A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) investiga uma denúncia de assédio sexual, moral e ameaça contra o prefeito e candidato à reeleição de Carmo da Mata, José Carlos Lobato (PSD). A notícia-crime foi protocolada na quinta-feira (26/9) pela servidora pública Patrícia Rezende, de 35 anos. O caso segue em segredo de Justiça.
Os assédios teriam começado em 2023, ano da nomeação de Patrícia, conforme a advogada da servidora, Cleidiane Gaipo Louredo. Inicialmente, a funcionária pública foi contratada para o cargo de secretária do prefeito, mas, ao longo do tempo, assumiu diversas funções, incluindo atividades nas áreas contábil e de almoxarifado. Atualmente, ela está de licença médica após passar por uma cirurgia de varizes.
"Desde o primeiro dia até o último em que ela atuou como secretária, que foram os primeiros quatro meses, houve assédio. Após sua transferência para outro setor, os assédios morais se intensificaram quando ela retornou ao ambiente da prefeitura", explicou Cleidiane.
A advogada também destacou que "a denunciante já possui provas que facilitarão a apuração da conduta do prefeito, o que trará materialidade e autoria à denúncia registrada na delegacia".
Brincadeiras
Uma dessas provas é um áudio ao qual a reportagem teve acesso. Nele é possível ouvir uma conversa que seria entre a denunciante e o prefeito, de 72 anos. José Carlos afirma que se tratava de "brincadeiras" e pede sigilo à servidora. Ele ainda menciona que, se fosse fazer algum tipo de "cantada", não seria em público.
No áudio, Patrícia pede para que as "brincadeiras" parem: "Sei muito bem que o senhor está errado em fazer as coisas que está fazendo comigo e peço que não faça mais isso". Ela é interrompida pelo prefeito, que pergunta: "O quê que eu estou fazendo com você?". Ela responde: "Você sabe". O prefeito, então, diz: "Não posso brincar com você? Então não brinco".
A servidora retruca e afirma que "brincadeira tem limite" e que as pessoas poderiam interpretar de forma errada. José Carlos, em seguida, diz que ninguém nunca interpretou nada de forma equivocada: "Se tiver que fazer alguma coisa de errado, vou te cantar à vista de todo mundo? Eu te chamo aqui no meu gabinete, fecho a porta e vou te dar uma cantada".
O prefeito questiona se a servidora está levando o assunto ao conhecimento de outras pessoas e menciona um episódio envolvendo um "beijo". "Tem que ter sigilo", enfatiza.
Investigação
De acordo com a advogada, a notícia-crime é o ponto de partida para a investigação. "A notícia-crime não se confunde com o crime. É uma informação sobre um possível ato injusto que necessita de investigação preliminar para que o processo avance", esclareceu Cleidiane.
A denúncia, que envolve acusações de assédio sexual, ameaça e assédio moral, atinge diretamente o prefeito da cidade e pode resultar em processos tanto na esfera cível quanto na criminal. A Polícia Civil segue investigando o caso.
Medo
Patrícia trabalhou na prefeitura entre 2007 e 2011. Morou em Perdigão, na mesma região, por cerca de 10 anos e retornou a Carmo da Mata devido a problemas pessoais. Um deles está relacionado a questões psicológicas, após reencontrar o pai biológico, a quem procurou para perdoá-lo. Quando tinha seis anos, ela foi vítima de abuso pelo pai. Foram quase 20 anos sem contato, após a emissão de uma medida protetiva.
"São dois problemas graves que eu estava enfrentando e que me trouxeram novamente a Carmo da Mata. Procurar meu pai biológico despertou um trauma muito grande. Quando o encontrei, mesmo dizendo a ele que o perdoava, era como se eu tivesse voltado a ser aquela criança de cinco anos. O outro problema eu não me sinto confortável para falar no momento, é mais do que eu posso suportar", confidenciou.
Quando retornou, a família enfrentava outra dificuldade: o marido estava desempregado. Com uma filha, hoje de 10 anos, por um período, foi Patrícia quem sustentou a casa com o emprego na prefeitura. Hoje, em condições mais seguras, com o marido empregado, e, inclusive afastada da prefeitura por licença médica, ela decidiu denunciar os abusos. "Tinha muito medo de denunciar enquanto ainda trabalhava lá. Ia denunciar hoje e trabalhar amanhã? Não tinha como eu ficar em casa", explicou. Pela gravidade dos fatos, arrisca a dizer que se tivesse denunciado na época, o prefeito teria perdido o mandato.
Patrícia prefere não detalhar o que de fato ocorria na prefeitura. Afirma que se trata de crimes graves, sustentados por provas e já relatados em sete páginas à Polícia Civil. "Tenho muito medo", declarou. Ela enfatiza que não se trata de uma denúncia política e clama por justiça.
"Quando eu era criança, houve uma medida protetiva. Meu pai não foi preso e o crime voltou a acontecer. Minha obrigação é denunciar para que não aconteça com outras pessoas. Quero justiça, que ele (o prefeito) pague pelo que fez. O que ele fez comigo não se faz com ninguém", afirma.
O que diz o prefeito:
Leia a nota do prefeito publicada no Instagram:
"A verdade incomoda, e esses ataques surgiram logo após a Justiça Eleitoral reconhecer como legítimas as alegações de Zé Carlos sobre a corrupção dos ex-prefeitos, que hoje estão ao lado da oposição. Zé Carlos sempre tratou todas as funcionárias da prefeitura com respeito, e quem o conhece sabe do seu caráter e dedicação ao serviço público. Tentar manchar sua reputação com acusações infundadas é uma tentativa baixa de desviar a atenção do trabalho sério que ele vem fazendo por Carmo da Mata. Esses ataques não ferem apenas Zé Carlos, mas toda a sua família, que está sendo injustamente exposta a esse jogo sujo.
É curioso que os mesmos que dizem estar 'na campanha do amor' são os que mais recorrem a mentiras e ataques pessoais. Quem está confiante, trabalha; quem está desesperado, ataca. Esse desespero fica ainda mais evidente com as ameaças pessoais que vários apoiadores de Zé Carlos têm recebido nos últimos dias. A oposição parece estar mais preocupada em monitorar e intimidar do que em apresentar propostas concretas.
Enquanto eles tentam criar uma cortina de fumaça com acusações vazias, Zé Carlos continua focado no que realmente importa: trabalhar pelo povo de Carmo da Mata. As obras e melhorias estão à vista de todos, e o compromisso de Zé Carlos com a cidade é inquestionável. Esses ataques baixos e sem fundamento não irão desviar o prefeito de sua missão de continuar construindo um futuro melhor para todos.
Carmo da Mata precisa de seriedade e trabalho, não de promessas vazias e ataques pessoais. O povo sabe quem está ao lado deles, e joguinhos sujos não vão mudar isso."
Investigação
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Divinópolis e Região Centro-Oeste (Sintram), Marco Aurélio Gomes, defendeu uma investigação profunda do caso. "O sindicato não quer definitivamente fazer pré-julgamento do caso, mas a apuração deve ser feita com absoluta isenção. Os casos de assédio são frequentes no serviço público e isso exige, inclusive, transparência no inquérito policial e preservação da servidora, que é a vítima, a não ser que se prove o contrário. O que queremos é que seja uma investigação justa", declarou.
*Lucas Miranda e Amanda Quintiliano especial para o EM