Minas Gerais foi o berço do nascimento de um filhote dos reflorestadores mais carismáticos e pacíficos do país:  o muriqui-do-norte. A fêmea, batizada de Elis, nasceu neste mês em Simonésia, na Mata do Sossego, um dos últimos fragmentos contínuos de Mata Atlântica na Região da Zona da Mata. A espécie está em categoria de extinção.

 

 

Fernanda Pedreira Tabacow, bióloga e coordenadora do projeto Muriquis do Sossego, conta que é o terceiro nascimento no lugar. Segundo ela, a mata tem cerca de 30 muriquis.

 



 

Elis é o 8° filhote de uma fêmea de muriqui-do-norte trazida ao projeto ainda em 2006 pelo professor Fabiano Rodrigues de Melo. A fêmea foi levada para a Mata do Sossego como uma intervenção para reverter sua ameaça de existência. 

  

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) considera que os muriquis-do-norte não estão completamente extintos, mas sofrem grandes ameaças. Segundo a bióloga Cláudia Costa, são três fatores que contribuem para isso.


É uma espécie endêmica de Mata Atlântica, ou seja, os muriquis-do-norte dependem de áreas naturais preservadas e, neste caso, um bioma já ameaçado e que sofreu drásticas reduções da cobertura original. 

 

Esse desmatamento transformou as florestas em que os muriquis viviam em fragmentos menores e isolados. Por isso, é comum que pequenas populações se reproduzam entre si, o que reduz a variabilidade genética, tornando-os vulneráveis a diversas doenças.

 

 

Estudando sobre o comportamento reprodutivo do primata durante seu mestrado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Cláudia entendeu que se trata de um animal sensível. Isso acontece por permanecerem em grupos que podem chegar a 70 primatas, machos e fêmeas. “Eles precisam de grandes áreas protegidas para sobreviver em grupo, isso gera certa fragilidade”, ela explica.

 

O terceiro panorama é a gestação relativamente longa do muriqui-do-norte. "Existe um intervalo grande entre os nascimentos. Os filhotes ficam dependentes das mães por quase 3 anos de idade”.

 

A bióloga afirma que os muriquis-do-norte são ainda mais ameaçados do que os muriquis-do-sul, que têm um número maior em grandes áreas protegidas, principalmente em São Paulo.

 

 

Por onde eles estão?

Conforme dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em 2022, a população total de muriqui-do-norte era de 1.136 exemplares e, de acordo com Fernanda Tabacow, o animal é exclusivamente do Brasil, predominante da Região Sudeste, especificamente em Minas Gerais, Espírito Santo e alguns locais na divisa dos dois estados com a Bahia.

 

Os muriquis são conhecidos por seu comportamento sociáve, frequentemente chamados de “povo manso da floresta”. Eles também são os maiores primatas das Américas e podem chegar a 1,5 metros de altura.

 

Segundo a Fundação Biodiversitas, a maior população conhecida se encontra no Parque Nacional do Caparaó, dividido entre Minas Gerais e o Espírito Santo, com cerca de 372 exemplares da espécie. 

 

 

Corredor ecológico

“O nascimento de um filhote é sempre motivo de comemoração, mas, infelizmente, não garante a sobrevivência ou a mudança de categoria de ameaça”, Cláudia comenta e institui como solução outras ações paralelas, como os corredores ecológicos, “que poderiam conectar os últimos remanescentes florestais onde a espécie ocorre”. 

 

Tanto Cláudia quanto Fernanda citam o projeto “Conexão”, que propunha desenvolver o corredor ecológico Sossego-Caratinga, entre a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Sossego, de propriedade da Fundação Biodiversitas, e a RPPN Feliciano Miguel Abdala, administrada pela Preserve Muriqui, em Caratinga, Região do Vale Rio Doce. 

 

Uma proposta que enquadra-se como uma das poucas chances de mudança na trajetória da espécie, principalmente, em razão da fragmentação da Mata Atlântica. O projeto ainda está sendo implementado e a demora se dá pela parte física de reflorestamento, “um trabalho demorado”, como situa Fernanda Tabacow, mas já é reconhecido oficialmente pelo governo do estado e órgãos ambientais. 

 

Mas qual o impacto da extinção da espécie? Além da perda do próprio animal, os muriquis-do-norte são como reflorestadores, espraiando sementes por vários lugares que passam, com isso, há uma manutenção das florestas.  “É como um complexo de interdependência das espécies”, explica Cláudia.

 

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Nena foi resgatada!

Nena, fêmea de Muriqui-do-norte, foi resgatada há pouco mais de um mês depois de desaparecer no final do mês de janeiro. O animal fugiu do Muriqui Instituto de Biodiversidade (Mib), na Região de Conceição do Ibitipoca.


Situações como essa não são comuns, o que fez com que todos ficassem bastante preocupados.


 

Na época, a bióloga Priscila Pereira se movimentou para encontrar o animal, que poderia se machucar ao circular sozinho. Ela revelou que Nena acabou voltando para perto do projeto, onde a resgataram. 

 

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