A rede de farmácias Droga Clara é investigada por suspeita de convencer clientes vulneráveis da necessidade de comprar suplementos e fazer cartão de crédito em nome do consumidor sem autorização. A Polícia Civil de Minas Gerais cumpriu mandado de busca e apreensão no endereço dos proprietários e em quatro unidades da rede nesta segunda-feira (14/10). A empresa é investigada por irregularidades que infringem o Código de Defesa do Consumidor. 

 

 

Foram identificadas pelo menos 40 vítimas que foram lesadas em sete unidades em Belo Horizonte, com boletins de ocorrência registrados desde de 2022. Uma vez que a rede possui mais de 30 lojas somente na região metropolitana da capital, existe a possibilidade de que o número de vítimas seja muito maior. 


“Para cada consumidor eles criavam uma história, diziam que se comprassem quatro frascos o valor sairia menor e por isso precisavam fazer um cadastro. É importante ressaltar que a forma de abordagem não é sempre igual, então cada pessoa que foi à delegacia narrou uma forma de abordagem”, afirmou a delegada Elyenni Celida da Silva, da Delegacia Especializada em Investigação de Crimes Cibernéticos.

 




A investigação concluiu que existia um perfil das vítimas: pessoas sem escolaridade, que não conseguiam assinar o próprio nome, com baixa visão, acima de 70 anos, aposentados ou pensionistas. Os donos e funcionários que praticaram o golpe podem ser indiciados por constrangimento ilegal, execício irregular da medicina, estelionato e descumprimento artigos do código do consumidor.


A próxima fase da investigação é a marcação das oitivas dos envolvidos. Ao finalizar o inquérito e individualizar as condutas, o caso será encaminhado ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e ao judiciário para que sejam tomadas as providências necessárias. 

 

 


“As pessoas que se sentiram lesadas e passaram pela mesma situação podem procurar o Procon ou Juizado Especial Cível, para buscar ressarcimento e fazer o boletim de ocorrência em uma delegacia”, informa a delegada..


Abuso da boa-fé


O caso que deu início às investigações aconteceu com um idoso, de mais de 80 anos, morador de Esmeraldas. Segundo a PCMG, ele foi até uma unidade da drogaria em Belo Horizonte para comprar o medicamento para dor. Chegando lá, ele foi abordado por três funcionários que ofereceram o serviço de aferição da pressão e checagem da glicose gratuitamente.


Com os resultados, foi informado ao homem que ele estava com a saúde muito ruim, prestes a ter um ataque cardíaco. Em seguida, ofereceram o suplemento alimentar da marca própria da Droga Clara, afirmando que resolveria os problemas de saúde. Ele então foi induzido a comprar um “kit promocional” com vários frascos do produto. 

 

 

Durante o pagamento, os funcionários informaram que era preciso fazer um cadastro para ter direito ao desconto. Eles colheram os dados do senhor, assim como sua identificação biométrica e criaram um cartão de crédito sem que ele soubesse. Ele só percebeu que havia algo errado quando recebeu uma mensagem da operadora do cartão notificando uma compra de R$ 1.200, valor superior ao que haviam dito na drogaria.


“Ele se sentiu extremamente lesado, pois não sabia que ele tinha aderido a um cartão de crédito, que ele não queria, e o valor absurdo desse suplemento”, relata a delegada.


O idoso então procurou a Câmara Municipal de Esmeraldas, onde mora, e foi direcionado para fazer uma queixa no Procon em Belo Horizonte, onde o fato aconteceu. Com isso, o Departamento Estadual de Combate a Corrupção e a Fraudes iniciou uma investigação que levou à localização de cerca de 40 outros boletins de ocorrência com relatos semelhantes envolvendo a rede Droga Clara.


Troca de receita


Outro caso aconteceu com uma senhora que tinha baixa visão. Ela foi à farmácia com uma receita, mas os funcionários deram o suplemento da marca própria no lugar dos medicamentos. Ao falar com sua médica, a mulher descobriu que havia caído em um golpe.


Ela tentou trocar os frascos de suplemento que ainda não tinham sido abertos, mas foi tratada com grosseria, xingamentos e ameaças de negativação do nome em órgãos como Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e Serasa.


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