A queda d’água do Ribeirão do Onça, localizada na Região Norte de Belo Horizonte, poderia ser um ponto de refúgio para os belo-horizontinos neste calorão. No entanto, a poluição da água torna esse ‘oásis’ uma miragem: está ali, mas ninguém consegue entrar.
Apesar de ser quase escondida, a ‘cachoeira’ no Bairro Novo Aarão Reis pode ser percebida por quem passa no entorno. O barulho da queda d’água pode ser ouvido de longe - mesmo com o volume afetado pela falta de chuvas. Ah, o mau cheiro das águas também pode ser sentido ao sabor do vento.
O mau odor não é o único indicativo da qualidade da água. Diversos itens, como pneus, garrafas e embalagens, podem ser vistos boiando ou presos nas pedras da cachoeira. A espuma branca e densa na superfície também indica a poluição.
Romildo Quintinho, de 62 anos, mora ao lado da cachoeira há 30 anos e conta que já viu aquela água cristalina, mas faz muito tempo. “Já foi limpinha, pessoal lavava roupa, banhava”, relembra. Hoje em dia, conta ele, corre nas águas diversos resíduos, inclusive materiais hospitalares e animais mortos.
O morador lamenta que a cachoeira não possa ser usada para a população se refrescar neste calorão que atinge a capital mineira. Nesta terça-feira (8/10), quando Romildo foi ouvido pelo Estado de Minas, BH bateu o recorde de dia mais quente do ano, com máxima de 36,8°C.
Elenilza Brito Silva, de 64 anos, mora a poucas ruas da queda d’água e também lamenta que a cachoeira não possa ser usada pelos moradores. Ela, que é líder comunitária, diz que seria um sonho a água ser apropriada para banho ou até mesmo para regar a horta do bairro.
Ribeirão do Onça
O Ribeirão do Onça é um afluente do Rio das Velhas e subafluente do Rio São Francisco. A bacia hidrográfica do ribeirão é famosa pela represa que originou a Lagoa da Pampulha. O curso de água principal nasce em Contagem e atravessa Belo Horizonte, percorrendo cerca de 38,7 quilômetros até sua foz no Rio das Velhas, onde está o limite entre a capital mineira e Santa Luzia.
Poluição
Procurada para comentar sobre a qualidade da água do Ribeirão do Onça, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) informou que trabalha na ampliação do sistema de esgotamento sanitário da bacia do ribeirão. De acordo com a autarquia, o índice de coleta de esgoto na abrangência da bacia é de 92,47%, sendo que cerca de 88,71% deste efluente coletado é direcionado para o tratamento na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE Onça).
A Copasa informa que o bairro onde a cachoeira está localizada fica a montante da estação de tratamento. Isso significa que a água do esgoto tratado retorna para o curso d’água depois da cachoeira.
A companhia também afirma que a cobertura das redes coletoras contempla 97,47% dos imóveis da bacia do Ribeirão do Onça. No entanto, segundo a Copasa, há uma parcela da população que não realiza o correto direcionamento do esgoto.
“A qualidade da água do Ribeirão do Onça é consequência de um conjunto de fatores, incluindo a poluição por fontes dispersas, que são carreadas para o córrego pelas águas pluviais e de lavagem, como, óleo, resíduos de construção civil, lixo doméstico, entre outros. Esses fatores exigem ações para a melhoria da qualidade da água que não compete à Copasa”, afirmou a autarquia.
Por sua vez, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), afirma que tem uma série de ações que visam reduzir o risco de inundações nas bacias do Córrego Cachoeirinha, ribeirões Pampulha e do Onça. O Executivo municipal diz que essas iniciativas fazem parte do empreendimento PAC Bacias.
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Entre os projetos, a PBH cita o trabalho conduzido pela Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) que inclui “o cadastramento de mais de 1.500 famílias e a remoção de moradias localizadas em áreas propensas a alagamentos. As áreas liberadas foram transformadas em campos de futebol, hortas comunitárias credenciadas, áreas para plantio de mudas e espaços para oficinas que ajudaram na instalação de brinquedos, mesas e bancos para uso coletivo”.
Retomada do Onça
Com o objetivo de ocupar os espaços periféricos do entorno do Ribeirão do Onça por meio da promoção de cultura, esporte e arte, foi realizado, em agosto deste ano, o Festival da Onça. À época, o coordenador do projeto, Roberto Andrés, contou que a ação teve apoio do Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu (Comupra), da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) e do Projeto Manuelzão, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Durante a época do festival, projetos na área foram inaugurados, como o Mirante da Cachoeira, bem em frente a queda d’água do Onça. No local, instalaram um escorregador para as crianças e um mural artístico foi pintado.
*Com informações de Ana Luiza Soares*
*Estagiária sob supervisão do subeditor Humberto Santos