Belo Horizonte quebrou, na última quarta-feira (9/10), um jejum de 172 dias sem chuvas significativas, o segundo maior período de seca registrado na capital desde a década de 1960. A ausência de precipitações causou a piora da qualidade do ar no município, que foi considerada muito ruim, conforme monitoramento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A condição climática ocorreu devido a poluição, fumaça de queimadas na Região Metropolitana de BH e névoa seca presente, principalmente, no inverno, e foi agravada pela falta de chuvas. No entanto, com a mudança climática dessa semana, o índice apontou melhoras de quarta até a manhã desta sexta-feira, saindo de “pobre” para “bom a moderado”, segundo o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, Thiago de Alencar Neves.
“Com os eventos que nós tivemos de chuva na Grande BH de 100 milímetros (mm) em algumas regiões e 50 mm em outras, é fato que você tem uma melhora da qualidade do ar quando comparado ao período de estiagem. Se a gente pega dados da última semana para o evento da chuva de ontem e hoje, você tem comparativamente com o período uma melhora da qualidade do ar”, explica Thiago, que participa do Grupo de Pesquisa em Poluição do Ar e Meteorologia Aplicada (GPPAMA).
De acordo com o especialista, são feitos monitoramentos diários do ar e, com isso, é possível avaliar a quantidade de material particular que mudou nos últimos dias. Os parâmetros para a qualidade do ar são os índices em relação aos componentes e, conforme vai chovendo, os índices também vão sendo alterados. Quanto mais chove em uma região, mais limpa fica a atmosfera nela.
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“Quando a gente olha para os índices em uma semana, a gente percebe a mudança. Com o passar do tempo, a qualidade do ar em Belo Horizonte vai normalizar ao que a gente conhece na nossa cidade, do nosso dia a dia, então a falta de chuvas frequentes para depurar o ar é, sim, uma problemática. Conforme nós vamos tendo menos períodos de chuvas, os efeitos do agravamento da poluição podem ser verificados”, diz o professor.
No período da ausência de chuvas, a capital mineira enfrentou índices de umidade relativa do ar baixíssimos, que ficaram em torno de 10% à tarde, considerado nível de emergência pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os índices ideais para a saúde humana são a partir de 60%, como a capital deve registrar nesta sexta.
Previsão do tempo
A previsão meteorológica indica que o dia será de céu nublado a parcialmente nublado, com possibilidade de chuvas fortes em algumas regiões, acompanhadas de raios e rajadas de vento nesta sexta. Segundo a Defesa Civil de BH, a temperatura máxima deve chegar aos 27ºC.
A capital também está sob alerta para chuvas fortes, granizo, raios e rajadas de vento ocasionais. Algumas regiões estão sob alerta para risco geológico devido ao acúmulo de chuvas nos últimos dias.
Nessa quinta, em apenas quatro horas as chuvas na Região do Barreiro superaram o esperado para todo o mês na capital. Segundo a Defesa Civil, das 13h às 17h, o volume da precipitação foi de 113,9 milímetros, sendo 110,1 mm a média climatológica para outubro.
Qualidade da água da chuva
Com o retorno das chuvas depois de quase seis meses, belo-horizontinos se preocupam quanto à qualidade e impureza da água da chuva. Isso porque, devido à estiagem e acúmulo de poluentes no ar, há dúvidas se a água é imprópria e se apresenta perigo caso entre em contato com a pele humana e na natureza.
Thiago de Alencar explica que na natureza não há água completamente pura, mas que não são todas as substâncias que fazem mal à saúde humana. No caso da água da chuva, as impurezas estão associadas à poluição do ar. O tempo que uma localidade fica sem chuva contribui para o aumento de poluentes na atmosfera e, portanto, a chuva de quarta na capital tinha metais e substâncias orgânicas.
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“A constituição dessa água pode causar chuva ácida. A água vai ter metais, íons, associados a questões hídricas. A água de ontem (quinta), com coloração mais escura, é típica de uma chuva quando se tem muito tempo de poluição no ar. Essa água, quando entra em contato com alguns materiais, pode gerar dois problemas, que é o contato direto do ser humano com a chuva e a captação da chuva”, conta.
O especialista informa que a água da chuva, mesmo em outras condições, não é própria para consumo, seja para beber ou tomar banho. Os primeiros 20 minutos de chuva não devem ser utilizados, pois o pH da água é modificado.
“Os primeiros minutos da chuva devem ser evitados, não porque podem causar alguma doença, mas uma pessoa com maior sensibilidade na pele pode ter algum problema. Se você não beber essa água, a probabilidade de ter algo nocivo é muito baixa, mas não contém a qualidade adequada”, conclui Thiago.
Já na natureza, o pH da água dos rios pode ser impactado pela chuva pós estiagem e causar problemas no ambiente aquático. O efeito no solo está associado à contaminação de água subterrânea. A água mais turva e escura, vista por alguns moradores de BH, também é associada à poluição do ar, principalmente ao material associado às queimadas.
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*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice