Praça Raul Soares, a ‘Raulzona’,  recebe pela terceira vez a galeria a céu aberto 
     -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A.Press.Brasil.MG.Belo Horizonte. )

Praça Raul Soares, a ‘Raulzona’, recebe pela terceira vez a galeria a céu aberto

crédito: Leandro Couri/EM/D.A.Press.Brasil.MG.Belo Horizonte.

A 10ª edição do Circuito Urbano de Arte (Cura) traz para a Praça Raul Soares, na Região Centro-Sul de BH, obras que contemplam as comunidades, com olhar voltado especialmente para as crianças. Em sua terceira edição na ‘Raulzona’, a galeria a céu aberto será concebida, pela primeira vez, exclusivamente por artistas mulheres. O Cura deste ano ocupa a praça a partir desta quinta-feira (24/10) até 3 de novembro.  

 


Três empenas serão pintadas e haverá uma instalação “brincante” na praça, sob a provocação: ‘E se a Raul Soares fosse um espaço de convivência?’. Além dos murais e da obra interativa, o circuito tem uma programação composta por apresentações de DJs, exibições de filmes e carrinhos de pipoca e algodão doce. 

 

A 10ª edição marca o retorno do Cura após dois anos. A ocupação cultural não ocorreu em 2023 por dificuldades na realização, segundo Juliana Flores, curadora do circuito com Flaviana Lasan, Janaína Macruz e Priscila Amoni. Ela explica que o evento pode não ser muito atrativo para empresas apoiarem, uma vez que a marca delas não fica estampada nas empenas.

 

“O Cura é acima de tudo um legado para cidade de Belo Horizonte, o que fica para a cidade são os murais. Não é fácil viabilizar o Cura, mas entendemos que é importante”, diz Juliana, que reforça o compromisso com o fazer artístico.

 

 

Sobre o tema das comunidades, a curadora explica que ele foi adotado pensando na mulheridade, infância e velhice. “Partimos da provocação: ‘O que as comunidades inventam?’ Num exercício de imaginar formas e futuros, como viver nessa sociedade”, diz Juliana. O circuito traz a ideia de comunidade sob a perspectiva feminina, cujos olhares serão retratados nas empenas.

 

Anfitriã

A artista belo-horizontina Clara Valente será a anfitriã do Cura deste ano e responsável pela pintura de 1.928 m² na empena do Edifício Claro, na Rua Espírito Santo. Para ela, essa participação é uma mistura de sentimentos: surpresa, felicidade, medo e coragem. Essa será a primeira vez que Clara terá a empena de um prédio como tela.

 

“Meu trabalho é uma pesquisa da flora e montanhas do Cerrado. Nesse sentido, estou fazendo a comunhão entre o Parque Municipal e a Praça Raul Soares, minha pintura vai ficar ali no meio. É um diálogo com a cidade, de levar um pouco de cor, elementos da natureza, que é o que eu faço. Aminha pesquisa é sobre a natureza”, explica a artista.

 

Clara conta também que seu mural será “fácil de ser digerido pelo olhar das crianças” por ter cores e não ser cheio de detalhes. 


Líder indígena

Liça Pataxoop será a responsável pela arte na empena do Edifício Leblon, na Avenida Amazonas, que foi uma tela desafiadora para entrar no portfólio do Cura por precisar de vários reparos. Ela, que é liderança da aldeia indígena Muã Mimatxi, em Itapecerica, na Região Centro-Oeste de Minas, vai se inspirar no Hãm kuna'ã xeka (O Grande Tempo das Águas) para seu mural.

 

 

“O Tempo Grande das Águas é o primeiro tempo do mundo. É o tempo do começo de todas as coisas, todas as histórias. É o tempo da inteligência, da sabedoria e do conhecimento. É o tempo da grande água que deu origem ao nosso povo Pataxoop”, explica ela, que também é educadora. 

 

Empena do Edifício Leblon, na Avenida Amazonas, ainda como uma tela gigante em branco vai receber a arte da líder indígena Liça Pataxoop

Empena do Edifício Leblon, na Avenida Amazonas, ainda como uma tela gigante em branco vai receber a arte da líder indígena Liça Pataxoop

Leandro Couri/EM/D.A.Press.Brasil.MG.Belo Horizonte.

 

A empena de Liça Pataxoop, bem em frente à Praça Raul Soares, será tela para um grande tehêy, instrumento de pesca ancestral, acompanhado de seres vivos, flores e pedras. Como educadora, a líder indígena usa o tehêy para pesca de conhecimentos e ensinamentos sobre os Pataxoop. 


Artista africana

Bahati Simoens, nascida em Burundi, país na África, vai pintar a empena do Edifício D’Ávila, na Rua dos Guaranis, com a obra "Você não pode chorar se está rindo" (You can’t cry if you’re laughing), que faz parte da série "Papai nunca chegou com flores” (Daddy never came with flowers). Ela, que tem pai belga e mãe congolesa e mora na África do Sul, retrata em suas obras a alegria do povo negro.

