Combate aos quatro focos de incêndios na Serra do Caraça entra em seu 12º dia consecutivo -  (crédito: Sala de Imprensa/CBMMG)

Combate a incêndios em vegetação desafia bombeiros em Minas Gerias

crédito: Sala de Imprensa/CBMMG

Minas Gerais enfrenta neste ano um dos piores períodos de estiagem. Com ausência de chuvas significativas e baixo índice de umidade, o aumento das queimadas tem sobrecarregado o Corpo de Bombeiros (CBMMG). De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado tem o maior número de queimadas desde 2011. Até agosto, Minas teve 5.673 incêndios em vegetação detectados por satélite.

 

 

A alta demanda dificulta a atuação dos bombeiros que, às vezes, precisam optar qual ocorrência priorizar. Na noite dessa segunda-feira (23/9), um incêndio florestal tomou conta de um lote na Alameda Paineiras, no bairro Jacques Ville, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No entanto, a corporação estava atendendo outras chamadas no momento do ocorrido e não pôde ir de imediato, gerando revolta em alguns moradores da região.


“Eu liguei para os bombeiros várias vezes, porque minha mãe pediu e me falou que o fogo estava muito próximo da minha casa. Eu estava saindo do meu trabalho quando minha mãe ligou. Eu liguei lá desesperada e expliquei tudo pra moça [do atendimento do CBMMG]. Ela disse que como eu não estava no local, ela não tinha nada o que fazer, deu boa tarde e desligou na minha cara”, relata a moradora do bairro Sarah Pezzi, de 23 anos.


Em seguida, a residente do bairro ligou repetidas vezes para tentar contato, mas não recebeu uma resposta animadora. De acordo com Sarah, os bombeiros informaram que não seria possível realizar o atendimento naquele momento, pois não havia viatura disponível e que os militares estavam combatendo um incêndio no bairro Jardim Imperial, próximo à Avenida Bandeirante Felipe Rodrigues, e depois iriam ao bairro Palmital e Joá, respectivamente. Segundo a moradora, a corporação chegou quando o incêndio já estava controlado.


“Eles chegaram aqui quando não tinha mais fogo. Todos os moradores do bairro se compadeceram com a situação e ajudaram. O fogo se alastrou, deve ter pego uns seis lotes. Pegou fogo em tudo”, finaliza a jovem.

 


Também em Lagoa Santa, no Bairro Joá, Lídia Souza viveu algo parecido no domingo (22/9). Ela conta que chamou os bombeiros pela primeira vez às 10h e, no decorrer de duas horas, ligou mais vezes pois o fogo não parava de se alastrar. Vizinhos também acionaram a corporação.

 

Lídia diz que numa das ligações os bombeiros falaram que "iam pedir para agilizar o atendimento". Os militares chegaram por volta do meio dia.

 

Enquanto esperavam, os moradores se reuniram para coletar a água da piscina de duas casas com baldes e tentar apagar as chamas. Um dos focos do fogo eles conseguiram apagar, mas outro só foi controlado pelos bombeiros.

 

Apesar do tempo de espera, Lídia reconhece que os militares deviam estar ocupados com outros incêndios.

 

Maior inimigo

Nas redes sociais, moradores da região relataram estar sofrendo com queimadas próximas a suas casas e com a impossibilidade dos bombeiros atenderem no momento. Vídeos registraram a cena de destruição do fogo na vegetação, próxima a uma via movimentada. Em outras imagens é possível ver as chamas dominando a vegetação do chão se aproximando de casas. A população culpa os causadores dos incêndios e clamam por mudanças.


“A demanda está tão alta que os bombeiros não dão conta. É muito incêndio em tudo quanto é lugar. Todos os dias. Está cansativo e o governo não faz nada!”, comentou uma mulher em um vídeo publicado no Instagram.


“Pessoal, não adianta cobrar prefeitura, governo ou bombeiros, a solução vem da humanidade mesmo, donos de lotes precisam capinar e recolher os matos, moradores precisam denunciar quando ver alguém colocando fogo, e ter o mínimo de consciência que não é para colocar fogo, um pouco de consciência já muda bem o cenário! Isso parte de nós mesmo não das autoridades, afinal a culpa é do próprio ser humano”, disse outra.


“Venho batendo nessa tecla, enquanto Lagoa Santa não punir severamente com multas caras, isso não terá fim! Hoje, uma casa no Centro da cidade estava queimando mato no seu próprio quintal e a fumaceira estava matando quem estava ao redor! O nosso céu já não é mais azul e o ar cada dia pior! Pedimos socorro a quem possa nos socorrer!”, relatou mais uma.

 

 

Alta demanda


Conforme as ocorrências foram finalizadas no decorrer da noite, uma equipe do CBMMG foi empenhada ao local, mas a situação já estava controlada. Segundo os militares, nesses casos, é preciso realizar uma triagem, que pondera eventuais duplicidades e variáveis de risco de propagação, edificações próximas e vidas em risco. O escalonamento de prioridades é feito para direcionar o emprego e o remanejamento inteligente de recursos, conferindo eficiência ao gasto público


Em nota, os bombeiros reforçam seu compromisso de transparência das suas ações, “firme no propósito de salvar vidas”. Os militares informaram, ainda, que “em casos de emergências graves simultâneas, há a necessidade de priorização dos recursos de modo a garantir o salvamento de pessoas em risco iminente de vida”. Segundo a corporação, os focos de calor na Região Metropolitana de BH são monitorados por imagens de satélite da Sala de Coordenação Operacional. 


“O Corpo de Bombeiros Militar informa que, frente à enorme demanda por emergências de incêndio em vegetação opera atualmente com reforço de efetivo na ponta da linha, remanejando bombeiros de funções administrativas. A corporação segue presente nos atendimentos de incêndios em vegetação nas áreas urbanas e reforça a orientação para que as edificações cercadas por mata estejam protegidas também por aceiros”, conclui a nota.


Punição


Segundo o governo estadual, a ofensiva das autoridades contra incêndios criminosos em Minas já resultou na condução de 216 pessoas por crimes relacionados a incêndios, sendo 76 por crimes ligados a queimadas florestais.


O aumento expressivo de queimadas no estado tem mobilizado uma intensa operação para identificar e punir os responsáveis. A prática de atear fogo em áreas de vegetação é considerada crime ambiental, conforme estabelecido pelo artigo 41 da Lei nº 9.605/98, que prevê punições para atividades que prejudiquem o meio ambiente.


Entre janeiro e setembro de 2024, a Polícia Civil (PC) indiciou 91 pessoas por crimes relacionados a incêndios em Minas, um aumento de 13,75% em relação ao mesmo período de 2023. Ainda assim, o número é muito inferior ao de ocorrências registradas. A dificuldade em identificar os responsáveis é uma das principais barreiras no combate a esses crimes.


Cenário nacional


Embora Minas enfrente grandes incêndios florestais, o problema é ainda maior. De acordo com o Monitor do Fogo Mapbiomas, de janeiro a agosto de 2024 os incêndios no Brasil já atingiram 11,39 milhões de hectares do território do país. Desse total, 5,65 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo apenas no mês de agosto, o que equivale a 49% do total deste ano.

 

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Nesses oito primeiros meses do ano, o fogo se alastrou principalmente em áreas de vegetação nativa, que representam 70% do que foi queimado. As áreas campestres foram as que os incêndios mais afetaram, representando 24,7% do total. Formações savânicas, florestais e campos alagados também foram fortemente atingidos, representando 17,9%, 16,4% e 9,5% respectivamente. Já as pastagens representaram 21,1% de toda a área atingida.