Uma jovem natural de Belo Horizonte teve a sonhada viagem ao Chile interrompida por um ataque brutal. Em entrevista ao Estado de Minas, a vítima, que pediu para não ter o nome publicado, conta que foi estuprada em Santiago, capital do país. Um exame pericial apontou a "suspeita" de estupro mediante violência. O crime sexual repercutiu na imprensa local e, agora, de volta ao Brasil, ela relata não ter tido ajuda do governo brasileiro, mas o Ministério das Relações Exteriores afirma que prestou assistência. 

 

 

Trabalhando na capital mineira como atendente em um restaurante, a jovem diz que juntou R$ 10 mil ao longo de dois anos a fim de conhecer o país sul-americano. A intenção era comemorar o seu aniversário de 26 anos, que foi no sábado (14/9). Ela chegou sozinha a Santiago no último dia 4 e viu a viagem tão aguardada se transformar em pesadelo dois dias depois, quando, pela manhã, estava a caminho de uma casa de câmbio.

 



 

“Ativei o GPS para chegar ao local e, durante o trajeto, passei por uma rua do bairro Itália, que, por sinal, é muito linda, cheia de condomínios, com muitas flores e vegetação pelo caminho. Daí, eu percebi que tinha um homem de moto me seguindo e, de repente, ele parou ao meu lado e puxou a minha bolsa. Eu travei. Não consegui reagir. Ele bateu a minha cabeça com muita brutalidade em uma parede. Acordei com uma senhora chilena tocando em mim e perguntando o que tinha acontecido”, conta. 

 

 

A jovem relata à reportagem que estava com uma calça legging vermelha e, naquele momento, não percebeu que a peça de roupa tinha ficado manchada com sangue. Segundo conta, a via estava pouco movimentada no momento do ataque. A polícia foi acionada e rapidamente chegou ao local, afirma. Conduzida à delegacia, a vítima prestou depoimento e foi levada a um hospital, onde um exame pericial constatou a "suspeita" de "agressão sexual com força corporal". 

 

Exame pericial constatou a suspeita de 'agressão sexual com força corporal'

Arquivo pessoal

 

"Por ter perdido a consciência, eu não consegui dar detalhes da violência sexual, que só descobri quando passei por atendimento médico. Eu fui roubada. Perdi meus documentos, o celular e os cartões. Não tinha mais dinheiro para pagar minha hospedagem no hotel, me alimentar e comprar a passagem de volta", relembra. 

 

 

Ela encaminhou à reportagem o que seriam 'prints' de conversas com o consulado brasileiro em Santiago. Nas mensagens, o órgão teria orientado que a vítima pedisse à família dela no Brasil para "alugar um lugar" para ela ficar. 

 

Em um dos 'prints' do que seriam conversas com o consulado, o órgão orienta que a vítima peça ajuda à família no Brasil

Arquivo pessoal

 

"O que me deixa mais indignada é que meu próprio país me tratou com descaso. Fiquei totalmente desamparada. O governo do Chile, por outro lado, me deu muito suporte. Todas as pessoas lá foram amáveis comigo", lembra a jovem, que, nesse momento, se emociona durante a entrevista. A vítima ainda foi encaminhada pelos policiais para outra unidade de saúde, o Hospital Del Salvador, onde outro exame atestou negativo para HIV. Ela também tomou um coquetel de remédios como medida de segurança. 

 

Sem recursos e abalada com a violência sexual, a jovem foi acolhida na casa de uma policial. "Ela foi muito solidária comigo. Passei uma noite lá, e depois o governo chileno aceitou custear minha hospedagem e alimentação até o dia de voltar para o Brasil", lembra.


Retorno a BH e processo contra o governo

 

A chegada a Belo Horizonte aconteceu no último domingo (15/9). "Eu poderia ter voltado antes, mas um psicólogo me orientou a não fazer isso na tentativa de não deixar esse episódio estragar minha viagem. Como o governo de lá aceitou cobrir os custos, eu decidi ficar para me recuperar e, até mesmo, para não perder todo o investimento que fiz, porque não foi fácil juntar o dinheiro para conhecer o país que eu tanto queria", avalia. 

 

Agora, os advogados da vítima, Bruno Correa Lemos e Rogério Vitor Marçal dos Santos, pretendem impetrar ação judicial cível contra o governo brasileiro. "Houve uma clara inércia do Consulado do Brasil no Chile, que não prestou nenhum tipo de auxílio para a jovem, vítima de um crime tão grave em território estrangeiro. A intenção é pedir reparação por danos morais", explicam em nota conjunta.  

 

O que diz a imprensa chilena?

 

A denúncia de estupro feita pela jovem mineira repercutiu em alguns dos principais veículos de comunicação do país. O canal de TV Chilevisión conversou com a mulher que mora próximo ao local do ataque e socorreu a jovem.

 

"Minha vizinha ouviu gritos. Então, eu desci para ver o que tinha acontecido. Ela então me contou que foi roubada. Eu creio que aqui [bairro Itália] precisa ter um pouco mais de atenção e segurança", diz a mulher, destacando que a região é muito visitada por turistas. Até o fechamento desta publicação, o suspeito do crime não havia sido identificado, segundo a mídia local. 

 

Ministério das Relações Exteriores se pronuncia

 

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Santiago, informou à reportagem que "acompanhou o caso desde que foi notificado, manteve contato com as autoridades locais e prestou informações e a assistência consular à nacional brasileira". 

 

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