Minas Gerais dá um importante passo para conquistar mais um título mundial, graças ao seu rico patrimônio natural. Foi iniciada nessa sexta-feira (19/10) a vistoria técnica pelo cientista português José Bernardes Rodrigues Brilha ao conjunto do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, entre os municípios de Januária e Itacarambi, no Norte de Minas. A inspeção “in loco” é a penúltima etapa do processo de reconhecimento do conjunto de sítios arqueológicos do Peruaçu como Patrimônio Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).


O Parque Nacional do Peruaçu é um dos patrimônios naturais mais importantes do Brasil e do mundo. A área de conservação está aberta à visitação ao público, com trilhas demarcadas e estruturadas que podem ser percorridas acompanhadas de condutores contratados. Também possui centro de visitantes e um museu interativo. Ao seu redor existe ampla infraestrutura de apoio aos visitantes como pousadas, restaurantes e lugares inusitados para serem visitados, como as praias de água doce do Rio São Francisco.

 




A mobilização para o reconhecimento do acervo de sítios arqueológicos como patrimônio natural da humanidade foi iniciada há cerca de 10 anos.

 


A vistoria pelo representante da Unesco na região do Vale do Peruaçu, que prossegue até a próxima terça-feira, é acompanhada por uma equipe do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, coordenada pelo técnico Bernardo Issa de Souza. Além de inspecionar a área, o cientista português terá reuniões técnicas com prefeitos e secretários municipais de turismo e meio ambiente dos municípios do entorno do parque – Januária, Itacarambi e São João das Missões.

 

 


José Brilha é graduado em Geologia pela Universidade de Coimbra, com doutorado pela universidade portuguesa do Minho e pela universidade francesa de Poiteis. Atualmente, é professor da Escola de Ciências da Universidade do Minho e diretor do Centro de Ciências da Terra.


A inspeção foi marcada depois que, no início deste ano, o governo brasileiro oficializou junto à Unesco a candidatura do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu ao tombamento pelo órgão da ONU, com protocolo de um dossiê, uma espécie de relatório documental detalhado para o cumprimento das exigentes normas para o reconhecimento como Patrimônio Natural da Humanidade.


O espeleólogo Leonardo Giunco, membro do Conselho Consultivo do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e também coordenador local da campanha da candidatura do parque a Patrimônio Natural da Humanidade, destaca que a vistoria técnica compreende um salto para que o conjunto de sítios arqueológicos venha a receber o título internacional.


Ele explica que, após a inspeção “in loco”, o cientista José Brilha vai elaborar um relatório sobre o que levantou. O documento será enviado para a reunião plenária da Unesco, a ser realizada até julho de 2025. Nessa sessão plenária, com base no relatório, os representantes dos países membros do órgão da ONU vão votar pela aprovação ou não da concessão do título de Patrimônio Natural Mundial ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu.

 

Títulos em Minas e no Brasil


Até então, Minas Gerais conta com quatro bens tombados como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco: os conjuntos históricos de Ouro Preto e Diamantina, o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos (com as estátuas dos 12 profetas esculpidas por Aleijadinho), em Congonhas; e o Conjunto Moderno da Pampulha, que compreende a Igrejinha de São Francisco, o Iate Tênis Clube, Museu de Arte da Pampulha (antigo cassino), Casa do Baile e o espelho d’água da lagoa, em Belo Horizonte.


O Brasil conta, até então, com oito locais e atrativos reconhecidos como Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco: Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (MA), Pantanal (MS), Amazônia Central (AM), Ilhas Atlânticas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas (PE), Parque Nacional do Iguaçu (PR), Complexo da Chapada dos Veadeiros (GO), Vale do Ribeira (SP) e a Costa do Descobrimento (BA).

