Ao menos 44.551 pessoas esperam atualmente por um transplante de órgão no Brasil. Apenas em Minas Gerais, são 3.896 indivíduos aguardando por uma nova vida. Todos os anos, centenas de pacientes ganham uma nova vida com um novo órgão. Alguns têm a sorte – ou o destino – de encontrar o doador em algum familiar ou conhecido. Já outros entram na fila ficam à espera de uma compatibilidade. Luiz Fernando Rodrigues Rocha, de 62 anos, encontrou as duas possibilidades. Morador de Contagem, na Grande BH, ele fazia hemodiálise havia cinco anos quando, em 5 de abril de 2024, às 23h20, recebeu o que considerou uma das melhores ligações de sua vida: “Seu rim saiu e é para o senhor estar aqui amanhã às 7h em jejum. Você vai ser transplantado”, relembra Rocha. 

 

  


 

Do outro lado do telefone estava Tiago Cerqueira, médico especializado em nefrologia do Hospital Evangélico de Belo Horizonte. Cerqueira tem a função de ligar para os pacientes para confirmar algumas informações e dar a notícia do transplante. Luiz Fernando estava na fila do transplante havia algum tempo e já tinha testado a compatibilidade com parentes. Um dia antes de descobrir que poderia receber um rim vindo de um menino de 21 anos, vítima de morte cerebral havia poucos dias, ele conta que também o resultado do teste com a mulher dele, Lúcia Gomes Rocha, tinha saído – havia 100% de compatibilidade. A intenção era apresentar, já na semana seguinte, os testes ao médico, para que a esposa pudesse doar o rim ao marido. 

 

 



 

Mas o órgão, que veio mais rápido do que ele esperava, pertencia a uma pessoa até então desconhecida, mas curiosamente próxima do paciente de hemodiálise. Luiz é pastor da Igreja Quadrangular do Água Branca e a história da busca pelo transplante era motivo de orações no local. Naquele mesmo mês de abril, uma situação também motivava os fiéis a orar. O filho de Raquel Emilia Silva, frequentadora da Igreja Quadrangular, estava internado depois de ter sofrido um grave acidente de moto. O menino de 21 anos acabou morrendo e teve morte cerebral confirmada. A família assinou o termo para doar os órgãos. “Queria que a morte dele não fosse em vão”, conta a mãe. 

 

 

Na foto, Raquel Emilia Silva, mãe do doador do rim para Luiz Fernando Rodrigues Rocha, e a esposa, Lucia Gomes Rocha, que seria a doadora e não precisou.

Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press

 


Seis órgãos de Nicolas, o filho de Raquel, foram doados, e o rim foi para Luiz Fernando Rodrigues Rocha. A situação é muito rara, já que a identidade de quem doou e quem recebeu o órgão é confidencial. Mas, como Luiz e Nicolas faziam parte da mesma comunidade, ficou fácil para os familiares perceberem as coincidências e descobrirem. A coincidência também foi confirmada pelos médicos do Hospital Evangélico. A história foi relatada com muitas lágrimas no café com pacientes e doadores de órgãos cadastrados realizado nesta sexta-feira (20/9), na unidade de transplante renal do Hospital Evangélico de Belo Horizonte. O evento foi realizado em menção ao Setembro Verde e reuniu também outros pacientes com histórias marcantes. 

 

 

Na foto, Valmir Mauricio da Silva com esposa Veronica Maria de Azevedo Silva. Ela doou o rim para ele.

Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press

 

Setembro Verde

O Ministério da Saúde atualiza as informações sobre fila de transplantes diariamente e, apesar da alta procura por um novo órgão, os números não refletem a quantidade de cirurgias realizadas. De janeiro a setembro de 2024, apenas 6.433 pessoas foram transplantadas no Brasil. Minas Gerais é o segundo estado com mais transplantes realizados, atrás apenas de São Paulo. Apesar disso, a quantidade não é suficiente comparada à quantidade de pessoas que precisam de um transplante. Em Minas, 762 pacientes receberam um novo órgão este ano. O Setembro Verde é o mês de conscientização para doação de órgãos e tecidos e marca a importância de ‘dizer o sim que pode salvar vidas’.

 

 

Valmir Mauricio da Silva, 43 anos e a mulher dele, Veronica Maria de Azevedo Silva, 35 anos, também compartilharam a própria história no café com pacientes. Veronica Silva era compatível com o marido e doou o rim para ele em 2020. Valmir fazia hemodiálise e estava há três anos tentando encontrar um doador. “Era muito triste ver o Valmir chegando em casa triste, às vezes um companheiro de hemodiálise morria por alguma infecção, já que muitos não resistiam. E a gente ter a oportunidade de salvar a vida de alguém é muito gratificante. Quem puder doar doa, porque você vai estar salvando a vida de alguém”, relembra Veronica. 

 

 


Gilberto Policarpo Barbosa, de 50 anos, é transplantado há 8 anos. No caso dele, a compatibilidade foi com a irmã mais velha. Gilberto conta que fez hemodiálise por seis meses, quando a irmã começou a ser testada. Depois de seis meses, a compatibilidade foi comprovada e ele conseguiu receber o transplante. “É muito importante doar, depois que eu fiz o transplante, eu melhorei. A vida voltou ao normal novamente. Quanto mais pessoas doando, melhor, você vai dar oportunidade para mais pessoas”, relata ele. 

 

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No Hospital Evangélico, localizado no Bairro Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, 568 pacientes aguardam por um transplante de rim. De janeiro a setembro deste ano, o hospital realizou 34 transplantes. A gerente do Ambulatório de Transplante Renal e enfermeira Ilenia Stangherlin conta que o ambulatório é um espaço para promover a esperança para os pacientes que estão aguardando por um transplante. O local conta com uma equipe multidisciplinar, com médicos especializados em nefrologia, enfermeiros, psicóloga e assistente social. O objetivo é conseguir acolher os pacientes pré-transplante e pós-transplante como o Valmir, o Luiz e o Gilberto. A intenção é que a imensa fila de pessoas que aguardam ansiosamente pela doação de um órgão diminua, proporcionando uma sobrevida aos pacientes.   

 

*Estagiária sob a supervisão do subeditor Fábio Corrêa

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