Os acidentes causados por excesso de velocidade na Grande BH foram mais brutais, com taxa de mortalidade 49% superior às demais causas que levaram a desastres nas estradas federais da região. Um índice que está se agravando. É o que mostra um levantamento da reportagem do Estado de Minas sobre ocorrências da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e de imprudência comprovada pelo uso de um radar de velocidade nos trechos mais críticos.

 

Entre 2013 e 2023, foram 32.532 acidentes na capital e municípios metropolitanos, com 1.207 mortes. Ou seja, a cada 26,9 acidentes uma pessoa morre (3,72%). Já nas ocorrências ocasionadas pelo excesso de velocidade, os 5.399 desastres deixaram 298 óbitos, ou um morto a cada 18,1 ocorrências (5,52%). Em 2024, até agosto, as estatísticas pioraram. Os 1.406 acidentes com 68 mortos ampliaram a possibilidade de morte em uma para uma a cada 20,6 (4,85%), enquanto os 132 casos de alta velocidade deixaram oito óbitos, razão de um a cada 16,5 acidentes (6,06%).

 

 

Os tipos de acidentes com mortes na Grande BH também dizem muito sobre os efeitos do excesso de velocidade na condução dos veículos, entre 2013 e 2023, nas vias federais. Não conseguir manter-se na pista foi a forma que mais desastres atrelados à velocidade incompatível com a via ocorreram. Destes, 42 foram saídas de pista, com 56 óbitos e 92 feridos. Em seguida, as colisões frontais, quando um carro sai da pista e bate de frente contra outro. Foram 29, deixando 44 mortos e 57 feridos. As batidas traseiras tiveram 27 ocorrências, 29 óbitos e 42 pessoas com ferimentos. Já os capotamentos ocorreram 23 vezes pela alta velocidade, tirando a vida de 27 pessoas e causando 19 feridos.


PISANDO FUNDO

Os números mais elevados de desastres causados pela alta velocidade ocorreram na estrada de maior tráfego da Grande BH, a BR-381 (Fernão Dias), entre a Serra de Igarapé e a Baixada de Itatiaiuçu. O campeão de acidentes por esse motivo é o KM 533, no Distrito de Santa Terezinha de Minas, pertencente a Itatiaiuçu, trecho de pista reta e duplicada após descida e com curvas fechadas após os segmentos retos. Vários acessos e trevos fazem com que o ingresso de caminhões e carros mais lentos das comunidades, das fazendas e das empresas locais muitas vezes obrigue quem já está na rodovia a reduzir e desviar. Um ponto de ônibus bem no início de uma descida em curva fechada também obriga os ônibus a reduzir para atender aos passageiros de linhas metropolitanas e de Itaguara, Itaúna e Crucilândia.



Só neste segmento de mil metros, onde o limite dos carros é de 80 km/h e dos veículos pesados de 60 km/h, a PRF registrou 191 acidentes causados pelo excesso de velocidade, entre 2013 e 2023. O maior índice das estradas federais da Grande BH e que resultou em uma morte e em 152 feridos. Com um radar de velocidade, a reportagem do EM registrou inúmeros casos de motoristas acima dos limites. Uma picape escura chegou a marcar 114 km/h faltando apenas cerca de 130 metros para o início da curva fechada à frente, 42% acima da velocidade permitida pelo trecho. Outros dois carros, um sedan e outro hatchback, também excederam a velocidade em mesmo patamar, os dois chegando a marcar 112 km/h no mesmo ponto que fica a 130 metros do início da curva, uma velocidade que corresponde a 40% acima da tolerância de segurança.


Esse, apesar do grande número de acidentes, não é o ponto da BR-381 onde a alta velocidade deixou mais mortos na Grande BH. O local mais mortal da Fernão Dias na região é o KM 525, em Brumadinho, a sequência de curvas fortes da descida da Serra de Igarapé onde sete torcedores do Corinthians acabaram morrendo e 27 se feriram, em 20 de agosto de 2023, depois que o ônibus em que estavam saiu da pista em uma forte curva, bateu em um barranco e tombou deslizando pelo asfalto. Nesse mesmo trecho, a alta velocidade já registrou 18 acidentes com 9 pessoas mortas, entre 2013 e 2023.

 

Em trecho considerado perigoso na BR-262, altura de Juatuba, motorista de caminhão perdeu a vida

REPRODUÇÃO

 

ENCARANDO AS CURVAS


Imprudência em forma de pés afundando os aceleradores também resultaram em tragédias na BR-262. Um dos trechos com mais acidentes devido à alta velocidade nas rodovias federais da Grande BH é o KM 380, na Serra de Boa Vista, em Juatuba. De acordo com os dados levantados pelo EM, entre 2013 e 2023, o trecho sinuoso com fortes descidas registrou 68 acidentes, dois mortos e 56 feridos no período. Contudo, já em 2024 ocorreram mais acidentes graves nesse mesmo segmento. Na manhã do dia 2 de outubro, uma carreta passou direto na curva, destruiu a mureta de proteção do sentido Belo Horizonte e capotou no sentido oposto. A passageira teve fraturas nos braços e pernas, mas o condutor foi ejetado do veículo de carga para o asfalto e morreu.

 

 

A mulher gravemente ferida estava presa às ferragens da cabine e precisou de socorro para ser libertada. Ela foi atendida e levada para cuidados hospitalares pelo helicóptero Arcanjo do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG). O trânsito ficou retido por 4 horas nos dois sentidos, devido à carreta estar atravessada.

 

Nesse mesmo trecho de estrada duplicada, a reportagem flagrou muitos veículos descendo pelo mesmo sentido sem sequer reduzir, mesmo tendo diante de si as curvas muito fechadas e o visual da serra com seus abismos. Várias placas alertam para cuidado com o trecho montanhoso e limitam a velocidade a 60 km/h, mas nem mesmo a sequência de quatro radares de controle de velocidade parece frear o ímpeto dos motoristas imprudentes.

 

O veículo mais veloz foi uma caminhonete branca, que parecia disputar corrida com um carro de passeio. A caminhonete passou a 110 km/h e seus pneus chegaram a ranger um ruído alto dando a impressão que derrapariam passando reto na primeira curva, mas cumpriu essa e a seguinte, desaparecendo atrás das montanhas.

 

 

Mas esse não é o segmento mais mortal da BR-262 devido à alta velocidade. Com quatro acidentes e quatro mortes na última década, o trecho de mil metros mais violento é o KM 363, também em Juatuba, uma forte descida em reta com pista duplicada próximo à Usina Termelétrica de Igarapé.

 

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No caso da BR-040, o trecho com mais acidentes fica próximo às Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas), também trecho de pista dupla e monitorado por radares, onde a velocidade máxima é de 80 km/h, mas que já registrou na última década 25 acidentes devido ao excesso de velocidade, uma morte e 25 feridos. Os segmentos mais mortais, no entanto, cada um com o registro de três acidentes e três óbitos são o KM 517 (Ribeirão das Neves), KM 522 (Contagem) e KM 566 (Nova Lima).

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