Na Avenida Carandaí, próximo ao Colégio Arnaldo, um conjunto de 11 barracas azuis traz para a Região Centro-Sul da capital mineira uma amostra do passado. As antiguidades à venda evocam recordações ou trazem descobertas para aqueles que não pertenceram à época. No entanto, a nostalgia não é provocada somente pelos objetos, mas também pelas lembranças de como a Feira de Antiguidades de BH costumava ser.

 

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

 

“Será que estou no dia certo?”, questionou João Antônio de Cerqueira, de 36 anos, ao chegar no local onde a feira é realizada e se deparar com algo diferente do que visitou há cinco anos. Ao avistar os toldos azuis, ele, que trabalha com antiguidades em Recife (PE), percebeu que era o dia certo da exposição. A feira é que havia mudado.

 

 



 

João Antônio, que revende as peças e considera justos os preços da Feira de Antiguidades de BH, lembra da exposição tomando todo o quarteirão, inclusive com barracas de alimentação ao lado. O cenário é bem diferente do atual punhado de barraquinhas no local.

 

 

Expositores

A diferença entre o passado e o presente da feira não é percebida apenas por aqueles que passam por ela. Eduardo Contin Gomes, de 74 anos, é expositor e diz que nota, assim como outros expositores, a necessidade de revitalização. “Quem visita a nossa Feira de Antiguidades aos sábados tem a impressão de que ela está acabando, desleixada, sem “novidade”, sem atuação dos expositores”, diz.

 

 

 

 

Ele, que participa da feira desde 1996, associa o atual cenário principalmente com a falta de admissão de novos expositores. “O último credenciamento da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) foi em 2015, para um total de 22 expositores, com permissão de uso do espaço público por cinco anos, portanto, vencidos. Nós, os expositores, na maioria temos mais de 70 anos e, devido a esta idade e à COVID-19, muitos deixaram a feira e alguns faleceram”, explica o vendedor de canetas tinteiro antigas e aparelhos telefônicos antigos.

 

 

Eduardo diz que sobraram 11 dos comerciantes que foram credenciados por meio de licitação e, mesmo com o vencimento da permissão de uso e a pandemia, não houve admissão de novos expositores para suprir a falta. Segundo ele, atualmente não há nenhuma fiscalização. Portanto, qualquer nova pessoa pode expor no espaço, o que acaba resultando na venda de produtos que não são antiguidades legítimas, algo que o credenciamento regulava, diz.

 

 

O vendedor de antiguidades conta também que as estruturas das barracas estão desgastadas, o que reforça o aspecto de abandono. Para Eduardo, o cenário interfere também no próprio trabalho dos vendedores, especialmente pelo processo de curadoria das peças ser minucioso e trabalhoso. “Como é que você vai investir em uma coisa que tem a impressão que está acabando?”, critica.

 

 

 

 

Fernando Henrique de Almeida é expositor há 12 anos e corrobora com o que Eduardo Contin diz sobre a feira estar abandonada pelo poder público. Ele relata que, até para se credenciar, foi custoso. “Eu queria vender meus cartões-postais de Belo Horizonte, queria vender meus cartões-postais de coleção das minhas antiguidades, vender meus vinis raros, mas ninguém deixava eu participar da feira”, conta.

 

 

Procurada pelo Estado de Minas, a PBH informou que um mecanismo para regularizar a situação dos feirantes atuais está em estudo. O objetivo é que, em seguida, seja promovido um novo "chamamento público para preenchimento das vagas remanescentes, a partir de nova avaliação da demanda e do estudo de novo layout", diz o Executivo municipal. 

 

 

A expectativa é que o edital para promover revitalização e regularização entre em vigor até o início de 2025.

 

A feira

Integrada à feira Tom Jobim, a Feira de Antiguidades de BH expõe itens como cartões-postais, vinis, telefones, malas, revistas e objetos de porcelana e cristal.

 

 

Contin relembra a história da feira e conta que ela surgiu, por volta da década de 1970, na Praça da Liberdade, junto da icônica Feira Hippie, que mais tarde seria transferida para a Avenida Afonso Pena, no coração da capital mineira.

 

 

 

 

Com o aumento no número dos visitantes e a depredação dos jardins da Praça da Liberdade, a Prefeitura de BH decidiu organizar a situação e a Feira de Antiguidades foi deslocada para a Avenida Carandaí, mesma via que acontece hoje em dia, relembra o expositor.

 

A Feira de Antiguidades de BH expõe itens como cartões-postais, vinis, telefones, malas, revistas e objetos de porcelana e cristal

Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press

 

 

Em seguida, Eduardo lembra que a feira mudou para a Avenida Bernardo Monteiro, entre as Avenidas Brasil e Alfredo Balena, mas não recorda a razão.

 

 

Em 2013, as feiras que aconteciam na Bernardo Monteiro precisaram ser realocadas porque as árvores Fícus da região foram severamente acometidas por infestações do inseto conhecido como “mosca-branca-de-ficus”. Dessa forma, a Feira de Antiguidades da capital mineira retornou à Avenida Carandaí, onde está desde então.

 

 

 

*Estagiária sob supervisão do subeditorFábio Corrêa

compartilhe