Bonnie Zaire é doutora em astrofísica pela Universidade Paul Sabatier, em Toulouse, na França
 -  (crédito: Divulgação: Mateus Miranda / UFMG)

Bonnie Zaire é doutora em astrofísica pela Universidade Paul Sabatier, em Toulouse, na França

crédito: Divulgação: Mateus Miranda / UFMG

O planeta GM Aurigae b tem massa similar à de Júpiter e orbita a estrela GM Aurigae. A responsável pela descoberta é Bonnie Zaire, natural de Belo Horizonte e pós-doutoranda do Departamento de Física da UFMG. “Observar estrela (GM Aurigae) é como se a gente estivesse observando um recém nascido, com 16 dias de vida, pra poder tentar entender um idoso (nosso Sol) de cem anos de idade. A gente pode tentar entender sobre o Sol quando ele era jovem” explica a pesquisadora.

 

 

Segundo Zaire, comparada com o nosso astro-rei, que tem 4,5 bilhões de anos, a GM Aurigae é uma estrela bem jovem, com cerca de 1,5 milhão de anos. A novidade foi revelada por meio de um artigo publicado neste mês na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, do Reino Unido.

 

O planeta GM Aurigae, que está a 521 anos-luz do Sol, na verdade ainda é candidato a planeta, por convenção do campo científico, ele só pode ganhar esse nome a partir do momento em que for detectado novamente, por meio de novos dados, coletados com outro telescópio, seja pelo mesmo ou por outro pesquisador.

 

Para efeito de comparação, a distância entre o planeta descoberto por Bonnie é cinco vezes menor do que a distância que Mercúrio tem do nosso astro-rei. Considerando que Mercúrio é o corpo celeste mais próximo do Sol no nosso sistema solar, fica mais fácil entender por que este novo mundo, para os astrofísicos, é um “Júpiter quente”, já que um planeta muito próximo de sua estrela implica uma faixa de temperatura muito alta.

 

 

Futuro da Terra


A pesquisadora explicou que, assim como toda estrela que ainda não queima hidrogênio no centro, a estrela GM Aurigae está se contraindo para alcançar o estágio em que o Sol se encontra, permitindo que permaneça assim por bilhões de anos.

 

Zaire revelou ainda que as observações feitas por ela ajudam a compreender melhor as teorias existentes para explicar como nosso sistema solar se formou e o quão único ele é quando comparado a outros sistemas planetários detectados nas últimas décadas. “O planeta que detectamos, sendo muito jovem, fornece dados para validar essas teorias”, destaca.

 

 

Uma das hipóteses mais aceitas para explicar esse tipo de planeta que observamos, chamado de “Júpiter-quente”, é a teoria da migração planetária. Em tese, esses planetas massivos, com a massa de Júpiter, se formam longe no disco protoplanetário (um disco de gás e poeira, com partículas de rocha e gelo). A teoria proposta sugere que esses planetas mais massivos migram e se aproximam da estrela.

 

A pesquisadora destacou também que é muito importante compreender como esses planetas são formados e como ocorre essa amplificação do campo magnético, para tentar entender, por exemplo, o futuro da Terra em relação ao Sol. “Existe um questionamento a respeito do campo magnético do Sol, que pode futuramente gerar alguns eventos danosos para a vida na Terra”, relatou a astrofísica.

 

A descoberta foi feita por meio de um telescópio situado a mais de 4 mil metros acima do nível do mar, em um vulcão no Havaí, arquipélago dos Estados Unidos. O céu havaiano e a ausência de poluição luminosa urbana tornam a localização estratégica para pesquisas relacionadas à busca de exoplanetas.

 

 

Quem é Bonnie Zaire?

 

Bonnie Zaire tem 30 anos e é natural de Belo Horizonte. Além de ser bacharel e mestre em Física pela UFMG, é doutora em astrofísica pela Universidade Paul Sabatier, em Toulouse, na França.

 

Sua dissertação de mestrado tinha como objetivo investigar a geração de campos magnéticos em estrelas com a mesma massa do Sol, mas com diferentes idades.

 

Ao final do mestrado, ela precisou aprender uma técnica para reconstruir o campo magnético na superfície das estrelas, mas, na época, não havia especialistas da área no Brasil. Por conta disso, optou por cursar seu doutorado na França e trabalhar com Jean-François Donati, pesquisador líder mundial dessa metodologia.

 

Reconhecimento para o Brasil

 

A primeira detecção de um planeta, ou sistema planetário, orbitando uma estrela jovem com disco protoplanetário ocorreu no fim da década passada. Segundo Bonnie, dos 5.747 planetas detectados até hoje, apenas três foram identificados em estágios iniciais. GM Aurigae b, descoberto na UFMG, é um deles.

 

Esta também é a primeira descoberta de um planeta 100% feita dentro da UFMG. Bonnie revelou que sua expectativa é aumentar ainda mais o número de planetas detectados pela universidade.

 

“Eu fico muito feliz em liderar essa pesquisa que levou à detecção de um planeta, não só pela importância que ela tem do ponto de vista científico, mas também porque fiz essa descoberta enquanto pós-doc do Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais”, declarou a astrofísica.

 

Zaire, que em breve será professora no Departamento de Física da UFMG, foi aprovada no último concurso para docente e explicou que pretende montar um grupo alinhado com outros pesquisadores do departamento. “É um reconhecimento também para a sociedade, de colocar o Brasil como um país que desenvolve ciência de ponta” conclui a Professora da UFMG.

 

 * Estagiária sob supervisão da subeditora Fernanda Borges