O céu em Belo Horizonte amanheceu ‘enfumaçado’ em todos os dias da primeira semana de setembro, isso depois de a capital ter o agosto com mais incêndios urbanos nos últimos 5 anos. Além da névoa cinza sobre a cidade, a qualidade do ar chegou a ficar nove vezes pior que o valor de referência recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante desse cenário, o Grupo de Pesquisa em Poluição do Ar e Meteorologia Aplicada (GPama) da Escola de Engenharia da UFMG instalou equipamentos para monitorar as concentrações de diferentes tamanhos de partículas atmosféricas em três pontos de Belo Horizonte. 

 


O objetivo do GPama é entender o que exatamente está presente no ar da capital. Taciana Albuquerque, coordenadora do grupo e doutora em ciências atmosféricas com ênfase em poluição atmosférica, explica que a pesquisa da qualidade do ar em Belo Horizonte já dura três anos com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas (Fapemig), mas agora avança para avaliar a composição química do ar. “É como se fosse o DNA da partícula. No nosso projeto, vamos coletar as partículas atmosféricas e, posteriormente, fazer a análise química dessas partículas. A gente consegue identificar, por exemplo, o que é de origem das queimadas, a origem veicular, a origem industrial, a gente vai fazer toda essa análise para identificar a porcentagem de cada fonte”, detalha.

 

 

 




Os equipamentos foram instalados em três pontos de Belo Horizonte na última segunda-feira (16/9), dois dentro do campus Pampulha da UFMG e um no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) campus VI. Ao todo, são cinco amostradores de médio volume (ARA-FRM) e um amostrador de grande volume (AGV). As estações avaliam a qualidade do ar e as condições meteorológicas.

 

 

Além disso, como estão posicionadas de forma estratégica, as estações aspiram o ar ambiente por meio de um filtro, o que possibilita a análise posterior. “A gente vai fazer uma caracterização química da amostra e associações com as fontes. Por exemplo, hoje os meninos foram recolher o filtro e me falaram que estava diferente, cheio de fuligem. Então, a gente já sabe que o filtro de hoje tem componentes de fuligem das queimadas, porque quando é veicular o filtro fica diferente. Então a gente vai fazer uma amostragem com processos secundários em paralelo para identificar essa amostra”, descreve Taciana. 

 

 


 

A pesquisadora explica que analisar apenas a qualidade do ar não é o suficiente, já o indicador  pode estar dentro do valor de referência anual da OMS, mas ter uma composição que não é boa para a saúde. “Não queremos simplesmente dizer que o IqA está bom ou ruim. Porque o IqAir pode estar ‘bom’ e ao mesmo tempo ter compostos químicos cancerígenas, por exemplo. Quando fala IqAir bom, você só está querendo saber a concentração, se está dentro de uma faixa 'aceitável', mas o que eu estou fazendo é pegar aquela composição, aquela concentração e analisar quimicamente para dizer se, mesmo bom, se tem queimada, se tem indústria”, salienta a coordenadora do grupo.  


 

O GPama conta com estações manuais e estações automáticas, que analisam as condições meteorológicas em tempo real. Esses equipamentos avaliam os níveis de concentração atmosférica por meio das frações legisladas MP10 (material particulado inalável, cujo diâmetro das partículas é menor ou igual a 10 micrômetros), MP2,5 (material particulado respirável, cujo diâmetro das partículas é menor ou igual a 2,5 micrômetros) e PTS (partículas totais em suspensão, cujo diâmetro das partículas é menor ou igual a 50 micrômetros).

 

 

Na portaria principal da UFMG estão instalados três amostradores de médio volume (ARAS) que coletam diferentes frações de partículas, as MP10, MP2,5 e PTS, e um amostrador de grande volume (AGV) que coleta o MP2,5. A pesquisa nas estações manuais terá duração de 10 dias e deve ir até o dia 25 de setembro, na semana que vem. Já as automáticas continuam monitorando a pressão do ar, a temperatura, a umidade relativa do ar, a velocidade do vento mínima e máxima, a direção do vento, intensidade de chuva, volume de chuva e qualidade do ar pelo período de um mês. 

 

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De acordo com Taciana Albuquerque, os resultados devem demorar mais de um mês para serem analisados, já que dependem da disponibilidade dos laboratórios da UFMG. A iniciativa é uma realização conjunta do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e Departamento de Química da UFMG, o Cefet-MG, o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) e o Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

 

 

*Estagiária sob a supervisão do subeditor Fábio Corrêa

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