A pior noite de todas. Foram essas as palavras usadas pela médica para descrever os momentos vividos na última sexta-feira (20/9), no estacionamento do Minas Shopping, em Belo Horizonte, quando foi vítima de sequestro. A mulher de 30 anos foi levada por uma dupla de criminosos até Pedro Leopoldo, na Grande BH. 

 

“Assim que eu entrei no meu carro, eu vi pelo retrovisor um homem se aproximando. Tentei puxar a porta rápido, mas ele forçou e apontou uma arma”, disse ela, que não quis se identificar, em entrevista ao Estado de Minas. A partir daquele momento, a médica viveu uma hora de terror enquanto esteve sob a posse dos sequestradores.


A vítima seguiu apreensiva até perceber que a arma apontada pelo homem era, na verdade, de brinquedo. Mas, mesmo antes disso, a médica já havia tentado fugir enquanto um dos criminosos, que tinha uma comparsa no banco do carona, se complicou ao tentar dar partida no carro.


“Os dois entraram no carro e me empurraram pro banco de trás. Ele tentou arrancar, mas, pela posição que eu tinha estacionado, ele não conseguiu dar ré e sair. Enquanto isso, abri o vidro e gritei por socorro. Uma moça tentou me puxar, mas não conseguiu”, relata a médica. Assim que teve a tentativa de fuga frustrada, a vítima desbloqueou o celular e pediu para a mulher que tentou ajudá-la para entrar em contato com seu noivo e avisá-lo do ocorrido.


Ter “se livrado” do aparelho impediu os criminosos de extorquir a vítima a fazer transferências bancárias, além de ter facilitado a localização do carro utilizado no sequestro. Passados quatro dias do ocorrido, a médica ainda não entende o porquê de ter tido essa atitude naquele momento delicado. "Foi um instinto, nem sei explicar. Só aproveitei a oportunidade”, relembra.

 




O carro da vítima era alugado e tinha um rastreador colocado pela locadora, o que facilitou a busca por parte da Polícia Militar (PM), que foi contatada pelo noivo da médica. Enquanto isso, ela seguia com os criminosos, que, segundo a vítima, estavam nervosos e aparentemente sem rumo. “Os dois ficaram falando que iam para o Espírito Santo, depois para o Norte de Minas. Quando chegamos em Pedro Leopoldo, eles acharam que era Sete Lagoas”, conta.


 

Desfecho

Foi no estacionamento de um supermercado, na entrada da cidade, que o carro foi localizado. O homem decidiu parar no local ao perceber que não conseguiria tomar dinheiro da conta bancária da vítima, já que o celular dela não estava ali. O plano passou a ser, então, utilizar os cartões de crédito da médica para comprar o máximo de coisas que conseguisse no estabelecimento.


"Eles ficavam me ameaçando o tempo todo. Falavam que não queriam fazer nada comigo, mas que, se eu não colaborasse eles, iam ter que enfiar a faca no meu pescoço ou alguma coisa pior", detalha a vítima.


O sequestrador chegou a dizer que iria roubar outro carro no estacionamento e deixar a vítima voltar com o carro dela, assim que voltasse de dentro do supermercado. No entanto, os planos dele não se concretizaram. Enquanto anotava os dados do cartão da médica, viaturas da Polícia Militar, que já estavam no encalço da dupla, cercaram o veículo e prenderam os dois criminosos em flagrante.


Junto aos sequestradores, foram encontrados um simulacro de arma de fogo, um celular e R$ 130 em dinheiro. O caso segue em investigação pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG). Em nota, a administração do Minas Shopping informou que trabalhou junto aos familiares da vítima e a Polícia Militar, o que resultou em um resgate seguro. "O shopping segue comprometido com a segurança de clientes e colaborando com as autoridades", esclarece o empreendimento.


Cuidados

O advogado criminalista e pesquisador em segurança pública Jorge Tassi avalia que a falta do celular da vítima durante o sequestro evitou que a extorsão pretendida pelos suspeitos fosse maior. O especialista recomenda que as pessoas tomem medidas de segurança junto aos aplicativos de banco para evitar prejuízos maiores em caso de roubo, furto ou extorsão.

 

 

"É importante as pessoas procurarem nos bancos formas de criar filtros para as operações. Alguns aplicativos têm funções como limitar transações noturnas ou exigir confirmações nas operações. É possível ter um pai confirmando a operação do filho, por exemplo", explica.

 

*Com informações de Rebeca Nicholls

 

compartilhe