A Avenida Bernardo Vasconcelos é um dos pontos de monitoramento neste período chuvoso -  (crédito: Edésio Ferreira/EM/DA Press)

A Avenida Bernardo Vasconcelos é um dos pontos de monitoramento neste período chuvoso

crédito: Edésio Ferreira/EM/DA Press

As primeiras chuvas significativas de Belo Horizonte depois de 172 dias de estiagem acenderam o alerta de moradores e comerciantes de áreas historicamente ligadas a enchentes e alagamentos na capital mineira. Fortes e seguidas de rajadas de vento, as precipitações começaram na noite de quarta-feira e devem prosseguir até domingo. Na quarta-feira, a prefeitura anunciou medidas para mitigar impacto de eventuais enchentes e inundações, que se somam a obras de infraestrutura concluídas ou em andamento.

 

"Ontem (quarta) já fiquei com medo, porque (a chuva) veio com uma força muito grande. Por ser a primeira (do período chuvoso de 2024), ela já vem mais forte, então a gente sempre fica apreensivo, achando que sempre vai alagar tudo. Pelo menos tem a previsão de chuva forte, então a gente já fica mais ou menos precavido ", diz Ana Carla de Oliveira, proprietária de uma loja de cortinas na Avenida Bernardo de Vasconcelos, no Bairro Ipiranga, Região Nordeste de BH.

 

 

De acordo com a comerciante, a chegada das chuvas desperta temores especialmente entre os proprietários de bares e restaurantes da região, já que geladeiras e freezers estão mais sujeitos à perda. Basta a água subir para que motores sejam danificados, aponta Ana Carla, que vivenciou situação de alagamento, em 2018, quando tinha uma loja na mesma avenida, mas no lado oposto da atual propriedade, onde a chuva causa mais danos. "O nível ali já chegou a uns 60 centímetros de altura. Do lado de cá, o passeio é mais alto, então, entra menos água. Por esse motivo, a gente teve que mudar de loja como medida cautelar", diz.

 

A chuva de quarta-feira rompeu um ciclo de 172 dias consecutivos de estiagem em BH, que liderava o ranking entre as capitais do país com mais dias sem precipitações. Embora a chuva não tenha causado graves estragos, o Bairro Jardim América, na Região Oeste, e o Caiçara, na Noroeste, ficaram sem energia elétrica durante a chuva.

 

 

Segundo a Defesa Civil, até as 6h de ontem, o município havia registrado chuva em todas as regionais. Naquele horário, Noroeste, Nordeste e Leste tinham o maior acúmulo de chuva, com 19,6mm, 17mm e 14,6mm, respectivamente. A Região do Barreiro era a que menos registrou chuva, com apenas 1,8mm, que representa 1,6% dos 110,1mm esperados para o mês. À tarde, entretanto, choveu forte no Barreiro e a região superou a média histórica do mês em quatro horas.

 

Em alerta

 

Com o início do período chuvoso, moradores e comerciantes das áreas afetadas pelas chuvas ficam em estado de alerta. Para Ana Carla, o temor foi agravado depois de vivenciar cenas “bizarras” no ano passado. Em 25 anos trabalhando na região, ela conta que a pior enchente que viu ocorreu em 2023, quando a enxurrada arrastou carros que estavam na via. Os veículos ficaram empilhados e se encheram de água em uma fração de segundos, relata.

 

Para impedir maiores estragos, a comerciante adota medidas de contenção, mas se sente aflita a cada chuva forte. "Tem enchente todos os anos. É a mesma situação, e a gente procura ter placas de contenção, não deixar as coisas muito no chão. Os carros também (são danificados com a chuva), porque não obedecem a sinalização da BHTrans, (os motoristas) veem que está alagando e continuam passando", diz.

 

 

O uso de placas de contenção na entrada dos estabelecimentos é comum na Avenida Bernardo Vasconcelos. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a via é uma onde haverá monitoramento constante no período chuvoso, adotado desde ontem.

 

Outras áreas

 

Já no Bairro Betânia, na Região Oeste de BH, quem mora ou trabalha no entorno da Avenida Tereza Cristina também está em alerta. Segundo a dona de casa Adélia Souza Santos, de 63 anos, 26 dos quais morando na região, as enchentes costumam ser tão fortes na vizinhança que não há contenção que impeça a água de entrar nas casas. Em 2020, ela chegou a perder os móveis da casa, mas, de lá para cá, relata, não houve inundações.

 

“Deus abençoou e não aconteceu mais. A hora que começa a dar alerta, que vai enchendo, a gente sai fora e larga tudo. Em 2020, eu perdi tudo, mas a prioridade da gente é a vida, né?”

