"Está na hora deles também se prepararem, numa época dessa, porque todo ano queima e eles ficam nessa, e deixar um caminhão pipa alugado para eles tomarem providência.” Foi com essa afirmação que o prefeito de Moeda, Décio Lapa (União Brasil), reagiu à pressão dos moradores do Condomínio Santuário, aos pés da Serra da Moeda, na Região Central de Minas Gerais, que enfrentam um incêndio de grandes proporções desde o domingo (6/10).


Em entrevista à reportagem do Estado de Minas na manhã desta terça-feira (8/10), o prefeito reeleito no domingo (6/10) sugeriu que os moradores do condomínio, por terem maior poder aquisitivo, deveriam se preparar melhor para essas ocorrências. "O Santuário lá é um loteamento super chique, caro, valorioso [sic]. É um condomínio fechado, tem portaria e tudo. E está na hora deles também se prepararem, numa época dessa, porque todo ano queima e eles ficam nessa, e deixar um caminhão pipa alugado para eles tomarem providência”, disse o prefeito, em tom de crítica.

 

 

Lapa argumenta que o município é pequeno e não tem condições financeiras de disponibilizar caminhões-pipa. "Eu sinto muito de não poder atender", disse ele, reforçando que a prefeitura tem priorizado áreas mais densamente habitadas. “A gente tem uma responsabilidade pelo município, pelas localidades, mas, também, a gente tem que dar prioridade. Como é um município pobre, que não tem situação financeira boa pra ter vários caminhões pipa, a gente tem que trabalhar com o que tem”, completou.

 




Ele mencionou ainda as limitações estruturais do município no combate a incêndios, afirmando que a cidade não possui brigadas próprias e poucos recursos, como caminhões-pipa, para lidar com a situação. Ele informou que já havia solicitado apoio ao Corpo de Bombeiros e à brigada para atuar no incêndio nas proximidades do Condomínio Santuário. "Nossa Defesa Civil foi lá de manhã, está acompanhando, mas, no momento, nós temos que cuidar do Centro da cidade", justificou.


O prefeito também destacou as dificuldades em combater o incêndio devido à altura da vegetação na área preservada da Serra da Moeda. Segundo ele, o mato está extremamente alto, o que facilita a propagação das chamas. "Pra te falar a verdade, tem que ser uma chuva de meia hora para conseguir apagar, porque o facho de capim está muito alto. Infelizmente, eu não tenho culpa de nada", afirmou. Lapa ressaltou que a situação é complicada, mas que não pode ser atribuída responsabilidade à prefeitura.

 

O chefe do Executivo municipal ainda reprovou a divulgação de áudios em que ele aparece criticando os pedidos de ajuda. "Fizeram fake news com o áudio que eu mandei", afirmou, acrescentando que o registro foi cortado de maneira desonesta, omitindo partes em que ele teria sido alvo de comentários sobre seus filhos e netos. Por meio de nota, a Prefeitura de Moeda disse que o chefe do Executivo reagiu de forma ríspida nos áudios por se sentir ofendido e "lesado de sua honra e de sua família".

 

 

Ainda de acordo com a nota, a administração esclarece que "esse tipo de combate a incêndio não deve ser realizado de qualquer maneira, sem adequada estratégia, sob pena de sacrifícios de vida e bens materiais". "No mais, esclarecemos à comunicação moedense em geral que município age preferencialmente sob orientação do Corpo de Bombeiros, autoridade competente e com expertise no combate a incêndios florestais", completa o texto. 

 

Incêndio consome Serra da Moeda


A vegetação da Serra da Moeda está em chamas desde domingo. Moradores da região relatam que o fogo se propagou rapidamente devido aos ventos e o longo período de estiagem. Até a manhã desta terça, seis militares e 13 brigadistas atuavam no combate às chamas, conforme informações do Corpo de Bombeiros.

 

Enquanto o fogo avança, os moradores, como a geógrafa Maura Bartolozzi Ferreira, do Condomínio Santuário, se sentem desamparados pelos governos municipal e estadual. Maura relatou a devastação da fauna e flora e a perda de cursos d’água que já vinham sofrendo com a seca prolongada. Ela também criticou a demora no envio de brigadas para combater as chamas.

 

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“Já houve um incêndio há quatro anos, mas a proporção desse incêndio é fora de perspectiva. É assustador. É uma visão apocalíptica”, comenta Maura, que possui propriedade no condomínio desde 2014 e mora no local há cerca de cinco anos.

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