 

 

“Esse é o poder que temos como artistas e contadores de histórias, criando esperança. Temos o poder de segurar um espelho para que o outro se sinta visto e mostrar o que está faltando. Ou mostrar como as coisas poderiam e deveriam ser, se alguém estiver aberto a isso”, diz a artista. As obras de Bahati são marcadas por corpos pretos, arredondados e sem os rostos em ações cotidianas. 


Brincacidade 

A instalação ‘Brincacidade’, realizada pela arquiteta-urbanista Isabel Brant, levanta debates sobre permanência e infância. Para a profissional do escritório Mutabile, crianças encontram o diferente, a pluralidade e expandem suas fronteiras, tão ligadas às telas atualmente, ao brincarem na cidade. 

 

Com oito portais inspirados no próprio desenho da praça e nas avenidas ao entorno, a obra Brincacidade poderá ser acessada por todos os cantos. A arquiteta belo-horizontina diz que os brinquedos serão lúdicos e interativos. A instalação, colorida e chamativa, também vai ter quatro totens interativos para o público. A referência são os xaponos dos povos indígenas Yanomami, aldeias-casas ocupadas pela comunidade, onde tudo se faz coletivamente: brincar, festejar, conviver.


 

Juliana Flores explica que a obra é uma forma de provocar a visão da Praça Raul Soares como mais que um lugar de passagem. “O Cura é sobre isso, o direito à cidade. O direito de estar no espaço público e que seja acolhedor. Quando a gente fala da infância é isso. Se a praça, a comunidade e a cidade são lugares seguros para crianças, elas são boas para qualquer pessoa”, diz a curadora. 

 

Prévia da instalação Brincacidade

Prévia da instalação Brincacidade

Leandro Couri/EM/D.A.Press.Brasil.MG.Belo Horizonte


Efemeridade

Por estarem nas empenas de prédios, os murais do Cura estão sujeitos às ações do tempo, assim como outras formas de artes urbanas. Por isso, é comum que pinturas mais antigas estejam mais desgastadas. No entanto, esses murais não serão cobertos por outras artes. Juliana diz que a ideia do Cura é expandir para prédios “em branco”.

 

Em abril deste ano, a curadora Priscila Amoni afirmou ao Estado de Minas que o festival foi se munindo ao longo dos anos e adquirindo técnicas para que as empenas durassem, como aplicação de verniz na pintura, mas não há recursos para garantir a preservação das empenas já pintadas. “No ponto de vista do artista, existe o desejo de ver aquela obra durar. A cidade também acolhe. A gente entende que a arte urbana está sob a ação do tempo, é uma coisa natural que se desgasta com o tempo”, ela diz.

 

A artista cearense Tereza de Quinta pintou o mural Curandeiras na fachada cega do edifício Rio Tapajós com seu parceiro Robézio Marqs na primeira edição do Cura, em 2017. Atualmente, a arte está com as cores menos vibrantes e algumas partes foram removidas, sobre isso, a artista afirma que: “O tempo tem o seu papel, eu acho que o mural não está ali pra ficar a vida toda naquele local. O tempo de cada lugar faz com que a tinta vá ficando mais clara o tempo vai agindo, então eu gosto de pensar que é bonito também ver a passagem do tempo nos murais.”

 

O Cura

O Circuito Urbano de Arte nasceu em Belo Horizonte em 2017 com a proposta de democratizar a arte e transformar o espaço urbano em galerias. Desde então, o Cura traz para a capital mineira as cores e o protagonismo feminino, além da arte indígena. As empenas pintadas se tornaram uma marca de BH. A edição deste ano é patrocinada pela Claro, UniBH e Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), com apoio da Shell. Em 2023, o Cura teve sua primeira edição em Manaus.

 

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Programação

*Sujeita a alteração em caso de chuva

 

Abertura – 24/10, quinta-feira – das 18h às 22h

    • Exibição do filme Pele com sessão comentada por Marcos Pimentel e Binho Barreto (classificação indicativa 12 anos)

    • Exposição da instalação Brincacidade – Isabel Brant


25/10, sexta-feira – das 18h às 22h

    • Cine Botas – exibição de filmes sobre o universo lésbico e debates 

    • Exposição da instalação Brincacidade – Isabel Brant


26/10, sábado – das 14h às 20h

    • Slackline (Highline Urbano) e DJs:

         Manu Grossi (14h às 17h)

         Pat Manoese (17h às 20h)


27/10, domingo – das 14h às 20h

    • Slackline (Highline Urbano) e DJs:

         Bebela (14h às 17h)

         Naroca (17h às 20h)


31/10, quinta-feira – das 18h às 22h

    • DJs:

         Jambruna (18h às 20h)

         Black Josie (20h às 22h)


01/11, sexta-feira – das 18h às 22h

    • DJs:

         Bruna Castro (18h às 20h)

         Fê Linz (20h às 22h)


02/11, sábado – das 14h às 20h

    • Slackline (Highline Urbano) e DJs:

         Carol Blois (14h às 17h)

         Camis (17h às 20h)


Encerramento – 03/11, domingo – das 14h às 20h


    • Slackline (Highline Urbano) e DJs:

         Sandri (14h às 17h)

         Kingdom (17h às 20h)

 


*Estagiária sob supervisão da editora Vera Schmitz (Com informações de Larissa Figueiredo)