Empreendedores de comunidades de Belo Horizonte e região metropolitana têm investido em jornais hiperlocais para contar histórias de personagens negros pouco conhecidos e para ampliar a potência de suas comunidades. “É uma questão de representatividade, de as pessoas enxergarem o que acontece no dia a dia delas no jornal”, diz Lorrayne Batista, jornalista e fundadora do jornal Conecta Cabana, da comunidade Cabana Pai Tomás, em BH.

 



 

Jornalistas-empreendedores reunidos na segunda edição da Expo Favela Minas – feira de negócios realizada nesta sexta (13) e sábado, na sede do Sebrae Minas em BH – destacaram a força dos jornais impressos nas periferias e apresentaram projetos de expandir a conexão com moradores e potenciais investidores.

 

 

Sonho materializado

Entre os mais de 120 expositores desta edição da Expo Favela Minas – de diversas áreas, como artesanato, moda, tecnologia e gastronomia –, três empreendimentos em estágios diferentes compartilham o papel como meio de chegar ao público.


Conecta Cabana, publicação da jornalista Lorrayne Batista

Mannu Meg/EM/D.A Press

 

“Foi só neste ano que eu entendi que o Conecta Cabana é um empreendimento. Ainda estou tentando tornar o jornal sustentável”, diz Lorrayne. Ela levou para a Expo Favela a primeira edição impressa do jornal, em formato de folheto. “É um sonho de papel”, comemorou.


 

Agora, ela quer tornar a publicação sustentável, para conseguir distribuí-la em sete bairros de BH. “Apesar de o mundo hoje ser digital, muita gente ali na comunidade ainda está no impresso”, afirma.


Ensino sobre cultura afro-brasileira

Em circulação há 15 anos, o jornal Afrodescendente, criado pelo jornalista, escritor e músico Rinaldo Robson de Castro, tem como objetivo educacional contar histórias do povo negro. O informativo surgiu com o apoio da Lei 10.639, que em 2003 tornou obrigatório na educação fundamental e média o ensino sobre cultura afro-brasileira.


Rinaldo Costa, fundador do jornal Afro Descendentes,em BH

Mannu Meg/EM/D.A Press

 

“Fiz uma uma matéria a respeito dos 20 anos dessa legislação. Apenas 19% da lei conseguiu se implementar dentro da grade escolar. Tem uma resistência muito grande, mas aos pouquinhos a gente vai tentando abrir diálogos”, afirma.


O recorte racial é prioridade na publicação, única do tipo no formato impresso no Brasil. A distribuição nas escolas funciona por meio de um pacote de assinaturas feito pelas prefeituras.

 

Maquete recria cenas das favelas

Além da ancestralidade, o Afrodescendente conta e incentiva histórias contemporâneas, como a do cantor e artista plástico Celso Moretti. Durante a Expo Favela, o trabalho de Moretti chamou a atenção do público. Ele montou uma maquete de uma favela na entrada da exposição. A obra, chamada “Favela negra”, foi parada obrigatória para fotos e muita admiração pelos detalhes que ele levou para as casas e cenas da comunidade imaginada pelo artista. 


Mannu Meg/EM/D.A Press - Maquete montada na entrada da Expo Favela Minas pelo artista Celso Moretti
Mannu Meg/EM/D.A Press - Maquete montada na entrada da Expo Favela Minas pelo artista Celso Moretti
Mannu Meg/EM/D.A Press - Maquete montada na entrada da Expo Favela Minas pelo artista Celso Moretti

 

“A ideia surgiu de uma caixa em formato de um barraco de favela que fiz para guardar os CDs que gravei com minhas músicas. Comecei a divulgar esse trabalho nas redes sociais e fui juntando outras peças do tipo”, relembra Moretti.

 

O cantor e artista plástico Celso Moretti

Mannu Meg/EM/D.A Press

 

Aos poucos o trabalho do artista ampliou e, depois de mais de dois anos fazendo peças para a maquete, ele concluiu a obra, que atualmente é exposta em museus com o incentivo da Lei Paulo Gustavo (195/2022).


“O trabalho é importante pra mim porque tem essa responsabilidade na construção de pensamentos, na construção de desenvolvimento do ser humano. Quando eu solto uma obra dessa, ponho ela na rua, para mim é como se fosse a conclusão de uma nova música”, comenta.

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