O projeto da Via de Integração Metropolitana, que visa interligar a MG-030 ao Bairro Jardim da Torre, em Nova Lima, e se propõe ainda a melhorar a mobilidade urbana na cidade, em especial a saída para Belo Horizonte. Entretanto, tem causado polêmica entre nova-limenses. Moradores do condomínio Ville de Montagne fizeram uma petição para mudar o traçado do projeto, que prevê a construção de um viaduto próximo aos limites da área. Segundo Camila Adriana Silva Diniz, síndica da Associação Comunitária dos Moradores do Ville de Montagne, a obra vai desvalorizar casas próximas, tornar a área insalubre e desconfigurar o terreno.

 

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“Degrada-se um bairro antigo e povoado como o Ville de Montagne beneficia-se um grande empreendimento imobiliário, que ainda está em fase de implementação. As obras avançam com rapidez, trazendo medo e indignação entre os moradores, os quais nem sequer poderão ter acesso ao uso da via, uma vez que ela apenas rasga o condomínio passando acima dele”, diz o texto da petição.


O impacto, porém, vai além da desvalorização dos imóveis. A arquiteta e urbanista Claudia Pires aponta que o ecossistema da Mata do Jambreiro, que faz parte da Área de Proteção Ambiental Sul (APA-Sul), será atingido. Com diversas nascentes, e configura como uma área de captação de água. “Como urbanista, vejo essa obra com muita preocupação. Porque ela interfere diretamente nas margens de um ecossistema protegido e, segundo alguns estudos feitos, inclusive altera os limites da Mata do Jambreiro. É uma obra para atender o mercado imobiliário”, afirma.





O advogado Lucas Galuppo faz coro com Claudia. Para ele, a obra não resolve a questão da mobilidade e ainda permite o adensamento de uma região que já está completamente saturada. “A Via de Integração deságua na avenida de ligação: uma rua pequena, estreita e com crianças que andam livremente. Primeiro que esse projeto não desafoga nada, segundo, que para fazer a estrada, vai ter que cortar mata de transição de bioma de Cerrado para Mata Atlântica”, diz Galuppo.

 

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Boa parte da população de Nova Lima e BH transita entre as duas cidades diariamente. Alguns pontos, como os bairros Belvedere e Vila da Serra, são tão próximos que se tornaram uma conurbação. Quando acontece algum acidente na MG-030, que atualmente é a principal via e acesso, o trânsito fica totalmente interrompido por horas. Outros caminhos possíveis desviam o trajeto para passar por Macacos, Raposos ou Rio Acima, podendo levar mais de uma hora.


O principal argumento da Prefeitura de Nova Lima é a melhoria da mobilidade urbana e “desafogar” o trânsito na MG-030, “que já possui fluxo de veículos completamente saturado”. Mas, na opinião de Galuppo, a obra tem como objetivo beneficiar a especulação imobiliária.“Esse projeto não vai ligar nada a lugar nenhum. Só vai permitir o adensamento na região do Bellagio”, diz.


Para Ubirajara Pires Glória, presidente da Associação Amigos do Bairro Belvedere há 24 anos, o problema de acesso entre BH e Nova Lima é resultado da falta de planejamento no crescimento do município vizinho da capital. “Construíram a casa, e agora vão ver onde é que pode pôr uma porta de saída”, ironiza.
Ele também aponta que a grande dificuldade do projeto da Via de Integração Metropolitana é passar por uma área de preservação ambiental. Mas, caso o projeto seja implementado, Ubirajara acredita que será parcialmente eficaz. “Pode não ser a melhor, mas é a opção que teríamos para aliviar um pouco o trânsito que vai nas duas direções”.


O advogado e ex-secretário da Fazenda de Nova Lima, Walmir Braga, considera “absolutamente imprescindível” que existam outras formas de acesso entre Nova Lima e BH. “Se a alternativa está mal projetada, ora, então vamos adequar isso. Agora, simplesmente dizer ‘eu não quero ter outra via’, acho que é radicalismo”, opina Braga.


Claudia diz que uma das possibilidades para melhorar a mobilidade metropolitana é a utilização da linha férrea que liga o Belvedere a Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), antigamente usada pela MRS Logística. “Poderia ser utilizada para o transporte público de massa. Existem várias alternativas que ainda não foram esgotadas pela sociedade civil”.

 

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A possibilidade também foi levantada por Braga. Ele defende uma solução conciliada entre a preservação do meio ambiente e a mobilidade urbana. A utilização dos trilhos, entretanto, está fora de cogitação. Em junho deste ano, os prefeitos de BH, Fuad Noman (PSD), e de Nova Lima, João Marcelo Dieguez (Cidadania), assinaram um termo para proteção da linha férrea do Belvedere e um contrato de guarda provisória da área, que pertence à União. O acordo prevê apenas a construção do Parque das Águas no local.

o que diz a PREFEITURA

A reportagem questionou a Prefeitura de Nova Lima sobre a possível utilização de parte da APA-Sul para a realização das obras da Via de Integração Metropolitana. Em nota, o Executivo municipal informou que o processo licitatório para a implatação da via já foi concluído, o contrato assinado, e a ordem de serviço emitida. Disse ainda, que ele “foi cuidadosamente planejado para não interferir nos limites do Condomínio Ville de Montagne”. E completou: “O traçado da via seguiu uma estrada vicinal já existente (não constante do cadastro público), prática comum em projetos de engenharia e planejamento viário”. E reiterou o compromisso com “o desenvolvimento sustentável” e “qualidade de vida de todos os cidadãos’, prezando pelo diálogo. 

 

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