Pouco antes da morte de Magna Laurinda Ferreira Pimentel, de 42 anos, completar um mês, um dos suspeitos de ocultar seu corpo dentro de uma cisterna foi solto. O habeas corpus do investigado de 26 anos foi concedido em 13 de setembro, pela 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.  A vítima foi dada como desaparecida em 23 de agosto, quando foi vista pela última vez na casa do pai, em Venda Nova. Seu corpo foi encontrado quatro dias depois dentro de uma cisterna no terreno do imóvel. Cinco pessoas foram presas suspeitas de matar a vítima: a madrasta de Magna e os quatro filhos dela — dois homens e duas mulheres.


 

As investigações apontam que o homicídio teria sido motivado por desavenças financeiras, já que a madrasta da vítima havia feito recentemente um empréstimo em nome do marido no valor de R$ 40 mil. O valor, segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, foi gasto com jogos de apostas ilegais, celulares e outros bens.


Desde o dia da prisão, Junio Pereira de Jesus esteve detido no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp), no Bairro Gameleira, na Região Oeste de BH. No entanto, no último dia 13, o desembargador Agostinho Gomes de Azevedo determinou sua soltura. Em sua decisão, o magistrado alegou que o investigado foi indiciado por ocultação de cadáver e que a decisão que decretou sua prisão preventiva “se mostra ilegal”, uma vez que “não se encontram presentes os requisitos autorizadores”. 




 

Durante a liberdade provisória, o réu deverá seguir medidas cautelares como: comparecer em juízo a cada 30 dias para informar suas atividades; proibição de ausentar-se da comarca em que reside por mais de oito dias; e proibido entrar em contato com familiares da vítima e possíveis testemunhas. 


Magna foi encontrada morta em uma cisterna na casa de seu pai, no Bairro Candelária, na Região de Venda Nova, na terça-feira (27/8). No mesmo dia, Marluce Pereira dos Santos, a madrasta, e quatro de seus filhos — Gilmar Pereira Calmos, Paloma Ferreira de Jesus, Junio Pereira de Jesus e Paola Pereira de Jesus — foram presos em flagrante: quatro por homicídio qualificado e ocultação de cadáver e um por ocultação de cadáver. Os dois homens foram levados para o Ceresp Gameleira, e as mulheres, para o Presídio Feminino de Vespasiano.


 

Nesta segunda-feira (23/9), o marido de Magna, Tiago Arlei Alves, afirmou que a família não foi informada sobre a liberdade concedida a um dos investigados. Ao Estado de Minas, ele contou que, desde que o caso foi descoberto, o sogro está mais lúcido e a par dos fatos. Durante o velório, em 30 de agosto, uma amiga da família da vítima, que não quis se identificar, afirmou que os suspeitos estariam dopando o pai de Magna. 


De acordo com ela, depois que os suspeitos foram presos, o homem, que aparentava estar com demência, se mostrou mais lúcido. “Ele está sem medicamentos. Está sabendo da situação e, inclusive, contou que chegou a ver o rapaz com a faca na mão e pensou no que ele faria com isso. A gente espera justiça. Que eles fiquem lá e paguem pelo que fizeram.”

 

Desaparecimento

 

Alertada sobre o desaparecimento de Magna, a Polícia Civil acompanhou seu rastro digital. O celular mostrava uma viagem de Uber para a residência do pai às 14h28 e um último acesso ao WhatsApp às 15h. Às 17h27, foi registrada a última localização do aparelho. Os investigadores acreditam que um dos autores do crime desbloqueou o celular da vítima, que já estava morta, e o aplicativo da Uber já estava aberto. As câmeras de segurança da rua mostram que Magna não saiu da casa em momento algum.

 

Nos primeiros dias, a família se mostrava preocupada com a falta de notícias sobre o paradeiro de Magna, tanto para a polícia quanto para o marido da vítima. Entretanto, dois dias depois, no domingo, o grupo organizou um churrasco, o que chamou a atenção dos vizinhos. A polícia acredita que estavam comemorando o crime.


 

“Recebemos a informação de que nesta casa existia uma cisterna e fomos até o imóvel ontem para verificar a situação. Conseguimos conversar com o dono da casa, que autorizou a entrada. Entramos na casa e entrevistamos todos os moradores enquanto a equipe realizava a perícia”, relatou o delegado. 


Briga por dinheiro


Em março deste ano, Marluce levou o marido até uma agência bancária e pegou um empréstimo em nome dele no valor de cerca de R$ 40 mil. Ela também teria usado a aposentadoria do homem. De acordo com a PCMG, os gastos totais foram de R$ 50 mil, sendo R$ 5 mil com jogos de aposta e R$ 4 mil com celulares. O valor da dívida foi dividido em 84 parcelas de R$ 976, somando ao final R$ 82 mil.


Em junho, Magna tomou conhecimento dos gastos e teria confrontado a madrasta e a irmã que tinham acesso às contas do pai. Na mesma ocasião, teria descoberto uma união estável entre o pai e a madrasta. Outra irmã apaziguou a briga, e a vítima foi embora da residência. A polícia acredita que, desde então, a família planejava a morte da mulher.


 

A emboscada teria sido armada, inicialmente, para quinta-feira (22/8), quando uma das irmãs — a que apaziguou a situação — enviou uma mensagem à vítima dizendo que tinham o dinheiro para ressarcir o que foi gasto, pedindo que ela fosse buscar a quantia. Essa primeira tentativa de atrair a vítima não foi bem-sucedida. Na sexta-feira, dia do desaparecimento, a mesma irmã ligou para Magna, dizendo que o pai estava passando mal e com febre, pedindo que ela fosse até a casa para levá-lo ao hospital. Depois de deixar a filha de 3 anos na escola, Magna foi até o local, de onde não saiu mais.

 

Tiago Arlei Alves estranhou que a esposa não buscou a filha na escola e tomou conhecimento do desaparecimento. A criança ainda não compreende o que aconteceu, mas sente falta da mãe. “Estranhei porque ela era uma mãe muito atenciosa, zelosa e compromissada. Jamais deixaria nossa filha. Pensei: ‘Aconteceu alguma coisa’”, contou.

 

Ele ainda relata que ficou chocado ao descobrir os responsáveis pelo assassinato e não havia nada de anormal na relação de Magna com a madrasta e os irmãos.


“Não achava que eles fossem capazes de uma coisa dessas, porque minha filhinha convivia com eles e sabia que minha filha dependia demais da Magna”, conta. “Isso me deixou chocado, revoltado e com ódio”, completou.


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O delegado da Divisão de Referência à Pessoa Desaparecida, Alexandre Oliveira da Fonseca, declarou que, se o crime tivesse ocorrido na quinta-feira, possivelmente a menina estaria com a mãe. 


"Conseguimos apurar que o terceiro filho, o executor, já estava na casa esperando Magna chegar para executá-la. Na quinta-feira, ela não foi. Se isso tivesse acontecido, teríamos duas vítimas, porque, se fosse na parte da manhã, possivelmente ela teria levado sua filha de 3 anos”, explicou Fonseca.

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