Quem passa pela Avenida Antônio Carlos já pode se encantar com a arte de Kawany Tamoyos, concluída nesta semana. As duas empenas localizadas na Rua Popular, 88, no Bairro São Cristóvão, Região Noroeste da capital mineira, voltadas para a via, foram finalizadas antes do tempo previsto e agora colorem ainda mais a cidade.

 

A obra faz parte do Projeto Coragem, composto por 99% de mulheres e dissidentes de gênero, majoritariamente não brancas. Os prédios exibem a pintura de duas figuras femininas, uma indígena e outra negra, conectadas pelo terceiro olho, um símbolo de intuição e ancestralidade. Para a autora, o objetivo da obra é inspirar coragem e força, reforçando a presença poderosa das mulheres racializadas na sociedade.

 



 

“O Projeto Coragem busca representar a conexão ancestral e espiritual entre mulheres que, historicamente, tiveram suas vozes silenciadas, mas que agora ocupam espaços públicos com força e dignidade”, explica Kawany. A pintura ainda contará com texturas e padrões criados por artistas indígenas convidados: Varusa, do Amapá, e Nilo Ybyra, de Belo Horizonte.

 

 

A escolha do local também tem um significado importante para Kawany, que morou grande parte da vida na Região Norte de BH. Como ela sempre trabalhou e estudou na região central da cidade, passava frequentemente pela avenida e, por isso, percebeu que aquele ponto da capital precisava de mais cor.

 

“É a cidade onde eu nasci, então é uma felicidade poder entregar algo meu e algo para a cidade pela primeira vez. É de uma dimensão tão grande e com tanto significado. Para mim, é muito importante, tanto para minha história quanto para a história de BH. Eu sempre via esse prédio, essa ‘duplinha’ de prédios. Quando a gente é artista, a gente imagina que tudo é um caderno gigante”, diz.

 

 

Kawany já realizou outras pinturas com o intuito de representar a força e a conexão entre mulheres. A penúltima obra com essa temática foi na Avenida Pedro I, onde ela retratou três mulheres abraçadas.

 

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“Já faz algum tempo que estou buscando retratar o encontro entre mulheres, o afeto entre mulheres para além dos relacionamentos amorosos e sexuais, destacando o encontro entre amigas, colegas ou irmãs e a força desses encontros e desse afeto. Já realizei uma série de murais nesse sentido, para representar a potência desse encontro. Quando fui pintar o prédio, quis imaginar essas duas mulheres juntas, essas duas grandes mulheres conectadas”, relata.

 

Kawany Tamoyos é uma artista visual e comunicadora latino-americana de origem indígena, que, desde 2014, ocupa as cidades com suas obras. Sua trajetória artística é marcada pela busca de subverter estereótipos sobre o feminino e os povos indígenas, utilizando o grafite como forma de resistência e afirmação de identidade. Ela coordena o Todas BR, uma rede latino-americana de mulheres e queers artistas urbanas, e já participou de exposições, festivais e editais, incluindo murais em diversas regiões do Brasil e em outros países.

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