Administração do Conjunto Governador Kubitschek, conhecido como edifício JK, tem se envolvido em diversas polêmicas com os moradores    -  (crédito:  Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press)

Administração do Conjunto Governador Kubitschek, conhecido como edifício JK, tem se envolvido em diversas polêmicas com os moradores

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press

O icônico edifício JK, um dos principais cartões-postais de Belo Horizonte, no Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul, volta ao centro das atenções após mais uma denúncia de moradores em relação à administração do local. Dessa vez, condôminos do Conjunto Governador Kubitschek afirmam que os gestores passaram a aceitar pagamentos apenas em espécie - ou seja, em notas - da mensalidade que vence no próximo sábado (5/10).

 

 

A medida foi anunciada para alguns residentes na última sexta-feira (27/9). Ao Estado de Minas, uma moradora, que não quis se identificar por medo de represália, contou que até o dia anterior ao comunicado, algumas pessoas encontraram o registro da parcela no Débito Direto Autorizado (DDA); no entanto, na manhã seguinte a informação havia sumido. Ao questionar a administração, foram informados que havia um problema no banco e que o pagamento deveria ser feito em dinheiro e entregue no local.

 

“A questão é muito grave, não pouco grave. Porque é quase que uma violência. Nos dias de hoje, você obriga a pessoa a ir pessoalmente, no horário restrito, e obrigar a gente a andar com esse dinheiro. Algumas pessoas têm que pagar mais de R$ 800. Ou então correr o risco de ficar inadimplente e ter que pagar em juízo, que não é tão simples, já que você tem que pagar advogado e iniciar uma ação”, afirma a condômina.

 

Para além da forma de pagamento alterada, os moradores têm reclamado da forma com que a mudança foi informada. Para a residente, a comunicação foi falha uma vez que os gestores do condomínio não explicaram de forma clara e oficial o que teria acontecido. Ela explica que a versão dada a quem procurou a administração foi que os boletos apresentaram problemas e que seriam solucionados.

 

“Muitos já pagaram [em espécie] por medo e alguns estão se arriscando a pagar no PIX do condomínio que descobrimos que é o CNPJ. Não sabemos se dessa forma teremos recibo por parte do condomínio, a comprovação de que pagamos, mas não sabemos se para o condomínio eles vão achar que somos inadimplentes”, diz.

 

Reajuste

 

Outro ponto de reclamação é o novo reajuste da taxa condominial. No documento, fixado pelo edifício e ao qual a reportagem teve acesso, assinado pela síndica Maria Lima das Graças, consta que o aumento será de 12% para “estabelecer o equilíbrio financeiro das receitas e despesas do Conjunto”.

 

O texto explica que a nova taxa é justificada a partir de aumentos em gastos como água, luz, plano de saúde de funcionários e passagem de ônibus. Além disso, o comunicado informa que houve alteração no preço de materiais de limpeza, mão de obra, seguro dos prédios e manutenção dos elevadores.

 

 

Em conversa com a reportagem, uma outra proprietária, que também preferiu não se identificar, o valor cobrado mensalmente pela administração não é justificado no dia a dia. Isso porque, segundo ela, a infraestrutura tem deixado a desejar, já que muitos elevadores estão com problemas e áreas comuns do prédio, antes projetada pelo arquiteto e urbanista Oscar Niemeyer como incentivo a convivência entre os moradores, estão fechadas e sucateadas.

 

O que diz a administração do JK

 

Em contato com o EM, o gerente do JK, Manuel Gonçalves de Freitas, afirmou que a forma de pagamento não foi imposta a nenhum condômino e sim apresentada como alternativa ao problema dos boletos. Ele explicou que a administração do local não aceita transferências bancárias e PIX conforme determinado por ata uma vez que fica difícil identificar os pagamentos.

 

“Quem não quiser vir pagar aqui, não tem problema, pode esperar o boleto com nova data de vencimento. Quando fazem transferência, temos dificuldade em identificar quem está pagando. Quando é pago via boleto, o banco dá um retorno para o condomínio com o valor e o número da unidade que pagou. Quando é pago aqui nós já damos baixa”, explica o gestor.

 

O JK

 

Projetado em 1952 pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), o conjunto JK conta com 1.139 apartamentos em duas torres - sendo que a mais alta possui 34 andares e a menor outros 22 - criando uma verdadeira cidade vertical abrigando uma população estimada de 5 mil moradores.

 

Há dois anos, o conjunto JK recebeu o tombamento definitivo pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município (CDPCM-BH). Conquista celebrada pelos moradores como uma forma de proteger o Patrimônio de qualquer intervenção que possa descaracterizá-lo. Por outro lado, os problemas internos do edifício ainda incomodam os habitantes.

 

Apesar de fazer parte da história da cidade, o condomínio se mantém há anos nas manchetes da capital devido às reclamações de moradores e a uma série de decisões controversas da administração gerida pela síndica que segue para seu 38º mandato. Em dezembro de 2022, o conselho administrativo determinou a criação de um código de vestimenta para que os condôminos pudessem ser atendidos. "Se o senhor quiser ser atendido na administração, deverá comparecer com vestimentas adequadas ao ambiente de trabalho", avisa o comunicado.