A agência de viagens Mineira Tour, sediada em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, anunciou nesta sexta-feira (27/9) a suspensão das atividades após uma onda de denúncias, que teve início quando um grupo de 10 pessoas da cidade, incluindo duas crianças, não conseguiu embarcar para Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Os clientes ficaram aguardando a van prometida na Praça do Riachuelo, no Centro, das 23h de sexta-feira (20/9) à 1h de sábado (21/9), mas o veículo não apareceu.

 

Com isso, o grupo registrou um boletim de ocorrência na Polícia Militar, criou um grupo no WhatsApp para facilitar a comunicação entre eles e, depois, entrou em contato com páginas de notícias locais nas redes sociais, visando dar publicidade ao caso. Com isso, até o fechamento da reportagem, a comunidade virtual saltou de 10 para 32 pessoas. A partir daí, outros relatos de viagens frustradas começaram vir à tona. 

 



 

Uma das clientes lesadas é a cuidadora de idosos Luana Souza, de 28 anos. Em entrevista ao Estado de Minas, ela conta que deu um sinal de R$ 460, do total de R$ 1 mil acordados, a fim de garantir as vagas na van para ela, o marido, de 21 anos, e os dois filhos do casal, de 5 e 6. “Embora ela [a empresa de turismo] já tenha feito o reembolso do valor pago, fica a frustração. Meus filhos iriam conhecer a praia pela primeira vez e começaram a chorar quando perceberam que a viagem para Cabo Frio não ia mais acontecer”, lamenta.

 

Luana conta ter mandado mensagem para a dona da agência dois dias antes do embarque programado, quando foi informada pela proprietária sobre a intenção de cancelar a viagem, alegando que precisava ter 15 pessoas confirmadas na van para manter o passeio à cidade fluminense.

 

 

“Como só havia 10 pessoas, ela tentou fazer o cancelamento. Argumentei que minhas crianças estavam muito animadas e eu já havia comprado coisas de comer para levar. Além disso, outra pessoa estava definida para me substituir no serviço e não tinha como voltar atrás. Quando pensei que realmente não tinha jeito, pedi que devolvesse meu dinheiro. Daí, na mesma hora, ela mudou de ideia e falou que ia dar um jeito para manter a nossa viagem”, explica.

 

Para além do passeio frustrado a Cabo Frio, a Mineira Tour coleciona reclamações de mau atendimento. A jornalista Juliana Teixeira, de 27 anos, e o namorado foram para um resort em Angra dos Reis na Semana Santa em março deste ano com um grupo de 15 pessoas. Chegando ao estabelecimento, boa parte do grupo foi surpreendida com a falta de reservas e teve que voltar para Juiz de Fora.

 

 

“Ficamos aguardando muito tempo para fazer check in e, quando chegou a nossa vez, ela perguntou se poderíamos emprestar R$ 32 mil necessários para pagamento dos quartos, alegando que o dinheiro dela estava bloqueado no banco. Achamos aquilo estranho, porque é difícil alguém ter essa quantia para liberar tão facilmente”, diz Juliana.

 

Sem reservas, a jornalista, além dos R$ 4 mil pagos de forma antecipada, relata ter desembolsado mais R$ 6 mil para a hospedagem, que, depois, foram reembolsados pela dona da agência. Somente outras duas pessoas conseguiram passar o fim de semana no resort.

 

“A nossa intenção era relaxar e ter um momento para nós, mas ficamos apreensivos pensando se ela iria devolver o dinheiro”, lembra Juliana, acrescentando que, apesar da experiência negativa, já tinha viajado com a Mineira Tour em outras três ocasiões, não havendo contratempos.

 

 

Advogado recorre à Justiça

No rol de vítimas também está o advogado Christian Tavares, de 24 anos, que relata ter contratado a agência para um bate e volta na companhia de três pessoas ao Rock in Rio. “Procurei a Mineira Tour, com antecedência, em 9 de agosto, e ficou acertada a viagem para o dia 15 de setembro, partindo da Praça do Riachuelo, às 8h. No entanto, ficamos aguardando até as 10h, quando ela [dona da agência] apareceu na praça e alegou que não estava conseguindo contato com o suposto cara da van. Depois, ela disse que, na verdade, não iria conseguir arcar com o valor, pois estava muito alto”, revela.

 

Diante do impasse, Christian e as outras três pessoas que o acompanhavam resolveram contratar um motorista para chegar ao Rio de Janeiro. Conforme revela, a proprietária da agência devolveu os R$ 600 cobrados pelo transporte. “Tivemos que inteirar mais R$ 400, pois o motorista cobrou R$ 1 mil para nos levar ao Rio”, acrescenta Christian.

 

O advogado diz que entrou com uma ação cível no Juizado Especial da comarca de Santos Dumont, cidade onde mora. O objetivo é conseguir uma indenização devido ao dano moral e material. “Programamos a viagem com antecedência e fomos prejudicados por falta de responsabilidade. Com todo o transtorno, e até conseguir o carro de aplicativo, chegamos ao Rio por volta das 15h e perdemos o início do show, às 14h. Ficamos totalmente desamparados e desanimados, porque tínhamos planejado a viagem há mais de um mês. Então, por isso, resolvi entrar com essa ação”, finaliza.

 

O que diz a Polícia Civil?

Em nota ao EM, a assessoria da Polícia Civil em Juiz de Fora informou que as denúncias foram recebidas na 7ª delegacia da instituição policial. No entanto, uma possível instauração de inquérito e, consequentemente, uma investigação em decorrência dos supostos crimes de estelionato cometidos pela proprietária da agência, de 41 anos, estão sujeitas à representação das vítimas.

 

Comunicado da Mineira Tour

Procurada pela reportagem, a Mineira Tour não deu retorno, mas se manifestou em suas redes sociais e também anunciou a paralisação das vendas de pacotes de viagens.

 

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No comunicado, a empresa alega estar passando por uma crise financeira e diz que “jamais houve má-fé” com os clientes, mas, sim, “falta de estrutura administrativa para lidar com as adversidades”. “Estamos trabalhando para que todos os clientes envolvidos sejam reembolsados o quanto antes (...). As próximas viagens estão suspensas para que a empresa possa se reestruturar”. Leia na íntegra:

 

Mineira Tour se manifestou com um texto publicado por meio da função Story no Instagram

Instagram/Reprodução
 

 

 

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