Minas Gerais já registrou 5.673 focos de incêndio em vegetação em 2024. Este é o maior índice desde 2011, quando foram computados 4.423. Em uma semana, de 25 de agosto até este domingo (1º/9), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 798 focos de queimadas, que foram detectados pelo satélite de referência da entidade. Desde a noite deste domingo, moradores de bairros de Belo Horizonte e região metropolitana estão em alerta devido ao fogo


 

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Em áudio encaminhado aos cidadãos que estavam próximo ao Condomínio Ville de Montagne, em Nova Lima, na Grande BH, o tenente Aguiar, do Corpo de Bombeiros, alertou a população. Na mensagem, o militar disse que uma 'linha de fogo' poderia chegar próximo às casas. Das 18h de sexta-feira (30/8) até o meio-dia desta segunda-feira (2/9), a corporação registrou, pelo menos, 1.155 chamados em vegetação em todo o estado.


 

O tenente Henrique Barcellos explica que a demanda do fim de semana foi acima da média esperada. Ele afirma que o cenário é alarmante, mas não surpreendente. “Conhecemos o mês de setembro, que geralmente é o mais crítico do período de estiagem, e, sabendo das previsões meteorológicas de onda de calor, muitos dias sem chuva e altas temperaturas, já sabíamos que esse cenário mais crítico estava se aproximando.”


 



 

Em Pedra do Anta, na Região Leste do estado, dois irmãos, de 38 e 47 anos, morreram devido a um incêndio em uma área de vegetação próximo a casa em que moravam. De acordo com o boletim de ocorrência, o imóvel estava sendo ameaçado pelo fogo. A dupla então correu em direção ao matagal e tentou conter as chamas usando abafadores.

 


Devido à força das chamas, os bombeiros recomendaram que todos que auxiliavam no combate se afastassem. Durante a madrugada, familiares perceberam a ausência dos irmãos e foram até o local incendiado, onde encontraram os corpos. 


 

De onde vem o fogo?

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que, nas últimas 48h, 11 estados brasileiros registraram mais de 100 focos de incêndio possíveis de serem detectados pelo satélite da entidade. Paraná lidera a lista com 1.641 ocorrências; seguido do Mato Grosso, com 1.600; e do Amazonas, com 1.013. Minas Gerais foi o quarto estado com mais registro – o levantamento aponta 516 focos. 


 

Ainda segundo o instituto, neste ano até 1º de setembro, foram registrados 65.667 focos de incêndio na Amazônia. Desses, 4.656 aconteceram entre sábado e domingo. Já no Cerrado, presente em parte das regiões Centro-Oeste, Sudeste e parte do Nordeste, foram 40.496 queimadas, sendo 1.820 nos últimos dois dias.


 

 

 

No Cerrado, as adversidades mais comuns, enfrentadas pelas espécies de fauna e flora das regiões, são aquelas causadas pelo fogo. Bernardo Gontijo, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que o bioma já é adaptado para resistir às queimadas, mas não àquelas de grande proporção, normalmente provocadas pela ação humana.


 

“A questão dos incêndios, em se tratando do bioma do Cerrado, é algo já bem conhecido e esperado. Principalmente no auge da estação seca, no auge da ausência de água do ecossistema. E é em função disso que o material combustível, ou seja, a vegetação seca, se torna extremamente propenso para a queima, desde que, claro, haja a existência de oxigênio e calor”, explica. 


 

Mesmo com toda a propensão a queimadas, um dos principais gatilhos para os incêndios em grande proporção que acontecem, não só no Cerrado, é a ação humana. Gontijo explica que as áreas verdes, se não forem bem cuidadas, ficam mais vulneráveis. Os parques nacionais e estaduais que fazem limites com manchas urbanas estão cercados de mineração e loteamentos, o que é mais difícil de controlar.


 

 

 

“A maioria dos incêndios são causados pela ação humana. Em raros casos, o que pode acontecer é a ocorrência de descargas elétricas por raios e relâmpagos na vegetação e a maior probabilidade desses episódios é durante a chegada das chuvas no fim do ano”, explicou o professor. 


 

No entanto, esses tipos de ocorrências são facilmente diferenciadas. Para o professor da UFMG, uma das principais discrepâncias é em relação à proporção. “Quando ocorre o fogo por fatores naturais, ele tende a evoluir pouco e aí acaba sendo algo de pequena proporção. Qualquer incêndio em grande proporção, dependendo da época do ano – pode ter certeza que mais de 90% –, é fruto de ação humana. Deliberada ou não. Aquela coisa do doloso ou culposo. Culposo sempre é. Agora, quando tem o dolo, aí a coisa complica, e às vezes isso acontece. De forma trágica, mas acontece.”


 

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