Nas plataformas sociais, vídeos escancaram a quantidade de peixes mortos nas margens do Rio das Velhas nesse sábado (12/10) e domingo (13/10), na altura de Sabará, na Grande BH. Esse fenômeno – conhecido como mortandade de peixes – é um mal comum nesta época do ano, mas a situação é maximizada por causa de queimadas e do longo período de estiagem.

 


Segundo Carlos Mascarenhas, biólogo e pesquisador do NuVelhas - Projeto Manuelzão, a chuva leva para o rio a poluição, agrotóxicos, rejeitos e, em especial neste ano, muitas cinzas, todos acumulados durante o período sem precipitações.




 

Os contaminantes e poluentes no solo, seja em área rural ou urbana, são levados para o leito do rio. Conforme o especialista, se trata de uma causa aguda pelo alto volume de materiais carregados em tão pouco tempo.


As primeiras chuvas após longos períodos de seca são sempre mais prejudiciais aos cursos d’águas. Carlos destaca que uma das soluções a longo prazo para a situação seria, justamente, a interceptação delas, já que carregam um maior volume de poluição. Ele entende que o tratamento desse volume extra, para além do esgoto, é difícil, mas nada que não possa ser pensado. “É importante saber para onde caminhamos”, diz.

 


Outro motivo das mortes, ainda segundo Mascarenhas, é o passivo ambiental do sedimento depositado no leito do rio.


“Todo esse volume expressivo de matéria orgânica e poluentes acumulados durante décadas, até o início de operação das ETEs [Estações de Tratamento de Esgoto na Grande BH], acaba sendo revolvido e transportado para outras áreas, modificando as características do ambiente aquático”, explicou.


O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH do Rio das Velhas) monitora a situação e se articula pela proteção do rio. Segundo ele, o fenômeno envolveu as cidades de Sabará, Baldim, Jequitibá e Santana de Pirapama, na região do Médio Rio das Velhas.

 


A presidente do CBH, Poliana Valgas, descreve a situação como sistêmica e complexa e destaca que o tratamento dos esgotos nos municípios da bacia deve ser priorizado, a fim de conter a poluição difusa, garantir a permanência dos peixes e melhorar a qualidade da água. 


“Temos uma bacia com 51 municípios e mais de 800 km de calha de rio que recebem contribuição de poluentes dos centros urbanos as áreas rurais da bacia. Essa situação recorrente traz sempre uma preocupação de todos nós e um clamor, principalmente dos ribeirinhos, pescadores e de quem vive ali do lado do rio”, afirma.


Mascarenhas diz que paira certa frustração sobre os moradores a respeito da morte dos peixes: "Toda vez é a mesma coisa”.


O motivo mais compartilhado sobre a morte dos peixes é a redução do oxigênio na água, o que não deixa de ser uma das causas, segundo o biólogo. Mas não explica tudo. “Definição de causas não são de uma hora para outra, dependemos de recursos, seja financeiro, técnico ou logístico”. Porém, como confirmou Carlos, o acúmulo neste ano foi muito maior do que em outros. Ele destaca novamente a estiagem e queimadas como grandes provocadores.

 


Existem soluções?


Rios que já foram aptos para lazer, hoje são relembrados pelos avós de uma geração que não vivencia o local. Conforme explica o professor, a solução a curto prazo é a resposta de milhões de reais. No entanto, a insistência em comportamentos socioambientais deve permanecer como prioridade.


“A melhoria do volume de esgoto tratado e a eficiência desses tratamentos são indispensáveis, além da conscientização de empresas do setor da indústria, mineração e agropecuária. Precisamos de técnicas, parâmetros e modos de operação menos nocivos. O que é feito não é suficiente”, arremata.


A longo prazo, além da interceptação da água das primeiras chuvas após o período de estiagem, o tratamento do esgoto até o sistema terciário é ressaltado pelo pesquisador, que o define como um grande salto na qualidade da água. 

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata

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