 


Escavações e descobertas


Entre as décadas de 1970 e 1990, arqueólogos liderados pelo professor André Prous, da UFMG, fizeram uma série de escavações no Vale do Peruaçu. Foram encontrados vestígios de ocupação há 12.070 anos, datação mais antiga do estado de Minas Gerais e aceita internacionalmente. A UFMG, em parceria com a Embrapa e a Universidade de São Paulo (USP), retomou as escavações em 2021, sob coordenação da professora Maria Jacqueline Rodet, do Departamento de Antropologia e Arqueologia da Fafich. E há novas descobertas, relacionadas à passagem de grupos entre 2 e 3 mil anos atrás. As escavações estão concentradas, atualmente, no Abrigo do Malhador, área protegida por um paredão de pedra de cerca de 100 metros de comprimento, 30 de altura e largura de 6 a 10 metros.

 

Todas as belezas do Parque Nacional

 

Situado entre os municípios de Januária e Itacarambi, no Norte de Minas, a 662 quilômetros de Belo Horizonte, o Parque Nacional do Peruaçu é um dos patrimônios naturais mais importantes do Brasil e do mundo, com vestígios de ocupação humana que datam de 12 mil anos. Compreende um conjunto de sítios arqueológicos, com mais de 180 cavernas e grutas reconhecidas. A área total do parque é de 156 mil hectares. Confira os principais atrativos do Peruaçu:

 

 

Gruta do Janelão

Manoel Freitas/Divulgação

 

Gruta do Janelão

 

A Gruta do Janelão é o cartão postal do Cavernas do Peruaçu. Já em sua entrada há um ateliê a céu aberto, com coloridas pinturas rupestres que indicam ter até 9 mil anos. Em sua galeria principal, a altura e largura chegam a 100 metros – caberia até um avião lá embaixo. Tem vegetação e até o Rio Peruaçu cortando a trilha no interior da gruta. Ali também está a dona do título de maior estalactite do mundo, a Perna da Bailarina, com 28 metros, 10 metros a menos do que a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.

 

Caminho da Lapa Bonita e Lapa do Índio

ICMBio/Divulgação

 

Caminho da Lapa Bonita e Lapa do Índio

 

A Lapa Bonita (foto) é uma de suas mais belas e ornamentadas grutas, com um salão avermelhado, o Salão Vermelho. A Lapa do Índio possui painéis de pinturas rupestres que cobrem paredes inteiras e até mesmo o teto. Da Lapa do Índio também é possível apreciar o Mirante do Índio, em que se pode ver a abertura da Gruta do Janelão.

 

Caminho da Lapa do Boquete

Manoel Freitas/Divulgação

 

Caminho da Lapa do Boquete

 

Um dos principais e mais estudados sítios arqueológicos do Parque Cavernas do Peruaçu é a Lapa do Boquete. Nela, foram encontrados alguns sepultamentos e é possível verificar a presença de um silo pré-histórico – estrutura de armazenamento de alimentos.

 

Caminho da Lapa do Rezar

ICMBio/Divulgação


Caminho da Lapa do Rezar


A Lapa do Rezar une a grandiosidade do cânion do Rio Peruaçu à riqueza da arte rupestre pré-histórica. Abriga um sítio rupestre com pinturas e gravuras bem conservadas. Destacam-se também as dimensões de seu salão de entrada, que alcança 90 metros de largura e mais de 40 metros de altura. Apesar de recompensador, trata-se de um dos atrativos que mais exigem esforço físico, com mais de 500 degraus.

Caminhos da Lapa do Caboclo e do Carlúcio

ICMBio/Divulgação

 


Caminhos da Lapa do Caboclo e do Carlúcio


O paredão de pinturas rupestres da Lapa do Caboclo possui uma grande concentração de pinturas do estilo caboclo, exclusivas do Vale do Peruaçu. No caminho da Lapa do Carlúcio (foto) existem mirantes onde é possível observar a beleza de variações da vegetação da região. A trilha segue pela mata até o início da Gruta do Carlúcio, contornando as rochas do desabamento do teto da caverna.

 

 

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Caminho da Lapa dos Desenhos


Na Lapa dos Desenhos pode ser observada toda a riqueza das pinturas rupestres do Parque Cavernas do Peruaçu. A trilha margeia o Rio Peruaçu ao longo de uma área deslumbrante de mata da região.

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