Entrada do Malleta, na avenida Augusto de Lima,  cuja obra foi embargada pela PBH -  (crédito: Alessandra Mello/EM/D.A. Press)

Entrada do Malleta, na avenida Augusto de Lima, cuja obra foi embargada pela PBH

crédito: Alessandra Mello/EM/D.A. Press

A equipe da fiscalização de controle urbanístico e ambiental da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) embargou, nesta terça-feira (24/9), uma obra que vinha sendo realizada no hall de entrada do Edifício Maletta, prédio histórico do Centro da capital mineira, na portaria da Avenida Augusto de Lima.  O condomínio também foi multado.

 

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De acordo com a PBH, o projeto de reforma não passou pelos órgãos de proteção do patrimônio. “O Edifício Maletta pertence ao conjunto urbano protegido rua da Bahia e adjacências. Nesse sentido, qualquer intervenção deve ser previamente aprovada pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM-BH) e pela Diretoria de Patrimônio Cultural (DIPC)”, diz a PBH.

 

 

Os canteiros que existiam em ambos os lados foram destruídos e todas as plantas arrancadas. De acordo com condôminos ouvidos pela reportagem, o projeto de reforma incluía rebaixamento do teto com gesso, troca da iluminação, retirada das grades de ferro antigas para colocação de persianas e blindex e alteração do piso. Eles também relataram que a obra, que começou semana passada, foi adiada mais de um vez por questionamentos feitos pelos moradores e comerciantes.

 

 

O síndico do Maletta, Amauri Batista, foi procurado, mas de acordo com informações da telefonista, ele estava na PBH.A reportagem deixou um contato e aguarda uma posição sobre as obras. A obra foi embargada depois de um questionamento feito pelo EM sobre as intervenções, já que não havia no local nenhuma placa de autorização do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte.

 

 

De acordo com a PBH, o Maletta tem Registro Histórico Documental, segundo grau na escala de proteção do patrimônio, instrumento atribuído a edificações com valor histórico-urbanístico, mas que, isoladamente, não apresentam características relevantes capazes de justificar seu tombamento.

 

Localizado no cruzamento da avenida Augusto de Lima e rua da Bahia, o Condomínio do Edifício Arcângelo Malleta, nome oficial do imóvel, começou a ser construído, em 1957, no terreno onde antes existia o Grande Hotel, demolido para dar lugar ao prédio, batizado com o nome de seu proprietário, Arcângelo Maletta. Inaugurado em 1959, o local abriga imóveis residenciais e comerciais e é também reduto de bares, sebos, lojas de discos e ponto turístico da capital.

 

O arquiteto e pesquisador do patrimônio arquitetônico da capital, Ulisses Morato, lembra que onde existe hoje o Maletta já foi o icônico Grande Hotel, projetado pelo Edgar Nascentes Coelho, também responsável por outro ícone da cidade, o Antigo Teatro Municipal.

 

“O Grande Hotel foi inaugurado em 1897, junto com a cidade, abrigando amplos quartos e salões para refeições e festas, tendo recebido ao longo da sua história muitas personalidades da cultura, das artes, da política”. Segundo ele, em 1918, o imigrante italiano Arcangêlo Maletta, comprou o hotel e ali inaugurou o bar do Grande Hotel, que passou a ser também um ponto de encontro muito importante na cidade, que reunia a intelectualidade da capital.


“Depois, em 1957, os filhos do Arcângelo Maletta, demoliram o Grande Hotel e em seu lugar construíram o atual edifício, o Maletta, já com um projeto modernista, feito pelo arquiteto mineiro Oswaldo Santa Cruz Neri, que também projetou outros edifícios icônicos da cidade, como Panorama, o edifício da atual Faculdade de Direito e o Joaquim de Paulo, que é um arranha-céu na Praça Sete”, afirma.

 

Morato destaca que o edifício abriga a Cantina do Lucas, tombada como patrimônio imaterial da cidade. “Por toda essa memória cultural e arquitetônica, o edifício tem grande valor patrimonial para Belo Horizonte e merece ser preservado”.

 

O Maletta tem 19 andares na área comercial e 31 no espaço residencial. São 319 apartamentos, 642 salas, 72 lojas e 74 sobrelojas.