Uma nova espécie de bagre foi encontrada em riachos do Rio das Velhas, na bacia do Rio São Francisco, na Região da Serra do Espinhaço. O peixe foi coletado por pesquisadores de universidades brasileiras, que apontam que a recém-descoberta pode estar seriamente ameaçada de extinção, devido à ação de fatores como a mineração e a expansão urbana.

 

 

Nativos do Cerrado, os espécimes foram localizados no Córrego do Jambreiro, no município de Nova Lima, na Região Metropolitana de BH, e no Ribeirão da Prata, em Raposos, na Região Central de Minas. Os cientistas Axel Katz e Valter Santos contam como foi o encontro com a nova espécie, quando estavam fazendo um trabalho de campo na região próxima a BH. "Na verdade, estávamos procurando espécies de peixes já conhecidas, mas que são mais raras, e eventuais espécies ainda não descritas", comenta.

 

Após muito esforço, o grupo, também composto por Wilson Costa, Felipe Polivanov e Paulo Vilardo, das respectivas universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ), do Tocantins (UFT) e do Maranhão (UFMA) (e da Faculdade Eduvale de Avaré), conseguiu encontrar um pequeno riacho bem preservado. "Para nossa felicidade, encontramos a espécie nova, a qual foi capturada em elevado número de indivíduos. A sensação foi de muita felicidade", comemora a dupla.

 

 


 

Após a coleta, os especialistas depositaram alguns exemplares em coleções científicas. "Isso ocorreu para que pudéssemos começar um trabalho minucioso de comparação da espécie que tínhamos capturado, com outras semelhantes a ela", explicam Axel e Valter. Além de comparar e examinar os ossos dos peixes e outras características relacionadas à estrutura física do animal, eles compararam o DNA com o de outras espécies. A partir disso, puderam concluir com certeza que o peixe, chamado de Cambeva damnata, era inédito.

 

Características e especificidades do peixe

De acordo com os cientistas, o novo bagre não passa despercebido pelas águas. "Ele é bem notável pelo seu padrão de colorido, com alguns pontos dourados no dorso, que são bem chamativos", destaca a dupla.

 

 

A espécie também apresenta dentes verdadeiros fora da boca, como se fossem pequenos espinhos que permitem com que eles consigam escalar cachoeiras e pedras, por exemplo. 

 

Riscos

Valter e Axel afirmam que essa espécie, assim como muitas outras, dependem de pequenos cursos d'água para sobreviver e reproduzir. "A destruição desses riachos ou do seu entorno, usualmente causado por ações humanas, como desmatamento da mata ciliar, assoreamento ou expansão urbana, podem afetar o desenvolvimento do bagre".

 

Além disso, o riacho nasce na Serra do Curral, e por isso, a atividade mineradora também é uma ameaça, uma vez que pode contaminar as águas.

 

Esses fatores, que atingem as duas áreas de ocorrência do peixe, são decisivos para a pesquisa do grupo e a hipótese de que ele pode estar “seriamente ameaçado de extinção”.

 

Há como preservar a espécie?

Para a conservação da espécie recém-descoberta, deve haver um forte incentivo para proteção dos cursos d'água onde ela se encontra, ou seja, evitar o desmatamento e outras perturbações na microbacia onde a espécie ocorre.

 

"Pequenos detalhes alterados podem modificar a qualidade da água e, potencialmente, ser suficientes para levar espécies como essas à extinção", enfatiza a dupla de pesquisadores.

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata

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