Minas Gerais é o estado com maior número de pessoas de 60 anos ou mais internadas depois de serem atropeladas no país, apontam dados divulgados ontem pela Sociedade Brasileira do Trauma Ortopédico (SBTO). No Dia Nacional do Idoso, comemorado hoje (27/8), o levantamento alerta para acidentes que têm se tornado cada vez mais comuns nessa faixa etária. As causas para este fenômeno são múltiplas e os atropelamentos podem provocar politraumatismos ou fraturas de recuperação mais difícil e complexa. Além disso, especialistas acreditam que o problema exige atenção redobrada de motoristas e pedestres para garantir a segurança de todos no trânsito.
Segundo os números compilados pela entidade nos registros do Ministério da Saúde, de janeiro de 2023 até junho deste ano foram feitos 4.439 atendimentos hospitalares e 557 ambulatoriais relacionados a pedestres traumatizados em acidente de trânsito não especificado, no Brasil, na faixa etária acima de 60 anos. No mesmo período, foram registradas 2.352 mortes de pedestres idosos por lesões de trânsito. Em Minas foram 1.703 pacientes acima de 60 anos internados pelo SUS por atropelamento e 217 mortes por lesões de trânsito. No caso das internações, o estado de Minas Gerais é seguido por São Paulo, com 652 casos, e Rio de Janeiro, com 364. O maior número de óbitos, entretanto, foi registrado em SP: 508.
O último Relatório de Sinistros de Trânsito com Vítimas em Belo Horizonte, divulgado pela BHTrans e referente a 2023, aponta que a capital registrou 13.886 acidentes, dos quais 1.431 tiveram pedestres como vítimas, com 35 mortes. Das 1369 vítimas que sobreviveram, 363 têm mais de 60 anos, o que representa pouco mais de 26% do total. É a faixa etária com maior número de vítimas.
Para o médico ortopedista Gustavo Waldolato, membro da Sociedade Brasileira do Trauma Ortopédico e professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, o número de vítimas em Minas está relacionado ao fato de a expectativa de vida ser maior no estado, conjugado com características das idades mais avançadas.
“Segundo o IBGE, a média do estado é de 78,4 anos, que é acima da nacional de 77 anos. Temos mais idosos”, cita o médico, antes de elencar fatores que fazem dos idosos alvo dos atropelamentos: mobilidade reduzida, reflexo mais lento, problemas de visão e audição. O médico destaca ainda que os idosos, em geral, usam muitas medicações. “Muitas delas geram interações medicamentosas que podem causar sonolência, confusão. Durante uma travessia, tem o risco de eles se perderem ou até ficarem suscetíveis a atropelamentos.”
Como consequência dos acidentes, os idosos podem sofrer de fraturas comuns a politraumatismos. “Em geral, sabemos que o idoso tem problemas como pressão alta, diabetes, demência, além de ossos mais frágeis sendo mais suscetíveis às fraturas. Uma fratura em um idoso causa um desequilíbrio completo no corpo. Eles não têm reserva fisiológica tão adequada quanto um jovem. As fraturas em idosos são muito mais graves, principalmente as com maior energia em decorrência de atropelamento.”
As internações também demandam mais cuidados em relação a essa faixa etária. “Pelas comorbidades, o idoso vai precisar de um leito de terapia intensiva, com custo mais alto que um leito convencional. Esse idoso vai ser observado por vários especialistas, usar uma quantidade maior de medicamentos. Além disso, o tempo de recuperação cirúrgico é muito maior. É uma questão de saúde pública.”
Segundo Waldolato, é fundamental prevenir a queda em idosos. “É um fator de risco muito importante de mortalidade dos idosos. Eles não podem cair. Em idosos acima de 80 anos, metade das quedas leva a uma fratura. Por mais simples que seja o atropelamento, a chance de levar a uma fratura é muito grande. Fazer uso de bengalas, andador, andar com um acompanhante é muito importante, além de estar com o controle medicamentoso em dia.”
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O diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra, corrobora o diagnóstico de Waldolato quanto às condições de saúde que expõem os idosos aos atropelamentos. Para o especialista, é fundamental adotar práticas seguras, como utilizar faixas de pedestres, atravessar em locais bem iluminados e movimentados e evitar cruzar ruas sem sinalização. “Motoristas também devem estar atentos e respeitar sempre o tempo e as limitações dos pedestres mais velhos. Essa conscientização é essencial para preservar a vida e a saúde dos idosos no trânsito.” E conclui: "Reconhecer as limitações que o tempo impõe é um gesto de sabedoria; é entender que a vulnerabilidade da idade nos chama a buscar, de forma consciente e preventiva, novas ferramentas que ampliem a segurança e protejam a vida em cada passo que damos.”