Lagoa Santa, Pedro Leopoldo e Vespasiano – A poluição dos rios mineiros já está mais concentrada nos primeiros seis meses de 2024 do que em todo o ano de 2023. No total, de 75.492 amostras de água colhidas no ano passado, 7.196 (9,53%) apresentavam concentrações de poluentes acima do limite de tolerância previsto pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Em 2024, de 23.989 testes, 3.561 (14,8%) violaram os parâmetros máximos e chegaram a índices capazes de afetar a saúde humana e o meio ambiente, segundo dados do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). Apesar do agravamento da situação, a poluição dos mananciais passa longe das propostas dos candidatos às prefeituras e câmaras municipais mineiras, criticam ambientalistas.

 

“As pessoas se enganam quando acham que prefeitos e vereadores não têm responsabilidade sobre a poluição. É justamente o contrário. A empresa de saneamento e abastecimento é concessão municipal, pode e deve ser exigido que o serviço seja ambiental e socialmente adequado. O zoneamento municipal, a fiscalização e o licenciamento ambientais também podem ser assumidos e tornados mais rigorosos pelos municípios. Mas não vemos isso em nenhum programa eleitoral”, afirma o gestor ambiental e titular do Comitê da Bacia Hidrográfica (CBH) do Rio das Velhas, Procópio de Castro.

 

 

“Vamos dar um exemplo pequeno. Uma pastelaria. Se a prefeitura licenciar e não fiscalizar o despejo de óleo de fritura queimado, isso vai parar na água. Quantas pastelarias, oficinas e outros pequenos negócios existem em Ribeirão das Neves, Belo Horizonte, Vespasiano, Pedro Leopoldo, Lagoa Santa e por aí vai? É preciso também cobrar que as estações de tratamento de esgoto funcionem adequadamente e que o esgoto chegue até lá em vez de cair clandestinamente nos mananciais”, afirma.

 

A estiagem prolongada também piora a poluição nos leitos, já que os poluentes se tornam mais concentrados em menos água e as queimadas destroem matas ciliares e áreas de recarga, favorecendo o assoreamento na chegada das chuvas. Reflexo da falta de chuvas, em agosto e setembro, o Igam declarou estado de escassez hídrica superficial no Rio das Velhas, entre Santo Hipólito e Várzea da Palma, e também no Rio da Prata, no Triângulo Mineiro.



Neste ano, o trecho de manancial com mais poluentes detectados em Minas Gerais fica no Rio das Velhas, na altura de Lagoa Santa, na Grande BH. Naquele ponto, foram encontrados 13 tipos diferentes de violações de concentrações de poluentes em 13 das 31 amostras coletadas pelo Igam, o equivalente a 43,3%. O local é próximo a atrações turísticas, culturais e religiosas, como o Parque Estadual do Sumidouro na localidade de Quintas do Sumidouro, próximo à Igreja Nossa Senhora do Rosário, do século 18.

 

Além de turistas, muitos pescadores amadores são atraídos para o local, acabam tendo contato direto com as águas poluídas e consumindo os peixes. “A gente pesca aqui há muitos anos e a água não tem cheiro de poluição. Parece ser clarinha. Nunca tivemos problemas nem com a água nem com os peixes. Aqui chega a dar dourado e tem muito piau e mandis”, contou o mestre de obras Ronaldo Antônio dos Santos, de 60 anos.

 

 

Mas as concentrações que superaram a tolerância para o equilíbrio ambiental naquele segmento também incluem elementos tóxicos para a saúde humana. Foram detectados em níveis acima do limite substância como arsênio (risco de câncer, doenças de pele e do sistema nervoso), chumbo (danos ao sistema nervoso e rins), cromo (câncer e problemas respiratórios), Escherichia coli (indicativo da presença de esgoto, causa doenças gastrointestinais), fósforo, manganês (problemas neurológicos), níquel (doenças respiratórias e dermatológicas) e sólidos em suspensão.

 

Em 2023, segundo o Igam, o Índice de Qualidade da Água (IQA) do Rio das Velhas apresentou melhora de 1% no quesito excelente, mas caiu 3% no conceito bom, tendo aumentado em 1% o patamar considerado médio. O instituto informa que a poluição no leito reflete os impactos dos lançamentos de esgotos domésticos e de efluentes industriais, principalmente da Grande BH, das atividades minerárias no alto curso da bacia, bem como das atividades agropecuárias nos cursos médio e baixo.

 

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“Essas atividades demandam grande remoção de cobertura vegetal, o que contribui com os processos erosivos que, com o escoamento pluvial, acabam por carrear componentes dos solos expostos para os ambientes aquáticos. Para que a situação melhore, é importante ampliar os serviços de coleta e tratamento de esgotos domésticos da bacia, da mesma maneira que os efluentes industriais necessitam de tratamento específico antes de retornar aos cursos de água e, que haja um manejo sustentável do solo, evitando possíveis erosões decorrentes da ausência de cobertura vegetal”, indica o Igam.

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