 

 

“A água veio aqui”, conta, mostrando a altura na parede. “O muro é alto, mas ainda assim (a água) ultrapassa (...). Pra dormir tranquila, eu tenho que me deitar e dormir antes da chuva. Se começar a chover e eu estiver acordada, não consigo dormir de preocupação”, relata Adélia.

 

Monitoramento

 

A PBH anunciou, na quarta-feira, algumas medidas para mitigar os impactos de possíveis inundações, enchentes e deslizamentos no período chuvoso. Os trabalhos no Posto de Comando do Centro Integrado de Operações (COP-BH), onde 16 instituições estarão presentes na sala de controle, monitorando em tempo real eventuais ocorrências pela cidade por meio de câmeras, tiveram início ontem.

 

 

De acordo com a prefeitura, a Guarda Municipal contará com 200 agentes em 95 viaturas, além de outros 600 guardas disponíveis para atuar no bloqueio de vias e na segurança de áreas que forem isoladas. Além disso, haverá 75 agentes da BHTrans empenhados para evitar que pedestres e veículos fiquem isolados em alagamentos, situação que comumente provoca mortes nos períodos chuvosos.

 

Em relação aos investimentos, o Poder Executivo municipal informou que ações permanentes de prevenção às enchentes e proteção da população contra os riscos de desastres estão em desenvolvimento. Em nota, a PBH afirma que todos os órgãos da administração municipal estão envolvidos nas ações, que incluem manutenção de bacias de detenção, limpeza de bocas de lobo e de vias, galerias, fundos de vales de córregos, contenção de encostas, além do trabalho preventivo de alerta e conscientização dos moradores das áreas de inundação da cidade.

 

 

Há ainda um Sistema de Monitoramento Hidrológico capaz subsidiar as ações de alerta e enfrentamento do risco de inundações, bem como o acionamento de planos de bloqueio de vias durante as chuvas de maior intensidade. Em relação às melhorias, a PBH informa que há sete obras em andamento a serem concluídas até o próximo ano.

 

Confira a situação dos projetos de infraestrutura contra enchentes em andamento em BH

 

Córregos Olaria e Jatobá

Tratamento do fundo de vale dos córregos Olaria e Jatobá, na Região do Barreiro, com previsão de conclusão até o final de 2024. O empreendimento possibilitará a redução dos riscos de inundação do entorno dos córregos, com implantação de bacia de detenção de cheias para amortecimento dos picos de vazões durante o período chuvoso.

 

3ª etapa - Grandes Reservatórios – Vilarinho

Obras e serviços de otimização do sistema de macrodrenagem dos córregos Vilarinho, Nado e Ribeirão Isidoro para a implantação de dois reservatórios profundos – Vilarinho 2 e Nado 1 – e mitigação das inundações recorrentes na Avenida Vilarinho e Rua Dr. Álvaro Camargos. O Reservatório Vilarinho 2 deve ser concluído no primeiro semestre 2025, mas já com funcionalidade neste período chuvoso, e o Reservatório Nado 1, até o segundo semestre do próximo ano.

 

 

Bacia B5 – Córrego Ferrugem

Implantação da nova bacia (B5) e obras complementares no Córrego Ferrugem, na Vila Sport Club. A bacia já está funcionando em plena capacidade, restando as obras de urbanização e paisagismo previstas no escopo do projeto. A previsão de término é para o primeiro semestre de 2025.

 

Ribeirão Pampulha – 1ª etapa - Trecho Praça das Águas

A implantação de estrutura hidráulica na confluência do Ribeirão Pampulha e Córrego Cachoeirinha, adequação da geometria viária do entorno e o remanejamento do interceptor de esgotos na área do empreendimento devem ser concluídos até o fim do ano.

 

 

Ribeirão Pampulha – 2ª etapa

O Ribeirão Pampulha e seu afluente – o Córrego Suzana – terão a capacidade de escoamento da galeria existente aumentada e diminuição do risco de inundações na região. A obra deve ser finalizada apenas em 2026.

 

3ª etapa Túnel Camarões

A implantação de Interceptor de Esgoto e Tratamento de Fundo de Vale nos arredores do Córrego Túnel Camarões terá uma complementação do canal em gabião, implantação e remanejamento do interceptor de esgoto, recomposição do pavimento asfáltico e urbanização do entorno no trecho entre a Rua Antônio Eustáquio Piazza e Avenida Tereza Cristina, com previsão de término ainda neste ano.

 

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Córrego Santa Inês – Regional Leste

A execução das obras para Otimização do Sistema de Macrodrenagem do Córrego Santa Inês também está prevista para ser concluída neste ano.

 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho