Uma rua pequena, com cerca de 800 metros, tinha tudo para ser tranquila e pacífica. Mas, quem mora nela, convive com o medo diário de ver a casa sendo invadida por algum veículo pesado. Em menos de dois meses, moradores da Santa Josefina, no Bairro Aparecida, Região Noroeste de Belo Horizonte, acordaram assustados com o barulho causado por caminhões desgovernados que não conseguiram subir o morro e acertaram em cheio os muros de casas.

 

“Era mais ou menos umas 5h40. Eu estava levantando na hora quando ouvi o barulho do caminhão subindo. Na hora que ele começou a voltar, a gente já até conhece o barulho. Falei: ‘o caminhão tá voltando’. Foi tão rápido, mas tão rápido, na hora que eu saí aqui fora, meu marido estava lá no quarto arrumando a cama. Ouvi aquele barulhão, gritei, ele veio correndo e a gente saiu. Nisso, fez mais um barulho, um estrondo tão grande e levantou aquele poeirão. Quebrou o passeio, o portão, um murinho que eu tenho, o piso quebrou e o cano”, diz Irani Rocha Rodrigues, que, junto do marido, ficou presa na residência nesta quarta-feira (2/10), após um caminhão carregado com bebidas perder o controle ao subir a rua, descer de ré e bater no muro da casa.

 



 

Segundo Irani, que mora na residência há 10 anos, a vizinhança convive com o medo diário. Ela afirma que este é o quarto acidente que atinge alguma casa da via desde que mora na região. Ela e o marido conhecem o barulho que os caminhões e ônibus fazem ao subir a rua, que é bem íngreme, e temem ter a residência atingida. Por muito pouco o veículo não atingiu o cômodo em que estavam desta vez.

 

 

A situação é agravada pela presença da Escola Estadual Princesa Isabel, localizada dois quarteirões acima, na Rua Santa Judite. Muitas crianças passam pela Santa Josefina, alvo de acidentes com veículos pesados, o que gera ainda mais medo nos residentes. Por causa da escola, muitos ônibus também passam pela região, intensificando o fluxo.

 

Irani ressalta que, devido ao medo, já tentou vender a casa algumas vezes, mas não conseguiu. Depois do episódio desta quarta, ela relata estar decidida a se mudar caso a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) não tome alguma medida.

 

 

“Eu moro aqui há 10 anos. Depois que eu vim morar aqui já é o quarto caminhão que acontece isso aqui. Duas vezes foi na casa do vizinho meu do lado. Inclusive, ele nem acabou de arrumar lá (o muro) ainda porque quebrou tudo lá. Outra vez tombou um caminhão de areia, não atingiu casa nenhuma, só que o caminhão tombou no meio do asfalto e ficou lá. Duas vezes foi na casa desse vizinho do lado e agora na minha”, conta Irani.

 

Acidentes recorrentes

Em 8 de agosto foi a vez de Weder Silva se desesperar ao acordar, por volta de 8h30, com um caminhão carregado com caixas de suco. O veículo não conseguiu subir a via, voltou de ré e bateu na casa. Com o impacto, o material se espalhou no asfalto, mas não houve feridos.

 

 

"É a terceira vez que isso acontece. Em agosto, um caminhão de suco também desceu a rua e danificou a rede elétrica. Agora aconteceu de novo. A prefeitura já veio aqui duas ou três vezes, conversou com moradores, mas até hoje não fez nada", conta Weder, que mora no local há 40 anos.

 

Medidas

Em nota, a Copasa informou que o padrão de água do imóvel número 720, da Rua Santa Josefina, foi atingido por um caminhão, afetando também a rede de distribuição de água da rua. Uma equipe foi deslocada para o local para a correção do vazamento, que está prevista para ser concluída no decorrer da tarde de hoje.

 

 

Segundo Irani, o condutor do caminhão permaneceu no local até o final da manhã e afirmou que o seguro do veículo vai arcar com o prejuízo.

 

A PBH informou que um projeto para implantação de sinalizações de regulamentação de Parada Obrigatória e de advertência de proibição de trânsito de veículos pesados na Rua Santa Josefina com a Rua Major Delfino de Paula, no bairro Aparecida, foi elaborado.

 

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Em nota, o poder executivo disse que o projeto se encontra na lista de implantações da BHTrans e afirma que a via já possui outras placas de proibição de trânsito de caminhões, que serão revitalizadas para ampliar as condições de segurança na via. A informação contraria a dos moradores, que afirmam que não há sinalização que proíba o tráfego no local.

A Defesa Civil informou que esteve no local e constatou o desabamento parcial de um muro de arrimo causado pela colisão de um caminhão. "Durante a vistoria, foram observadas trincas e rachaduras no muro frontal do imóvel, bem como deslocamento e inclinação do muro no corredor de acesso à moradia, indicando possível comprometimento estrutural. Além disso, verificou-se a queda de um pilar de sustentação e o desmoronamento de tijolos de cerâmica. Também foi identificado o rompimento da rede de tubulação da Copasa, afetando a rede hidráulica de água servida. O morador foi orientado a manter o isolamento da área afetada e adotar as medidas necessárias para recuperação e mitigação dos riscos", divulgou o órgão por meio de nota.

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