpora em sua formulação dados de déficit de chuva acumulado, teor de umidade do solo e condições da vegetação. Essas três variáveis são analisadas em relação à sua média histórica, e a classe de seca é então obtida pelos desvios dessas variáveis em relação às suas respectivas médias. Quanto maior o desvio padrão dessas três variáveis, maior a intensidade da seca.
Sob tais condições de tempo e umidade, ocorrem diversas situações críticas para a população e o meio ambiente. Rios importantes, como o Negro e o Solimões, no Amazonas, na Região Norte do Brasil, estão com níveis de água significativamente baixos, afetando a navegação e o abastecimento de água. Há impacto na agropecuária e 963 municípios em estados como Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso estão com mais de 80% de suas áreas produtivas comprometidas.
A falta de chuvas e as altas temperaturas facilitam a ocorrência de incêndios, que destroem a fauna e a flora, além de degradar a qualidade do ar. No Norte do país, a seca dos rios isola comunidades, dificultando o acesso a recursos básicos e à mobilidade. Há aumento dos custos da energia e da distribuição de água. A seca prolongada pode levar à elevação das contas de energia e até ao racionamento de água em algumas regiões.
Ainda segundo o Cemaden, dois fenômenos que atuam no longo prazo contribuem para a seca extrema. "As mudanças climáticas, que estão gerando um aquecimento progressivo da atmosfera e tendem a produzir sequências mais longas de dias sem chuva. E as mudanças do uso do solo que, ao substituir áreas de floresta por espaços dedicados à agricultura ou às pastagens, degradam uma fonte importante de umidade, tanto do ar quanto do solo, o que deriva na redução da umidade ambiente e, consequentemente, das precipitações", indica o centro.
"Em relação aos dias consecutivos sem chuva, as regiões Centro-Oeste, parte do Sudeste e Nordeste são as mais afetadas pelo déficit hídrico, com mais de 100 dias consecutivos sem precipitação, especialmente em Goiás e partes dos estados do Mato Grosso, Minas Gerais e Bahia. As regiões mais ao norte e ao sul do país apresentam uma condição mais favorável, com menos de 30 dias consecutivos sem chuva. De acordo com os dados, municípios no estado de Minas Gerais, concentrados na porção semiárida, como Verdelândia, Nova Porteirinha, Pai Pedro, Janaúba, Catuti e Capitão Enéas, além de outros no entorno, já acumulam mais de 150 dias sem chuva", destaca o Cemaden.
RESERVATÓRIOS EM BAIXA
Ontem (23/9), os reservatórios da Copasa que abastecem a Grande BH se encontravam em queda, nenhum deles tendo recebido chuvas desde abril de ao menos 0,1 milímetro. Em 2023, a média de chuvas de setembro nesses reservatórios foi de 31,5mm). O indicador médio histórico é de 40,43mm. O nível mais baixo é o da represa de Vargem das Flores, entre Betim e Contagem, que está com 44,3% de sua capacidade. Em seguida vêm Rio Manso, com 57,1%, e Serra Azul, com 67,4%, totalizando 58,6% do Sistema Paraopeba.
A Copasa também capta água do Rio das Velhas, mas não divulga diariamente as condições de volume de água e captação no manancial. Nesse rio, que é responsável pela água de 60% da Grande BH, também não ocorreram chuvas de até 0,1mm em suas cabeceiras. A média de setembro de 2023 era de 6,4mm, enquanto a histórica do mês é de 43,7mm, segundo a Copasa.
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Pelas medições (telemetria) da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o segmento onde é feita a captação de água do Rio das Velhas, na estação de Bela Fama, em Nova Lima, os dados não estão sendo gerados. Contudo, um segmento antes e um logo após a captação mostram que o rio se encontra na cota de estiagem, abaixo de 90% do nível que se espera encontrar durante um ano normal, considerando as variações naturais do regime hídrico, o que se traduz em nível abaixo do esperado e próximo de condição de escassez. Mesma situação do Rio Paraopeba, onde a empresa de saneamento e distribuição de água também tem uma captação para a Grande BH, em Brumadinho.