Após registro de boletim de ocorrência por supostos atos discriminatórios em loja, família decidiu levar caso para a Justiça -  (crédito: Reprodução/Redes sociais )

Após registro de boletim de ocorrência por supostos atos discriminatórios em loja, família decidiu levar caso para a Justiça

crédito: Reprodução/Redes sociais

A bióloga e veterinária Fernanda Fernandes, de 39 anos, denuncia que a sua filha sofreu discriminação na loja Bizz, no Shopping Estação, de Belo Horizonte, na última segunda-feira (28/10). De acordo com a mãe, a menina de 3 anos, natural de Divinópolis, fez xixi no chão da loja enquanto as duas compravam um anel. Fernanda estuda medicina na capital, onde fica durante a semana com a filha mais velha. Já a mais nova fica com a avó em Divinópolis, mas estava em Belo Horizonte para uma consulta médica.

 

 

A criança de três anos possui a síndrome rara Triplox, autismo e epilepsia e faz acompanhamento médico. Fernanda conta que, por volta das 16h, depois de uma consulta, a filha mais nova pediu para ir ao shopping comprar ‘um anel de princesa’. “Eu cheguei pra comprar o anel, a gente escolheu o anel, e na hora que eu tava olhando uma presilha, ela falou que tinha feito xixi, quando eu olhei ela realmente tinha feito xixi na calça, porque ela está em processo de desfralde, então a gente usa calcinha normalmente e fralda para viajar”, relata a mãe.

 

 

Diante da situação, a estudante de medicina chamou uma funcionária que estava próxima a ela. “Pelo tom que ela falou com as outras funcionárias, eu acredito que ela seja gerente. Eu contei que minha filha tinha feito xixi e pedi para que ele me desse um pano e um rodo para limpar. Ela colocou a mão no rosto, e com um tom irônico falou assim: ‘nossa, dá o pano da loja?’. E eu não entendi, no começo eu achei que era brincadeira, por isso que eu fiquei sem ação. Então eu perguntei. E ela disse que o pano da loja iria ficar fedendo de xixi”, lembra a estudante. 

 

 

A mãe conta que insistiu e continuou pedindo para limpar, questionando se havia detergente para que ela pudesse limpar o xixi. “Ela disse que não adiantaria por detergente, porque a loja inteira ia ficar fedendo a urina. Mas assim, xixi de criança é fisiológico, qualquer criança na idade dela tem escape de xixi. Ela chamou algumas outras funcionárias, inclusive a menina que tava no caixa, pra ir ver o xixi, e continuava falando, nossa, agora a loja vai ficar fedendo urina, a loja vai ficar fedendo xixi. A minha filha, ela tem dificuldade de fazer contato visual e socializar, e ela ficou nervosa, balançando a mãozinha com o flap, abaixou o rosto, ficou escondendo”, detalha Fernanda. 

 

A mãe relata que ficou desorientada com a situação e apenas pagou o anel e foi embora da loja com a filha. “Esse não é um acolhimento que qualquer pai ou qualquer mãe deseja ter com seu filho, porque eu me dispus a limpar. E assim, o pano já era um pano usado, um pano de chão, é dois reais, eu pagaria se fosse o caso. Foi uma maneira desrespeitosa em relação ao fato. Esse tipo de atitude não pode passar, as pessoas precisam entender que respeito não é um favor, é uma obrigação”, acrescenta a bióloga.


Boletim de ocorrência


Fernanda registrou um boletim de ocorrência para que a situação seja apurada e contou que também denunciou a situação em sua rede social. Nessa quarta-feira (30/10), porém, a família decidiu levar o caso à Justiça. “Eu só quero a capacitação dos profissionais que estão principalmente na linha de frente do atendimento ao público. Eu só quero respeito. Eu sei que o shopping não tem tanta culpa disso, mas é um local público e não deixa de afetar a imagem. E a loja não entrou em contato comigo. A única coisa que a loja fez foi uma chamada de áudio pelo Instagram, que eu nem vi. Se o shopping entrou em contato comigo por telefone, pelo WhatsApp, e a loja fica no shopping, seria fácil o meu contato. Então a loja não ligou, não disse nada para se retratar”, revela.

 

A mãe conta que na última terça-feira (29/10), quando ela e a criança foram almoçar no shopping, a menina lembrou da situação. Além disso, segundo Fernanda, a criança também começou a segurar o xixi. “Assim que ela desceu do carro, a única coisa que ela falou foi que não podia fazer xixi na calça. Porque ela entendeu o que aconteceu, ela ficou envergonhada”, detalha. 

 


Imagens de segurança



Em nota, a Loja Bizz lamentou o ocorrido, mas defendeu que não houve ato discriminatório e esclareceu que investigou a situação por meio de imagens de segurança. A reportagem perguntou se as imagens tinham áudio, mas não obteve resposta. A loja ressaltou na nota que tentou entrar em contato com a mãe via direct e ligação, mas não teve retorno. “Pedimos desculpas sinceras se nossa equipe não atendeu a situação da maneira adequada. Estamos comprometidos em aprimorar nossos treinamentos e garantir que situações como essa não voltem a acontecer.” 

 

 

O Shopping Estação esclareceu, também por meio de nota, que acolheu a mãe assim que teve conhecimento da situação e já acionou o lojista para que as devidas providências sejam tomadas. "O Shopping Estação BH preza pelo respeito e bem-estar de seus clientes, promovendo a inclusão, de forma que todos sejam bem-vindos. O shopping repudia todo e qualquer tipo de discriminação e se sensibiliza com o relato da cliente, a quem acolheu prontamente, tão logo tomou conhecimento do ocorrido. Também esclarece que acionou o lojista em questão para que as devidas providências sejam tomadas."

 

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Procurada, a Polícia Civil informou que os fatos estão sendo apurados pela Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes de Racismo, Xenofobia, LGBTfobia e Intolerância Correlatas (Decrin) em Belo Horizonte.

 

*Estagiária sob a supervisão do subeditor Humberto Santos