Apesar de não ter pastagens ou áreas agrícolas extensas, a Região Metropolitana de Belo Horizonte e cidades do colar metropolitano também são fortemente castigadas por incêndios neste ano, concentrando grandes extensões queimadas entre pontos de mineração e unidades de conservação. Nesse território, a Serra da Moeda foi a maior área a apresentar mais focos de incêndio em um só dia em dois dos três meses do levantamento feito pela reportagem do Estado de Minas, com base em dados de satélites e tratamento do programa Capacidade de Observação da Terra em Tempo Quase Real da Nasa, a agência espacial norte-americana.
As informações sobre áreas atingidas pelo fogo foram cruzadas com o mapeamento de recursos hídricos e florestais do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG) e do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), para mostrar as riquezas naturais sob impacto das queimadas.
Em julho, a maior área de focos de incêndios nas imediações da Grande BH ocorreu do dia 23 ao 25, entre a região do Bação, em Itabirito, e Moeda, na Serra da Moeda, dos dois lados da BR-040. Os primeiros focos apareceram bem acima da Mina de Várzea do Lopes e seguiram avançando pelo alto, na direção da cava da Mina Miguel Burnier. O dia 24 foi o que apresentou a maior área com focos captada pelos satélites, se espalhando por 467,70 hectares.
O local é marcado por várias nascentes que correm a Oeste, para a Bacia do Rio das Velhas, proporcionando mais água para a captação da Copasa de Bela Fama, em Nova Lima, responsável por cerca de 60% do abastecimento da Grande BH. Entre as nascentes afetadas nessa vertente estão pelo menos cinco do Córrego dos Lopes, duas do Córrego Estreito e pelo menos dois outros afluentes do Ribeirão do Silva. Na outra vertente, que flui para a Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, o fogo queimou áreas de 14 nascentes do Córrego dos Antunes e outras cinco do Córrego dos Vieiras.
O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais registrou combate a incêndios florestais no Monumento Natural Estadual Serra da Moeda entre 23 e 25 de julho: “Incêndio de grandes proporções com equipes de reforço e brigada Amda (Associação Mineira de Defesa do Ambiente) no local. Uso de drone para avaliação. (Helicóptero da PMMG) Pégasus se deslocando do Itacolomi para Moeda em apoio. São três linhas de fogo detectadas, três flancos ativos no momento. Prioridade é atacar o foco Azevedo, que ameaça residências e está sendo combatido com lançamento de água. O foco Norte é prioridade 2, pois avançou muito e ameaça estradas e outros parques próximos, e está sendo combatido por brigadistas. O foco Sul está distante de residências e avança pela crista da Serra, é prioridade 3”.
O maior incêndio florestal de agosto foi também o maior registrado na temporada de estiagem de 2024 na área de influência da Grande BH, em cinco dias, segundo o levantamento baseado em dados coletados pela Nasa até 22 de setembro. Foram quatro focos, se estendendo por 1.419,31 hectares, no dia 20 de agosto. Uma área tão grande que caberia seis parques das Mangabeiras, uma das maiores reservas urbanas da América Latina, em BH.
Esse incêndio começou entre Nova Lima e Itabirito, às margens da BR-040, próximo à entrada do Condomínio Ville des Lacs. Ao mesmo tempo, outros dois focos espalhados ao redor da área de Água Limpa, em Itabirito, atingiam o curso e nascentes do Córrego Padre Domingos e Córrego Água Limpa.
No dia seguinte, um pequeno foco se manteve em Água Limpa, enquanto dois outros arderam da BR-040 até o alto da Serra da Moeda, por extensão crescente de quase 9 quilômetros de diâmetro, atingindo, na encosta Leste da Serra, a vertente do Rio das Velhas, pelo menos 15 afluentes do Córrego Água Limpa e do Ribeirão do Silva, entre Itabirito, Ouro Preto e Moeda.
Na vertente Oeste, o fogo se alastrou por área com pelo menos 24 nascentes da Bacia do Rio Paraopeba, em Moeda, todos cursos contribuintes do Córrego dos Maias, Córrego da Macaca, Córrego Campinho, Córrego Samambaia, Ribeirão São Caetano e Córrego Pedra Negra, incluindo a Cachoeira da Moeda.
Em 21 de agosto, o miolo dos focos havia sido extinto, mas a parte Norte se ampliou e a Sul seguiu morro abaixo, engolindo 592,73 hectares, sobretudo nas matas das encostas da serra já em Moeda, às bordas do Condomínio Retiro do Chalé, inclusive do clube, restaurante e cachoeira, chegando muito próximo do mirante Topo do Mundo.
No dia seguinte, os focos mais extremos estavam distantes 12 quilômetros um do outro. Um de pouco mais de 14 hectares e outros três maiores, com mais de 104 hectares, na
BR-040, passando pela Serra da Moeda até as bordas do Retiro do Chalé, em Brumadinho, ainda mais próximo do Topo do Mundo e da base dos brigadistas na crista do monte. Nessa data, os focos foram, por fim, debelados.
Ao todo, segundo o Corpo de Bombeiros, foram empenhados nesse combate 10 militares e 29 brigadistas, uma caminhão-pipa e aeronaves Air Tractor. Um helicóptero mapeou os focos para definir estratégias. No dia seguinte, além do empenho de bombeiros e brigadistas, contribuíram dois funcionários do Instituto Estadual de Florestas, uma equipe da Amda e uma equipe de brigada do Condomínio Retiro do Chalé. No dia 22, o mesmo efetivo combateu até debelar o incêndio.
O mês de setembro também foi marcado por diversos incêndios em vastas áreas na Grande BH e entorno, mas a maior concentração de focos detectada pelos satélites ocorreu entre Fortuna de Minas e Esmeraldas. Começou fora dos limites da região metropolitana, em Fortuna de Minas, no dia 4 de setembro. Dois focos queimavam dentro de área total de 169,06ha. Progrediram por nove dias, até aumentar quase dez vezes a área com incêndios, chegando a 1.107,23ha.
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É uma área de fazendas com pastagens e alguns cultivos, cerradões intercalados por florestas estacionais semideciduais montana, um tipo de vegetação comum ao cerrado e à mata atlântica, ocorrendo entre 700 e 1.000 metros de altitude. Nessa grande área, foram afetadas diversas nascentes e córregos contribuintes diretos do Rio Paraopeba e também de afluentes importantes, como o Ribeirão dos Macacos.
O Corpo de Bombeiros informou que no período de referência houve atendimento a mais de 100 chamadas para incêndios em vegetações no município de Esmeraldas. Em Fortuna de Minas, os combates foram em incêndios em vegetação nas fazendas Bom Sucesso, Boa Vista, da Serra e Rancaba.