Pelas redes sociais, a mulher, que não será identificada, afirmou que durante um determinado momento do evento um homem passou a mão em seu corpo -  (crédito: Pixabay / Reprodução)

Pelas redes sociais, a mulher, que não será identificada, afirmou que durante um determinado momento do evento um homem passou a mão em seu corpo

crédito: Pixabay / Reprodução

Uma jornalista alega ter sido vítima de importunação sexual em uma casa de samba do Bairro Jardim Montanhês, na Região Noroeste de Belo Horizonte, e que não recebeu o acolhimento necessário. O caso aconteceu na noite desse domingo (6/10). Em depoimento ao Estado de Minas, a jovem relata ter sido colocada a poucos metros do suposto agressor, enquanto seguranças hostilizavam a ela e a seus amigos. A Polícia Militar chegou a ser acionada, mas nenhuma guarnição compareceu ao local. 


 

Pelas redes sociais, a mulher, que não será identificada, afirmou que em determinado momento do evento um homem passou a mão em seu corpo. A importunação aconteceu depois que ele teria pedido passagem. “Ele achou de bom tom me pedir licença para passar e passar a mão do meu ombro até a minha coxa." 


 

De acordo com o relato, assustada, a jovem procurou o proprietário do bar que foi acolhedor e acionou a equipe de segurança. Enquanto isso, uma funcionária, que estaria designada para atender vítimas de ocorrências semelhantes, a levou para a cozinha e disse que o estabelecimento não poderia tomar nenhuma atitude, como expulsar o suposto agressor do local, uma vez que as versões dadas pelos envolvidos estavam se desencontrando. 


“Não sei se essa pessoa esperava que esse cara fosse falar: 'Sim, passei a mão nela'. Não sei o que essa pessoa estava esperando”, disse a jovem no vídeo publicado em suas redes sociais. 


 

Cordão de isolamento 


Ao ser conduzida novamente para a festa, a vítima conta que encontrou o homem que a assediou no centro de um cordão de isolamento feito pelos seguranças. No seu perfil, ela questionou a atitude da equipe afirmando que a ação tomada por eles foi para “proteger” o agressor. 


Ainda conforme seu relato, enquanto esperavam a polícia o homem, ainda no centro do cordão de isolamento, “debochou” dela e ao ser filmado a xingou. “Minha amiga foi filmar o cara, e o segurança começou a me filmar. Ele ficou falando que já que estamos filmando o cara, ia me filmar também [...] A casa foi totalmente conivente com o que aconteceu." 


 

A denunciante contou à reportagem que, enquanto a situação se desenvolvia, foi colocada sentada em frente ao suposto agressor, apenas com seguranças entre os dois. "Eles estavam brincando, debochando, abraçando ele, e hostilizaram a mim e a meus amigos. Faram que iam expulsar meus amigos, que eles estava fazendo confusão, que não tinha acontecido nada", disse.

 

Depois de três horas esperando a presença da Polícia Militar, a vítima conta que o dono do estabelecimento a procurou e disse para que ela fosse presencialmente até uma delegacia para registrar uma ocorrência. No entanto, a mulher que seria responsável pelos acolhimentos, disse que ela não poderia ir uma vez que os demais envolvidos - seguranças e suposto agressor - ficariam no local aguardando. 


“Em determinado momento ligaram para a polícia de novo, depois de horas esperando, falaram que não tinha previsão. Aí esse cara [o suposto agressor] disse que ele ia então fazer um B.O online e que ele não ia ficar esperando. Aí como ele decidiu que não ficaria esperando eu pude sair também”, concluiu.

 

Dia seguinte


A jovem foi à Delegacia da Mulher, na noite desta segunda-feira (7/10) registrar o boletim de ocorrência do caso. Além da queixa contra o suposto agressor, a jornalista pretende denunciar o dono do estabelecimento que, segundo conta, teria tentado coagi-la a não seguir com a denúncia. "Ele me mandou mensagem o dia inteiro fazendo chantagem emocional. Disse que tem uma mãe idosa e um filho, que a casa é a fonte de renda deles, que ela ia fechar a casa fazendo a denúncia", relata.

 

Reincidência

 

Em suas redes sociais, o bar fez uma publicação repudiando “toda e qualquer manifestação de assédio”. No entanto, muitos frequentadores relataram que essa não é a primeira vez que casos de assédio ou importunação sexual são denunciados. Uma das seguidoras disse que se sente insegura no local e que, até que a situação mude, pensará duas vezes antes de voltar ao bar. 


“A casa está se tornando mais um ambiente de BH que só está visando ao consumo. As pessoas nem batem mais na palma da mão. Finalizei o segundo show próximo da saída, porque não estava me sentindo confortável. Reavaliem o ambiente da nossa casinha”, escreveu. 


 

Em outro comentário, uma outra mulher contou que ao ir, neste domingo, pela primeira vez ao samba foi importunada. “Passei por uma das piores situações de assédio que já sofri de um homem branco, mega invasivo e agressivo, que inclusive tentou roubar beijo meu na fila do banheiro. Isso tudo em público. Não me senti segura e de todos os lugares que frequento esse era talvez o que eu menos esperava passar por isso. Fica meu relato aí pra perceberem que não são casos isolados. Nunca é. Até perceber um compromisso em melhorar essa questão no espaço, eu não retorno mais”, disse.


O que diz o bar


Procurados pela reportagem, o “3 Preto Bar” informou que assim que teve ciência do caso “prontamente” acolheu a vítima, “ouvindo-a e entendendo a situação vivenciada”. Conforme a nota, a mulher foi orientada e os órgãos de competentes acionados para registro do boletim de ocorrência. “Ambos vítima e suposto autor foram separados pelos nossos seguranças, a fim de evitar uma briga generalizada e o escalonamento da situação de violência”. 



Ainda segundo o bar, o suposto autor e funcionários do local fizeram “inúmeros” chamados junto à Polícia Militar. “Nossa casa tem realizado campanhas nas redes sociais e em suas dependências contra crimes de assédio, importunação, violência contra as mulheres, capacitismo, etarismo, gordofobia, intolerância religiosa, LGBTFobia, racismo, transfobia e todos os tipos de violências para que sejamos um lugar de diversão e lazer para todas as pessoas. Além disso, nossa gestão se compromete com capacitações e campanhas de conscientização sobre violências de gênero e raciais, contribuindo com a cultura de um ambiente seguro a todas as pessoas”, afirmou o local. 


O Estado de Minas procurou a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) para saber porque uma guarnição não foi deslocada para o local dos fatos, mas até a publicação desta matéria não obteve retorno.