Caso segue em investigação pela Delegacia Especializada de Proteção a Criança e ao Adolescente (DEPCA) -  (crédito: Denys Lacerda/EM/D.A Press)

Caso segue em investigação pela Delegacia Especializada de Proteção a Criança e ao Adolescente (DEPCA)

crédito: Denys Lacerda/EM/D.A Press

Um homem de 58 anos foi preso nesta sexta-feira (11/10) suspeito de abusar sexualmente de quatro crianças num centro espírita onde é pai de santo, no Bairro Taquaril, Região Leste de Belo Horizonte. O líder religioso dizia para as crianças que quem praticava os atos era o espírito que ele haveria incorporado. A delegada Fernanda Fiuza, responsável pelo caso, conta que as investigações levaram à descoberta de outras duas possíveis vítimas e que o número pode ser ainda maior. Devido ao modus operandi do líder religioso, a investigadora acredita se tratar de um “predador sexual”.

 

As investigações da Polícia Civil (PCMG) começaram há três meses, quando uma das vítimas, garoto de 10 anos, relatou a familiares a ocorrência dos abusos, praticados no centro espírita frequentado por ele e pelos irmãos, de 5, 7 e 12 anos. As crianças todas estavam sob a guarda da avó, que mantinha relação com o suspeito, e dormiam parte da semana no local.

 

A aproximação do suspeito com essa avô se deu com o objetivo de ter acesso às crianças para, futuramente, abusá-las, acredita a delegada Fernanda Fiuza. “Ele se aproxima de pessoas mais vulneráveis. É uma tia, uma avó, uma mãe recém separada, viúva, ou que tem problema com álcool”, explica. Segundo a investigadora, a avó das crianças têm problemas com bebidas alcóolicas assim como a mãe, que também faz o uso de drogas.

 

 

O menino que relatou os abusos também disse que o líder religioso dava remédios para a avó dormir, e, então, aproveitava do estado dela para cometer os abusos contra as crianças.

 

Reincidente

As investigações identificaram duas possíveis vítimas que teriam sido estupradas pelo líder religioso anos atrás – uma delas, filha adotiva do suspeito. Os abusos vieram à tona em 2017. O inquérito ainda não foi concluído. O outro caso é mais antigo, datado de mais de 20 anos atrás, e envolve a filha de uma frequentadora do centro espírita.

 

“A desculpa dele para abusar dela é de que ela teria que ir lá para fazer um bori, que é tipo um trabalho espiritual. Ela dormiu lá para fazer o bori no dia seguinte e, nesse ínterim, ele abusou sexualmente dela”, relata a delegada.

 

Como justificava para os estupros, o líder religioso disse para a vítima que os atos foram cometidos enquanto ele incorporava outro espírito. No entanto, em depoimento ao ser preso, o suspeito negou ter praticado qualquer abuso. “Ele afirmou que de fato incorpora o espírito e entra em transe, mas que não incorpora próximo às crianças”, conta a delegada.

 

 

Além disso, o suspeito ameaçava as vítimas e familiares caso o denunciassem, e dizia que tinha amigos influentes, como desembargadores e policiais. Ele também fazia ameaças, utilizando para isso a religião. “Ele falava que ia fazer trabalhos para que elas se dessem mal”, conta a delegada.

 

 

Proximidade

 O suspeito, devido ao status de líder religioso, tinha muita confiança dos familiares das crianças. A investigação aponta que, para conquistar as vítimas, o homem as levava para viagens, especialmente para a praia, e dava presentes. Para as meninas, ele dava batons, esmaltes e calcinhas fio dental.

 

A delegada Fernanda Fiuza conta que, à medida que as crianças cresciam, o suspeito perdia o interesse e partia para outras vítimas. “Os abusos acabavam quando as vítimas atingiam entre 15 e 16 anos, que é quando elas atingem o corpo de adulto e ele perde o interesse”, detalha.

 

No diário da criança de 12 anos, os investigadores encontraram textos onde ela tratava o suspeito como seu namorado. “Quando as tias e a avó impediram que ela frequentasse o centro espirita, ela ameaçou suicídio”, conta a delegada.

 

Devido ao líder religioso supostamente praticar os abusos com recorrência, e não esporadicamente, além do mesmo modus operandi contra todas as vítimas, a delegada Fernanda Fiuza acredita se tratar de um “predador sexual”. “Já levantamos, até então, seis vítimas, com certeza absoluta, e estamos progredindo para serem oito vítimas dentro das investigações”, defende.

 

 

Prisão

O suspeito, que trabalha prestando serviços para a Prefeitura de Belo Horizonte, foi preso preventivamente na manhã desta sexta-feira no local de trabalho. O caso segue sob investigação pela Delegacia Especializada de Proteção a Criança e ao Adolescente (DEPCA).

 

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